sexta-feira, 25 de julho de 2008

59. A BEBEDEIRA

- Mãe, eu já venho. Vou só tomar um café com o Luís. – gritou.
- Joana! – retornou uma voz vinda da cozinha.
- O que foi? – perguntou ela, detendo-se com a mão na porta.
- Onde é que vais? – perguntou-lhe a mãe.
- Só vou ao café. Tem calma, já sou crescida.
Rendida àquela frase, a mãe de Joana não teve outro remédio que deixá-la ir. No entanto esperou até ver a filha a cruzar a esquina; depois deu-lhe um aperto no coração.
Joana ia ter com Luís que já estava à espera dela no café. Estava nervosa mas sabia o que ia dizer. Tinha pensado nisso durante a tarde que passou na banheira, desembrenhando-se do cheiro a laranja espremida pela sua cabeça. Ela não esperava era vê-lo tão diferente.
- Uau. Estás... diferente. – exprimiu-se Joana quando o viu.
Luís virou embaraçado; as narinas começaram a dilatar.
- Mas fica-te bem. – apressou ela a acrescentar.
Sentou-se e pediu um café. Esperaram dois minutos e beberam-nos. Pronto, agora era só falar, pensava Joana.
- Bem, ah, Luís... Vou directa ao assunto. – começou ela.
- Está bem.
- Eu sei que nos conhecemos quando eu estava a entrar para uma fase conturbada da minha vida. Não foi por isso que tu não ficaste meu amigo, antes pelo contrário: ficaste. Foste uma das únicas pessoas que estava lá quando eu precisei. Eu agora sei que se não fosses tu naquele dia, hoje eu podia não estar aqui a falar contigo...
- Isso não interessa agora. – desvalorizou ele que sabia que falar daquele assunto era complicado para Joana.
- Deixa, não faz mal. Em parte, devo-te a minha vida. É por isso que eu não tinha direito nenhum de te falar naquele dia da forma que te falei. Tu ajudaste-me, estiveste lá ao meu lado, eu não devia ter-te tratado assim. E o que mais me chateia é que eu estava tão cega por... bem, tu sabes, que nem via os meus amigos. É por isso que eu te quero pedir desculpa. Por tudo. E também agradecer, é que depois de todos estes acontecimentos menos bons, tu estás ao meu lado.
- Não é preciso tanto. – respondeu Luís timidamente.
- Claro que é. Muita gente não tinha feito o que tu fizeste. Considero-te mesmo meu amigo.
- Isso é porque sou. Gosto mesmo muito de ti. – finalizou ele.
Só que ele gostava mesmo dela. Ela não sabia e ele não achou oportuno levantar aquele assunto. Já era maravilhoso, perfeito até, estarem novamente amigos e terem resolvido tudo.
No final daquela conversa, Luís acompanhou Joana a casa e despediram-se com dois beijinhos, desta vez não se confundindo nos lados. E ele seguiu para casa, feliz da vida.

Dias haviam passado desde a noite em que Joana e Nuno tinham resolvido as coisas. Desde então, nunca mais houvera discussões ou outro tipo de conflitos entre os amigos. Passavam os intervalos todos juntos e a divertirem-se. Bia já achava que nada ia ser igual; Luís estava cada vez mais confiante para falar a Joana sobre o facto de gostar dela.
Mas havia algo que não estava bem. Joana estava esquisita. Durante aqueles dias em que andava a reconciliar-se com Luís, esquecera-se de Bill. Mas depois, a seguir de voltar tudo ao normal, Joana voltou a pensar nele. Tinha sido uma anestesia de curta duração. Bill nunca mais havia dito nada e ela também não. Por precaução, ninguém sabia destes pensamentos que vagueavam na mente dela. Mas eles estavam lá, a todos os momentos livres que ela tinha, todos os segundos que a permitiam fugir em pensamento, era para junto dele que fugiam. Voltava a lembrar-se da estrela tatuada, dos momentos passados na piscina, no quarto, dos carinhos e frases trocadas um com o outro, de tudo.
E neste momento, naquele dia, Joana estava outra vez submersa nesses sonhos.
- Estás aí, Jô? – perguntava Bia, que a chamava há alguns minutos.
- Ah, sim. O que é? – disse ela, emergindo para o mundo real.
- A Leonor. Ligou agora, diz que se vai embora amanhã de manhã. Quer que nos encontremos todos no café hoje à noite. Vens? – quis a amiga saber.
- Claro.

