terça-feira, 29 de julho de 2008

60. (FINAL ALTERNATIVO)

Caminhavam lentamente recebendo na face todo o fresco ar que banhava aquela noite de Verão.
- Sabes – começou Luís – estes dias têm sido mesmo perfeitos. Sem zangas, nem discussões.
- Pois, quem me dera ter sido assim no principio.
- Ai, o princípio... – disse ele, pensativo.
- Ainda te lembras? Nem nos conhecíamos. Até ao dia em que foste contra mim, lembras-te? – perguntou Joana, entrando também no espírito de recordações.
- Claro, como poderia eu esquecer... Foi a melhor coisa que me aconteceu. – revelou.
- Não foi nada, não digas disparates! – indagou Joana, brincando.
Luís parou e ficou com uma cara muito séria, desmanchando-se a rir em seguida. Joana também fez o mesmo. Naquele momento de descontracção, ele aproximou-se dela.
- Olha, olha – disse ela, continuando na brincadeira – tu também já estás ébrio como o teu amigo?
Luís riu-se, virando inconscientemente a cara para o lado o que levou uma madeixa mais clara do seu cabelo a cair-lhe sobre os olhos. Mecanicamente levantou a mão e afastou-a num gesto singular. Joana assistia maravilhada. Ele fica mesmo bem quando se arranja, pensava.
- Ébrio? Mas queres palavras caras, é? – questionou Luís, rindo-se.
- Qual caras! Ébrio é alcoolizado. Até parece que não sabias. – respondeu ela.
- Pois não, sou um leigo!
- Então mas afinal quem é que está com palavras caras? – ironizou Joana.
- Isto ainda não é nada. Conceder-me-ia no dia posterior o deleite da sua companhia para uma breve deambulação por essas áleas desta metrópole? – questionou ele.
Joana continuou a fitá-lo como se ele tivesse falado noutra língua.
- Desculpa? – gaguejou, piscando os olhos.
- Perguntei se amanhã queres ir passear pelas ruas desta cidade. – esclareceu, rindo-se, mas questionando verdadeiramente.
Ela riu-se ligeiramente. Luís também disfarçou o nervoso miudinho com um riso supérfluo.
- Até parece que me estás a convidar para um encontro. – exclamou ela, desvalorizando a situção.
Perante o silêncio e baixar de olhar do amigo, ela percebeu que era exactamente para isso que ele a convidara. Joana estacou e fitou Luís com uma expressão indecifrável. Afinal, apesar da brincadeira, esta pergunta era a sério. Não soube muito bem porquê mas o seu pequeno coração começou a bater mais rápido.
- Mas só nós dois? – perguntou, receosa.
- Era essa a ideia. – respondeu Luís, também timidamente.
Na mente da rapariga apenas pairava uma lembrança: o que acontecera na cozinha. Apesar de já ter passado algum tempo, Joana ainda se lembrava claramente do quase beijo.
- Joana? – chamou.
- Ah, sim?
- Então, não dizes nada? – murmurou ele, com medo de interromper algum pensamento
Vá Joana, responde, dizia ela para si mesma. Do que é que estás à espera? É a tua oportunidade...
- Ah... Amanhã, não é? – perguntou ela.
- Sim... Se já tiveres coisas combinadas diz, não faz mal...
- Não, não... não tenho nada combinado. – informou, sem firmeza na voz.
- Então isso quer dizer que aceitas? – ultimou Luís.
- Sim, pode ser. Já chegámos. – anunciou ela, parando defronte da porta da sua moradia.
- E eu vou-me já embora antes que mudes de ideias! Amanhã, no café às nove da manhã?
- Ok.
Depois dos habituais dois beijinhos, Luís recomeçou o caminho para casa, bastante mais alegre. Joana ficou a vê-lo até o perder de vista. Porém, antes de ele cruzar a esquina, gritou:
- Amanhã não te esqueças de mim!
- Nunca! – assegurou Luís.

A manhã seguinte chegou rapidamente para Joana. Já estava a pé há algumas horas. Tinha percorrido mais vezes o quarto naquele dia do que em toda a sua existência. Em parte, o seu nervosismo prendia-se com o encontro que ia ter dali a umas horas; em parte com a chegada de Leonor à Alemanha. Olhou para o relógio e fez as contas de cabeça. Se ainda não aterrou, deve estar a aterrar, pensou. Não sabia qual ia ser a reacção de Bill mas também não sabia se queria mesmo saber. Varrendo rapidamente aquele pensamento da sua memória, abriu a gaveta para escolher a roupa. Pela primeira vez, não se deparou com o passaporte e as suas douradas a mirá-la. Sentiu um arrepio mas não soube até que ponto é que isso não seria satisfatório.

