terça-feira, 24 de junho de 2008

42. A PISCINA

Sim, era realmente bonito. Bill agarrou Joana e puxou-a, nadando debaixo de água até Tom, que estava agora de costas. Gesticulando, Joana e Bill arquitectaram um plano. Contaram até três e puxaram-lhe os calções. Claramente habituado a agarrar rapidamente nas suas calças, Tom levou intuitivamente as mãos aos calções, impedindo que ficasse a descoberto algum pedaço do corpo do deus do sexo.
Bill e Joana emergiram, rindo-se e engolindo alguns pedaços de água. Foi a vez de Tom mergulhar, encharcando novamente as suas longas rastas; no entanto, em vez de se vingar no irmão, fê-lo em Gustav que ainda se estava a rir. Seguiu-se então um momento de descontracção entre todos.
Ali ficaram o tempo necessário para a pele de Bill começar a ficar enrugada e ele querer sair. Lá acabaram por sair todos. Ficaram nas cadeiras até Tom ver uma empregada de bar a passar e os arrastar todos parar uma bebida. Bill, que ainda se encontrava extremamente preocupado com a sua pele, ficou e requisitou Joana para o ajudar a por o creme.
- Take it. (Toma.) – disse ele, estendendo-lhe o frasco de uma forma imperativa.
Ela aceitou e começou a espalhar o creme. Quando começou a sentir que ela estava a demorar tempo de mais, disse:
- Hey! What are you doing? (Hei! O que estás a fazer?) – perguntou.
- A star. (Uma estrela) – respondeu ela.
- Why? (Porquê?) – inquiriu ele, novamente
- Because that’s what you are. (Porque é o que tu és) – brincou Joana.
Ele riu-se e virou-se para ela.
- What a funny girl we have here. (Que rapariga engraçada temos nós aqui.)
De seguida, e sem ela esperar, agarrou-a e saltou com ela para dentro da piscina. Joana bem tentou gritar, mas quando deu por si, já estava a engolir água. Nadou para chegar à superfície; encontrou um Bill despenteado e a rir-se.
- Bill!
Joana tomou o impulso necessário e fez força nos ombros de Bill, obrigando-o a ir para baixo. Estava a tentar afogá-lo amigavelmente. Ele, para se vingar, fez-lhe cócegas e ela caiu dentro de água. No meio de bolhas de ar, ela pode ver novamente como ele era bonito.
Joana aproximava-se cada vez mais dele. Não pôde sentir os joelhos a ceder porque estava dentro de água. Sentiu a mão de Bill à volta da sua cintura. Naquela água gelada, a mão dele aquecia-a, envolvendo-a numa ternura doce. Com a outra mão ele tirou-lhe uma madeixa de cabelo que estava colada à bochecha. Finalmente, sentiu a sua barriga a tocar na dele; sentiu um calor que quase que a fazia jurar que vinha daquela estrela na barriga dele. Olhou-o nos olhos; teve imediatamente que desviar o olhar: não aguentava fixá-lo tão de perto. Sentiu Bill a aproximar-se e ela a deixar-se ir. Estavam tão perto...
Joana não sabe quem se chegou primeiro, que tocou primeiro nos lábios do outro. Sabia sim que os lábios dele eram a mais doce maravilha que ela provara. Se não soubesse que tinham de ser reais, diria que eram um sonho. Estava naquele mesmo sonho, quando Bill se afastou e falou:
- I’m so sorry. (Desculpa.) – disse ele, mergulhando e nadando até às escadas para sair da água.
Joana, essa, continuava no exacto mesmo sítio onde ele a tinha deixado. Não conseguia falar e só agora começava a processar o que aconteceu. Quando acordou da dormência paralisante, olhou à volta e não viu ninguém. Bill tinha desaparecido. Ela saiu igualmente da água e vestiu o roupão que tinha deixado em cima das cadeiras. Como a piscina estava fechada só para eles, foi fácil seguir as vozes que a conduziram para o bar onde o resto do grupo se encontrava, com Bill sentado e muito calado.
- Que é que aconteceu? – perguntou Leonor preocupada, em português, para ninguém perceber.
Ao ouvir falar noutra língua que ele próprio não percebia, Bill levantou a cabeça e olhou para Joana. Repentinamente ela também olhou para ele. Não sabendo muito bem porquê, respondeu.
- Nada.
Desta vez, ele não precisou de perceber a língua para saber o que ela respondera. Joana despediu-se de todos, alegando que tinha que estudar uns apontamentos para o dia seguinte. Evitou cruzar o olhar com Bill e foi-se embora.
No caminho para casa, pensou no que aconteceu. Como é que ele podia pedir desculpa? Será que ele não percebia que não havia nada de que se desculpar?
Se o autocarro não tivesse travado bruscamente, Joana não tinha sido libertada daqueles pensamentos que a consumiam e tinha deixado passar a sua saída. Caminhou até casa, ainda absorta no que se tinha passado. Não reparou que tinha uma visita à sua espera, nos degraus da entrada.
- Olá. – disse Luís.
Joana lembrou-se da desculpa que dera de ter que ficar a estudar. Tinha sido apanhada; mesmo assim, decidiu disfarçar.
- Ah... Olá. Eu acabei agora mesmo de sair para ir ao café comer um gelado. Não nos cruzámos por pouco. – mentiu ela.
- Joana eu estou aqui há pelo menos hora e meia. Não adianta dizeres isso. Eu sei onde tu foste e, sinceramente, foi uma opção tua ires. Mas tens de saber uma coisa. – respondeu ele, não lhe dando hipóteses de se manifestar.
- O quê? – perguntou Joana, a medo.
- Eu gosto muito de ti. – respondeu Luís.
E sem ela estar à espera, ele agarrou-a pela cintura, puxou-a para ele e beijou-a com um beijo de tirar o fôlego. Depois, largou-a levemente como se fosse cristal e foi-se embora, deixando-a sem reacção pela segunda vez naquele dia.