Faltavam apenas algumas horas para a hora marcada por Leonor para se encontrarem. Nuno, o irmão, Bia e Luís iam estar todos lá para dizerem adeus, desta vez sabendo lá até quando, à amiga. Leonor já tinha tratado tudo e ia-se agora embora, para junto do namorado e da banda, embarcando numa viagem alucinante, pela qual milhares de fãs matavam.
Era nisso que Joana, deitada na banheira cheia de espuma, pensava. Na sorte que a amiga tinha: aventurar-se por esse mundo, descobrindo novas culturas, novas pessoas, sem olhar para trás. Joana sentia-se fascinada com isso. Secretamente, admirava Leonor por deixar tudo e partir atrás do namorado.
A água começou a gelar-lhe a pele, agora enrugada como pele de galinha. Levantou-se rapidamente, ligando o chuveiro que fez desaparecer cada pedaço de espuma que ainda teimava em colar-se à sua pele. Com cuidado, desligou a água e saiu do banho. Enrolada na toalha, foi para o quarto e abriu a cómoda da roupa para tirar umas calças e uma camisola.
Foi quando o viu. Guardado fazia meses, o antigo passaporte de Bill Kaulitz estava agora a descoberto, exibindo as suas letras douradas que brilhavam com o reflexo do candeeiro. Estagnada e presa ao chão, Joana fitava-o quando teve uma ideia. Pegou rapidamente aquele pequeno documento de letras douradas e sentou-se na secretária, apenas com o lençol a cobrir-lhe o corpo. Pegou numa caneta e numa folha pequena e começou a escrever na sua letra mais bonita e perfeita. Escrevia em inglês. Quando acabou, dobrou delicadamente o papel e colocou-o dentro do pequeno livro de douradas inscrições. Abriu uma gaveta, tirou um envelope e colocou lá dentro o passaporte. Passou ligeiramente a língua na cola e fechou o envelope, selando-o.
Vestiu-se, secou e penteou o cabelo, pegou na mala, tendo o cuidado de levar consigo o envelope.
- Mãe, vou à despedida da Leonor. Devo voltar tarde. – avisou.
- Ok, manda-lhe um beijinho meu e tem juízo.
Fechando a porta atrás de si, Joana saiu e caminhou até ao café ao lado da escola. Como Àquela hora já não haviam autocarros, teve que ir a andar, recebendo na cara cada lufada de ar fresco.
- Jô! Jô! Aqui! – gritou Bia, que a tinha avistado ao longe.
Joana tinha chegado ao café e constatou que a única pessoa que faltava era Leonor.
- A Leonor? – perguntou ela.
- Quando eu saí de casa ela ainda se estava a vestir. – respondeu Nuno.
Alguns minutos depois, com brincadeiras pelo meio para não se deixarem vencer pelo frio, uns faróis iluminaram a rua, dando sinal que o carro de Leonor se aproximava.
- Desculpem, desculpem. Aqui o meu querido irmão tomou banho primeiro e eu atrasei-me. Deixa lá que a partir de amanhã já tens a casa de banho toda para ti. – desculpou-se ela, saindo do carro.
Entraram todos, escolheram uma mesa e sentaram-se, puxando cadeiras para ficarem todos juntos.
- Bem, como vocês sabem, estamos aqui hoje... – começou ela.
- Leonor Eduarda! Tu livra-te de começares o discurso sem antes pagares umas bebidas. – avisou o irmão, interrompendo-a.
- Entendido, Nuno Miguel! Olhe, se faz favor, são cinco safaris cola. – pediu ela ao empregado.
Depois de beberem, retomaram os velhos discursos das saudades e de ligarem todos os dias uns para os outros. Ao fim de alguns copos, Nuno, já tocado pela bebida, respondia o mesmo cada vez que a irmã abria a boca.
- Banalidades, banalidades.
Aquilo fez Joana lembrar-se de um vídeo de Bill a tentar falar com um Tom bêbedo ao lado. Estava outra vez a derramar-se sobre o vocalista, quando o telemóvel de Leonor tocou e ela pediu silêncio.
- Esperem, calem-se. É o Georg.
- Diz-lhe que eu mando beijinhos. – disse Nuno, alto de mais.
- Parvo. Eu aviso já que não te carrego para o quarto. Vou lá fora atender. – informou Leonor.
Bia e Luís tentavam convencer Nuno a parar de beber, deixando Joana à vontade para se debruçar no pensamento interrompido. Estava novamente a pensar em Bill; será que ele também pensava nela?
- Joana! – chamou Luís.
- Sim?
- Não concordas? – perguntou ele.
- Com o quê? – respondeu ela, confusa.
- Que ele já bebeu demais. Acabei de te perguntar isso, não ouviste?
- Sim, sim. Acho. Eu vou lá fora falar com a Leonor, está bem? Já volto. – disse Joana, levantando-se e saindo.
Lá fora, teve que cruzar os braços para não ter frio naquela noite traiçoeira de Verão.
- Love you too. (Também te amo.) – despedia-se Leonor, ao telefone.
Estava de costas e só quando se voltou é que percebeu que tinha companhia.
- Joana! Não te ouvi chegar. Vamos? – disse ela, fazendo menção de entrar.
- Espera!
Leonor deteve-se, voltando para trás.
- Sim?
- Posso pedir-te um grande favor? – pediu Joana.
- O que é? – disse com medo Leonor.
- Não é nada de mal. Como amanhã te vais juntar a eles, eu pensei se podias entregar isto ao Bill. É algo pessoal que eu tenho que devolver.
Joana meteu a mão à mala e retirou o envelope Ainda com receio, Leonor esticou o braço e aceitou-o. Afinal que mal é que podia estar dentro de um mero envelope?
- Claro, eu entrego. Está tudo bem? – questionou ela.
- Sim.
Iam para entrar novamente no café quando Luís e Bia saíram, amparando Nuno, que já não se aguentava em pé nem dizia coisa com coisa.
- Este aqui precisa de ir já para a cama. – avisou Luís.
Leonor resmungou e destrancou o carro. Com a ajuda de todos, deitaram Nuno no banco de trás, adormecendo logo.
- Bem, parece que a noite fica por aqui. Já é tarde e eu ainda tenho que o carregar para a cama. – disse Leonor.
- Eu ajudo-te, deixa lá. – ofereceu-se Bia.
- Vocês desculpem mas não vos posso oferecer boleia porque aquele traste está a dormir no banco todo.
- Deixa lá. Vamos a pé. Posso acompanhar-te a casa, se quiseres. – ofereceu-se Luís também, virando-se para Joana.
- Obrigada.
Depois de muitos beijinhos, abraços e algumas lágrimas, Leonor e Bia entraram no carro. Luís e Joana ficaram a vê-las cruzar a esquina.
- Vamos? – disse Luís no momento em que os faróis deixaram de se ver.
- Sim.

To be continued...

2 comentários:

Anónimo disse...

Óoh , eu quero o Bill e a Joana :SS
A Tua Fic é Linda .
É preciso repetir ??
ADORO
Beijinhoo**

Anónimo disse...

xD


mais..