Em cima da cama estava quase todo o seu guarda-roupa. Luís vestia e despia camisas e t-shirts sem saber o que vestir. Não podia ligar a Nuno porque sabia que devia estar a dormir nas próximas 24 horas. Tinha que confiar no seu bom gosto e lembrar-se dos conselhos do amigo. Escolheu uma camisa branca e umas calças de ganga. Desapertou o primeiro botão da camisa e colocou a corrente ao pescoço. Deu duas borrifadelas de perfume e mirou-se ao espelho. Tinha feito o seu melhor, pensou para consigo mesmo.
Sentou-se na cama e ligou a televisão. Àquela hora só estava a dar desenhos animados. Ali ficou, à espera que o tempo passasse.

Leonor punha-se em cima de um banco para tentar descobrir alguém suficientemente alto e mal-encarado para corresponder à descrição do segurança que Georg lhe tinha dado. Rapidamente desceu do seu posto de observação quando um homem corpulento e vestido de negro se aproximou.
- Mädchen Leonor? (Menina Leonor?) – disse no seu melhor sotaque.
Ela anuiu e seguiu o sinal dele. Desceram para a garagem e, mal avistou ao longe uma carrinha preta de vidros escuros, Leonor desatou a correr, não querendo saber se alguém os via. A sua sorte era que ninguém parecia importado com uma rapariga maluca a correr por ali.
Georg tinha saltado da carrinha e abraçado a sua namorada com tanta força que as lágrimas lhe vieram aos olhos. Seguidamente, juras de amor e beijos foram trocados, num batalha de palavras sem fim. Demoraram alguns largos minutos até se recomporem e entrarem na carrinha. Sentaram-se um ao lado do outro, sempre de mãos dadas. Só se alargaram quando ela sentiu o telemóvel vibrar na mala.
- Sim? – disse.
“Leonor. Já chegaste?” – disse a voz de Bia do outro lado da linha.
- Agora mesmo. Já estou aqui com o Georg.
“Manda beijinhos para todos e diz que eu os quero para um concerto em Portugal rapidamente. Eles não pensem que raptam assim a minha amiga e se ficam a rir!”
Leonor riu-se e disse ao namorado o que a amiga havia imperado.
- Já disse. Eu devo ter cara de correio. Só sirvo para transportar mensagens. – brincou.
“Não sejas fina. Só pedi para lhes dizeres isso, mais nada.”
- Não é isso. É que a Joana também me pediu para dar uma coisa ao Bill. – informou.
Aquela frase despertou todos os sentidos de Bia. Depois de um silêncio avassalador, disse:
“O quê? Que envelope? O que é que tem o envelope?”
- Não sei, está fechado. Eu achei que não era nada de mal, afinal o que é que cabe dentro de um envelope?
Mas rapidamente se apercebeu que tinha sido parva em não perguntar a Joana o que é que ia lá dentro ou até mesmo de o abrir. Disse a Bia que agora já não o podia fazer pois já estava acompanhada. Bia não teve outro remédio que desligar e aventurar-se na descoberta.
Vestiu-se rapidamente e partiu para casa de Joana. No caminho ligou a Luís que lhe disse que tinha combinado Às nova que Joana mas quem ela ainda não tinha chegado. Os ponteiros do relógio que marcavam nove e vinte só serviram para deixar ambos mais nervosos. Talvez estivesse em casa, atrasada, pensou Bia.
- Olá! A Joana está? – perguntou à mãe dela, depois de esta lhe abrir a porta.
- Olá, querida. Não, ela saiu há uma meia hora. Disse que ia ter com um amigo. Está tudo bem? – disse, algo preocupada.
- Sim, sim... Eu é que não sabia que ela hoje ia sair. – mentiu.
Despediu-se amavelmente da mãe de Joana e afastou-se, fingindo estar despreocupada. Quando saiu do campo de visão da senhora, tirou o telemóvel do bolso e marcou insistentemente o número. Ao fim de algumas chamadas falhadas não se deu por vencida. Remarcou e voltou a ouvir aquele sinal de chamada vezes sem conta. Por fim...
“Estou?”
- Jô! – quase gritou.
“O que se passa?” – respondeu a amiga.
- Isso pergunto eu! A tua mãe disse que já saíste de casa há algum tempo e o Luís diz que ainda não chegaste. Onde é que andas? – perguntou explosivamente.
“Acalma-te. Eu só vim dar uma volta a um sítio e atrasei-me sem querer. Já estou a ir ter com o Luís. Eu já sou maior de idade, sei tomar conta de mim.”
Bia sentiu-se um bocado envergonhada por fazer uma marcação tão cerrada.
- Desculpa. Mas é que... Pronto eu conto. A Leonor disse que tu enviaste uma coisa ao Bill... Oh Joana se tu estiveres outra vez mal, podes contar-me. Eu sou tua amiga... – desabafou, libertando finalmente a angústia que sentia presa dentro do peito.
“Queres saber o que é que estava dentro do envelope? O passaporte dele. Devolvi-lhe o passaporte para poder continuar com a minha vida. Para poder acordar todos os dias e não ter de ver aquilo. Juntamente escrevi uma carta a dizer que percebi que já tinha acabado tudo e que nunca poderíamos ter mais que aquilo que tivemos. Já acabou, Bia. Foi isso que eu lhe disse.”
A amiga teve vontade de chorar. Como pôde ser tão estúpida e desconfiar de Joana que ultimamente não lhe tinha dado motivos para duvidar?
- Oh, Jô... Desculpa, fui tão parva... – pediu ela.
“Tem calma, eu percebo. Vá agora estou a chegar junto do Luís. Podes ligar-lhe para teres a certeza.” – ironizou, rindo-se no final.
- Não. Eu confio em ti. Ah... Bom encontro. – desejou Bia.