To be continued...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

41. A SURPRESA

- Jô! Jô, aqui! – acenava Leonor.
Joana virou-se ao ouvir o seu nome. Ainda bem que ela ali estava, não sabia onde ir ter para a “surpresa”.
- Olá. – disse ela, chegando junto da amiga. – Então, o que é a surpresa? És tu?
- Obrigada pelo entusiasmo com que disseste isso mas não, não sou eu. Já vês. Anda. – disse Leonor, brincando.
Joana seguiu-a. Pensava que iam a algum sítio especial mas o único sítio para onde se dirigiam era para o elevador. Talvez fossem para a garagem para puderem sair sem ser vistos, pensava ela. Rapidamente essa ideia lhe fugiu da mente. A porta do elevador estava a fechar-se e Leonor carregara no botão do piso onde eles estavam hospedados. Mas que raio de surpresa era aquela?
- Não tentes adivinhar que não consegues. – informou Leonor, que percebeu a expressão da amiga.
- Mas era suposto ser uma surpresa. A surpresa é dizeres-me que andas com o baixista dos Tokio Hotel? Oh Leonor, a sério, não sabia! Parabéns! – enfatizou Joana.
- Engraçadinha a moça. Se pensas que vais descobrir algo engana-te. A tua surpresa está aqui dentro. Nem vais ter que sair do hotel. – respondeu-lhe a amiga.
Saíram no piso habitual, onde a banda estava instalada. Em vez de seguirem para o quarto de Bill, que sendo ele que tinha convidado Joana, era ele que ela esperava ver, foram para o quarto de Leonor. Georg, que também parecia estar a dormir por ali devido à quantidade de roupa masculina que se encontrava espalhada por cima das cadeiras e que Joana achou que eram muito grandes para serem da amiga, não se encontrava no quarto.
- É agora que me matas? – perguntou Joana, brincando.
- Não, é daqui a pouco. Veste isto. – respondeu Leonor, estendendo-lhe um biquíni.
Joana olhou-a desconfiada. Um biquíni? Que surpresa era esta que ela necessitava de estar em biquíni?
- Para que é que eu vou vestir isso? – perguntou ela.
- Porque precisas. Vá, veste. Achas que se fosse para te fazer alguma coisa má, eu estava aqui? Não, provavelmente estaria o Tom para te ver em biquíni.
Com aquela resposta, Joana achou que era seguro vestir. Foi à casa de banho e trocou de roupa. No entanto, por achar que os corredores dos hotéis não eram os sítios mais adequados para se andar a desfilar naqueles propósitos, achou-se demasiado despida. Abriu a porta da casa de banho, e meteu a cabeça de fora:
- Leonor, sabes, eu sinto-me com roupa a menos.
- Eu também. – respondeu-lhe a amiga, aparecendo à sua frente também com um biquíni vestido. – Toma, veste isto.
Joana e Leonor vestiram dois roupões que estavam pendurados no roupeiro e saíram. Joana só esperava que não se cruzassem com ninguém que as visses naqueles trajes, a passear pelo hotel. Entraram no elevador e Leonor carregou num botão que levava a um piso que Joana nunca tinha ido. Por incrível que parecesse, quando saíram, não se cruzaram com ninguém.
- Vá, é agora. Tem de ser. Fecha os olhos. Não faças batota e não abras. Dá a mão.
Joana estendeu a mão e fechou os olhos. Sabia que com Leonor estava segura. Começaram a andar, primeiro com relutância mas depois Joana adquiriu a confiança necessária. À medida que avançava, Joana começava a sentir mais calor e a sentir a humidade no ar a aumentar. Leonor parou e Joana fez o mesmo. Esperava que acontecesse algo, quando uma voz, que imediatamente reconheceu, gritou:
- You came! (Vieste!)
Não conseguiu ficar de olhos fechados. Abriu-os e viu, nada mais, nada menos, que Bill, Tom, Georg e Gustav em calções de banho, sentados nas cadeiras que circundavam a piscina.
Bill levantou-se e correu a abraçar Joana, voltando logo em seguida para as cadeiras. Joana, muito espantada, olhou para Leonor.
- O hotel fechou a piscina só para eles. Estamos só nós aqui. Anda.
Sentaram-se as duas junto deles mas, no momento em que o fizeram, desejaram não ter feito. Enquanto elas chegavam, eles planearam um plano maquiavélico. Assim, quando elas se aproximaram, foi só colocá-lo em prática.
Bill e Gustav pegaram em Joana e tom e Georg em Leonor.
- Eins, zwei, drei! (Um, dois, três!) – contaram eles.
Das mãos deles, elas saíram disparadas, embatendo naquela água fria, que lhe arrefeceu as ideias e lhe molhou o corpo. Quando emergiram, prontas a reclamar, eles atiraram-se, fazendo uma batalha de bolhas de ar à superfície.
- Georg! I’ll kill you! (Georg! Eu vou matar-te!) – gritou ela, nadando furiosamente até ele.
Joana olhou à volta. Tom estava encostado à borda da piscina, rindo-se daquela situação. Gustav estava ao lado dele. Apenas Bill estava no meio da piscina, a tentar manter o cabelo digno da fama que tem.
- Bill! What a suprise! (Bill! Que surpresa!) – disse Joana.
- Yeah. I was hoping you would like it. (Esperava que gostasses.) – respondeu-lhe ele.
Joana mergulhou, nadou imersa até ele; quando chegou, sem ela estar à espera, ele mergulhou e ficaram os dois debaixo de água. Ela pode constatar como ele era bonito assim, parecia natural.

To be continued...

domingo, 15 de junho de 2008

40. AS MENSAGENS

A segunda-feira amanhecia solarenga e calorosa. Bia tinha acordado bem disposta e sorridente. Um BOM DIA PRINCESA estava à espera de ser lido numa mensagem no seu telemóvel. Ainda ficou mais feliz depois de lê-lo.
Vestiu-se depressa mas tendo sempre atenção àquilo que escolhia. Naquele dia, para não perder tempo no café, tomou o pequeno-almoço em casa e saiu. Apesar da curta distância que separava a escola da sua casa, apanhou o autocarro para lá. Não queria demorar tempo nenhum para poder estar junto dele.