Bill acabava de ler a carta e voltava a colocá-la dentro do envelope. Leonor observava cada movimento na ânsia de ter algum sinal que lhe permitisse saber o que se passava.
- What did she say? (O que é que ela disse?) – perguntou sem se conter mais.
- You can read... (Podes ler...) – autorizou Bill, puxando dum cigarro e fitando o fumo que expelia pela boca como se fosse a coisa mais importante do mundo.
Leonor pegou imediatamente no envelope e abriu. Já tinha reparado no passaporte mas o seu interesse prendia-se mais com a carta da amiga. Leu para si.
“Dear Bill: I know you must be really confused about me having your passport. The truth is that it hasn’t been with me all this time. It doesn’t matter who had it, I wasn’t the one who took it from you. I didn’t say anything before because I thought I had nothing to say. The reason why I gave you back the passport is simple: I’m finally understanding that what we had is over. I need to move on with my life and that’s what I will do. I belong here, with my friends. I always had. I won’t try to forget you: I know I can’t. You’ll be forever in my thoughts, in my body. I can’t and I don’t want to erase what we had. I see it like a good moment that’s over. I’m not angry with you. As a matter of fact, I should be thankful for the time we spent together. I wish all the best for you and for the band. Now I understand that we couldn’t have been more than friends; after all, your world is different from mine.” (Querido Bill, eu sei que deves estar mesmo confuso sobre eu ter o teu passaporte. A verdade é que nem sempre o tive comigo o tempo todo. Não importa quem o tinha, não fui que quem to tirou. Não disse nada antes porque achei que não havia nada para dizer. A razão pela qual eu te devolvo o passaporte é simples: eu finalmente percebi que o que tivemos acabou. Preciso de continuar com a mina vida e é isso que vou fazer. Eu pertenço aqui, com os meus amigos. Sempre pertenci. Não vou tentar esquecer-te: sei que não consigo. Vais estar sempre nos meus pensamentos, no meu corpo. Não consigo nem quero apagar o que tivemos. Vejo isso como um momento bom que acabou. Não estou zangada contigo. Aliás, eu devia estar grata pelo tempo que passámos juntos. Desejo o melhor para ti e para a banda. Agora eu percebo que nunca poderíamos ter sido mais que amigos: o teu mundo é diferente do meu.”
Bill tinha estado a observar Leonor pelo canto do olho. Pela sua expressão, percebeu quando ela tinha chegado ao fim. Apesar de já ter lido, quando ela acabou a carta, foi como se a sensação de vazio se apoderasse novamente dele e o obrigasse a derramar aquela lágrima que lhe borrou a cara.
Leonor voltou a guardar a missiva e encarou Bill. Pelo meio do fumo proveniente do cigarro, ela descobriu a única lágrima de Bill, que reflectia descaradamente a luz da sala e que lhe denunciava os sentimentos mais profundos.
- You like her, don’t you? (Gostas dela, não gostas?) – inquiriu Leonor.
- Does it matter? (Isso importa?) – retornou ele, com um olhar triste e vago.
- Bill...
- Do you know why I didn’t ask her to come with me the first time we were in Portugal? (Sabes porque é que eu não lhe pedi para vir comigo da primeira vez que tivemos em Portugal?) – atirou ele, pensativo.
- No... (Não...) – respondeu Leonor, tentando-se lembrar do momento referido.
- Because I didn’t know if she would have come. I remember that she was in my room the day we left. If she had said something... If she had done something... A simple word, a sinal... Anything. (Porque eu não sabia se ela teria vindo. Eu lembro-me que ela esteve no meu quarto no dia em que viemos embora. Se ela tivesse dito alguma coisa... Se ela tivesse feito alguma coisa... Uma simples palavra, um sinal... Qualquer coisa.) – declarou, apagando o cigarro melancolicamente.
- Bill.. I’m so sorry... (Bill... Lamento imenso...) – contemplou Leonor, sem saber o que dizer.
Afinal ele gostava dela e agora mais ninguém ia saber disso. Não conseguiu não deixar de sentir pena por aquele corpo perdido que se encontrava deitado no sofá numa posição desconfortável e abandonada.