Nuno, esse, já estava acordado há muito tempo. Tinha perdido as primeiras horas da manhã a escolher o que vestir. Ao contrário da namorada, ele estava nervoso. Quando finalmente decidiu o traje, nem conseguiu comer, tais eram os nervos que se apoderavam dele. Saiu de casa e, habituado a ir a pé agora que a irmã não estava para lhe dar boleia, lá foi até à escola. No caminho foi apreciando o vento fresco da manhã a bater-lhe na cara e a inundá-lo de força.
Quando chegou ao recinto escolar, sentia-se renovado, mais alegre e confiante. Olhou desesperadamente à volta a tentar encontrá-la. Deteve o seu olhar cada vez que encontrava uma rapariga envergando uma camisola vermelha. Sem sorte, não era ela. Quedou-se por ficar com o seu grupo de amigos mais sociais enquanto ela não chegava.
Bia acabou por chegar alguns minutos mais tarde. Nuno não soube o que lhe deu para se virar de repente, no exacto momento em que ela estava a entrar. Os seus amigos estranharam aquela reacção e bastou-lhes seguir o olhar do amigo para perceberem para onde estava a olhar.
- Olha, olha. Agora este também é fã daqueles tipos. – gozou um.
- Queres que peça à minha irmã aquelas roupas pretas e brancas para te emprestar? – disse outro.
- Tu não vais virar-te para o outro lado, pois não meu?
- Ei! Nós gozamos com elas, não vamos ter com elas! – gritou outro, vendo Nuno a afastar-se.
Nuno nem ligava ao que os amigos diziam; deixava-se apenas guiar subconscientemente até Bia. Ela também caminhou até ele.
- Bom dia. – disse ela, timidamente.
- Bom dia. – respondeu-lhe ele.
- Acho que os teus amigos querem alguma coisa. – disse ela ao vê-los todos a olharem para eles os dois.
- Sim, estavam a dizer o quão bonita hoje estás. – disse Nuno.
- Não estavam nada, não sejas parvo.
- Já começam os insultos? – disse, fingindo-se ofendido, Nuno.
Bia entrou na brincadeira. Inclinou-se e deu-lhe um leve beijo nos lábios. Ao longe, o grupo com que Nuno estivera momentos antes ficou ainda mais boquiaberto.
- Está melhor assim? – perguntou ela, rindo-se.
- Não! – respondeu ele.
Agarrou-a pela cintura e deu-lhe um beijo apaixonado, ali no meio da escola, deixando qualquer um que passasse, a olhar. Quando finalmente a largou, disse:
- Assim está melhor.
- Ah, talvez seja melhor mudarmos de sítio, é que está toda a gente a olhar. – disse-lhe ela, um pouco constrangida.
- Sim, talvez seja melhor.
Deram as mãos e foram juntos para o jardim. A meio caminho, Bia lembrou-se de que não tinha avisado Joana que não ia ao café para tomarem o pequeno-almoço todos juntos. Tirou o telemóvel e mandou-lhe uma mensagem a avisar.

Joana tinha acabado de entrar no café quando sentiu o seu telemóvel tocar. Viu Luís numa mesa e foi até lá. Ainda não tinham falado sobre o que acontecera por isso o momento ainda era constrangedor. Joana esperava ansiosamente que Bia chegasse para quebrar o gelo.
- Bom dia. – disse ela, cumprimentando Luís.
- Bom dia. – saudou ele.
Joana sentou-se e pôde finalmente tirar o telemóvel do bolso. Leu a mensagem e ia caindo da mesa quando chegou ao fim. Ela não vinha? Como é que ela não podia vir? Como é que Joana ia conviver com Luís? O desespero atacou-a mas ela controlou-se. Pensou rapidamente numa saída.
- Olha a Bia hoje não pode vir. Eu tenho que ir à casa de banho. Pede um galão e uma torrada, se faz favor.
E pirou-se dali antes de Luís poder sequer abrir a boca. Ele ficou sozinho na mesa, ainda perplexo. Fez sinal ao empregado e fez o seu pedido e o de Joana. Depois, quedou-se sozinho, à espera.
Luís não tinha reparado que Joana tinha deixado o telemóvel em cima da mesa, até que ele tocou repentinamente. Pensando que era uma mensagem de Bia, pegou-lhe. Joana tinha a caixa de mensagens aberta; provavelmente tinha-se esquecido de a fechar com a pressa de ir à casa de banho. Mas algo deteve o gesto de Luís. Não era o nome de Bia que figurava naquela nova mensagem. Era o de Bill. Não abriu a mensagem: ela saberia que ele o tinha feito. Em vez disso, limitou-se a ver apenas a primeira parte da mensagem, que aparecia no ecrã.
Be here by 5 pm. I’ve... (Está cá às 5 pm. Eu tenho...)
E foi tudo o que ele conseguiu ler. Pousou o telemóvel em cima da mesa; tirou o seu e prontificou-se a enviar uma mensagem para Bia, relatando os factos. Joana chegou segundos depois de Luís enviar a sua mensagem a Bia. Viu que tinha uma mensagem de Bill e olhou fixamente para Luís tentando perceber se ele já tinha visto. O sorriso forçado que ele tinha posto na cara, conseguiu enganar Joana que concluiu que era a primeira a ver a mensagem. Abriu e leu.
Be here by 5 pm. I’ve got a suprise for you. (Está cá às 5 pm. Eu tenho uma surpresa para ti.)
Joana esboçou um pequeno sorriso mas prontamente o disfarçou. Luís percebeu mas não queria falar. A comida chegou momentos depois e eles comeram em silêncio. Pagaram e foram até à escola.
Bia, que já estava avisada, tinha-se despedido de Nuno, e ficado à espera que Luís e Joana aparecessem na escola. Quando os viu ao longe, correu para eles.
- Bom dia!
- Bom dia. – saudaram eles.
- Está um dia tão giro, não está? – perguntou ela, retoricamente.
Os outros dois limitaram-se a acenar. Bia continuou; queria saber se Joana ia ou não ter com ele.
- Podemos ir hoje dar aquele passeio pelo parque. Que tal depois das aulas? – inquiriu ela.
- Por mim tudo bem. – respondeu Luís, percebendo o que ela estava a fazer.
- Ah... Não dá. Tenho que estudar umas coisas que tenho em atraso. Recuperar a matéria... – mentiu Joana.