- Luís! Luís, aqui! – chamou ela, guardando o telemóvel no bolso.
Ele aproximou-se rapidamente. Estava nervoso e tinha ficado ainda pior depois do telefonema de Bia. Mas agora que ela estava ali, nada mais importava.
- Olá.
- Desculpa o atraso. – pediu ela.
- Não faz mal. Toma. Já está um bocado derretido, desculpa. – disse ele, estendendo um gelado de morango.
- Oh... Obrigada.
Joana aceitou o gelado. Luís já tinha comido o dele para evitar que derretesse mais. Começaram a andar pela rua fora, sem destino. Joana devorava avidamente a sobremesa.
- Então... Está tudo bem? – perguntou Luís, tentado parecer natural.
- Já sabes do envelope, não é? – questionou directamente.
- Ele não teve outro remédio que anuir e confirmar a suspeita quase certa dela. Joana apressou-se a contar-lhe o que dizia a missiva, tal como fez com Bia.
- Então está mesmo tudo bem? – inquiriu.
- Sim. – assegurou Joana.
O gelado tinha acabado e ela limpava lentamente a boca. Enquanto se afastou para deitar no lixo o papel, Luís ganhou coragem para dizer o que lhe ia na alma.
- Ah... Joana. Independentemente do que aconteceu, eu sempre gostei muito de ti. Não gostei do que aquele, ah... rapaz, te fez. Com o tempo, eu fui percebendo que gostava cada vez mais de ti e que ficava triste por enveredares por caminhos prejudiciais. O que eu quero dizer, é que eu gosto mesmo de ti. Como algo mais que amiga.
Luís tinha baixado a cabeça e acabado a frase quase em surdina. Joana estava sensibilizada e confortada com aquelas palavras. Sabia que eram puramente verdadeiras e ditas por alguém que sempre estivera com ela. Foi por isso que levantou levemente a cabeça de Luís, ficando a olhar directamente nos seus olhos. Aproximou-se o suficiente, como se tinham aproximado há tempos atrás, na cozinha. Porém, Luís parou; não queria obrigá-la a nada.
- Jô, eu não... – ia ele a começar, sendo interrompido pela acção dela.
Joana tinha colado os seus lábios ao de Luís e saboreava aquele momento, absorvendo cada segundo como se fosse a sua essência de vida. Luís sentiu nos lábios aquele sabor de morango que nunca mais queria abandonar. Colocou lentamente a mão nas costas dela e puxou-a para si.
Na cabeça de Joana, apenas um pensamento pairava:
“Tu sabes o que estás a fazer.”

The end.

6 comentários:

Anónimo disse...

Acho que o final oficial se encaixou melhor na história.Em qualquer filme ou fic,com certeza o final alternativo seria o mais bem aprovado e escolhido para ser o oficial na fic,mas é por isso que gostei mais do original :)
porém,queria que bill e joana se falassem,nem se como apenas amigos (mas ai,não ficaria tão bonito)

Anónimo disse...

gostei ;)



mas o original esta mesmo muito melhor...

Anónimo disse...

apesar d ser um final alternativo, está muito bom...

a joana passou por tanta coisa por causa do bill q achei bem q ele tb sofresse 1 bocadinho lol

tens mm mt jeito pa escrever rapariga! consegues prender qualquer pessoa ao q escreves!!

=D

Elisabete disse...

Caras leitoras e leitores,

Não se esqueçam que ainda falta o último final alternativo, a ser publicado amanhã ou depois.

Só um pequeno esclarecimento: os finais não estão interligados. Por exemplo, se num final uma personagem gostar de outra, não quer dizer que no outro final se verifique o mesmo.
Já devem ter reparado que ambos começam da mesma forma porque tudo depende da Joana. O que eu queria mostrar era as três vertentes possíveis: ela ficar sozinha, com o Luís ou com o Bill (sim, o próximo é com o Bill).

O importante é: para lerem um final, têm de esquecer o outro, assumir uma nova postura.

Voltarei a dar notícias em breve,
Elisabete.

Unknown disse...

Bem, não gosto mt quando os protagonistas n acabam felizes e contentes (LOOL) por isso acho que prefiro este final, mas tenho a certeza que o meu favorito vai ser o proximo =D mas inda bem que o Bill sofre um bocadinho xD

Escreves mm bem =)

Anónimo disse...

amei este final... MAS:

fico à espera do especial para mim q satisfaça todas as minhas exigências!

Morram d inveja meninas... pq eu tenhu direito a pedir um final só pa mim!! ahahaha

Quem pode pode...

ThE mEaNeSt*