To be continued...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

39. O ADMIRADOR

Depois de ter saído de casa de Joana para ir fazer o suposto trabalho, Bia caminhou rapidamente para casa para se arranjar. Na noite anterior, já tinha desfeito o seu guarda-roupa mas ainda não tinha decidido o que ir vestir. Os nervos começavam a tomar conta dela. Estava a vestir novamente toda a roupa, quando o telemóvel tocou.
- Estou? Ah olá Leonor. Sim, já falei com ela. Não, não disse por onde andou. Então, agora esperamos. Sim, tem atenção para ver se ela volta aí. Vá, obrigada. Beijinhos.
Desligou. Voltou a concentrar-se na árdua tarefa de encontrar a roupa perfeita. Alguns minutos e muitas camisolas depois, lá se preparou para sair de casa. Acabou por escolher a mesma camisola vermelha que tinha usado no dia em que aceitou marcar o encontro com o seu admirador. Achou que aquela peça de roupa tinha um significado especial, em parte por ter sido a que usou nesse dia; em parte por ser da sua cor preferida.
- Mãe! Vou sair. Volto antes do jantar!
Saiu e fechou a porta. Naquele dia, parecia-lhe que tudo era mais colorido, que tudo cheirava melhor e que a vida lhe corria bem. Lá foi, caminhando alegremente ate ao parque, com o coração aos saltos. Nunca aquele trajecto lhe pareceu tão longo, maçador e interminável.
Tinha finalmente chegado. Olhou desesperadamente à volta na esperança de encontrar alguma cara conhecida ou algum gesto que desmascarasse o seu admirador. Sentou-se num banco e ficou a ver as pessoas passarem. Observou atentamente um casal de namorados que estavam alguns bancos mais abaixo. Perguntava-se se ela também viria a ser assim. Emersa naqueles pensamentos calorosos, não o viu chegar. Só o viu mesmo quando este já estava diante de si.
- Tu? O que é que tu estás aqui a fazer? – perguntou ela.
Diante de si estava Nuno, irmão de Leonor e inimigo de estimação de Bia. Mas ele não podia ter escolhido outro momento para aparecer? Quiçá alguns minutos mais tarde para a poder ver com o seu admirador, pensava ela.
- Vim passear. Posso? – pediu ele, inclinando-se para o lugar livre ao seu lado.
- Não, está ocupado. – atirou-lhe.
Ele pareceu ter sido apanhado de surpresa por aquela resposta. Olhou de novo para o lugar para ter a certeza que estava vazio.
- Sabes que não está ninguém aí sentado, certo? – perguntou ele, novamente.
- Por enquanto não, mas vais estar. Estou à espera de uma pessoa. – revelou Bia.
- Eu sei. – afirmou Nuno, apanhando-a agora de surpresa.
- Sabes?
- Sei. – disse ele, com clareza.
- Mas como é que tu sabes? – questionou Bia, que não percebia nada.
Nuno sorriu enigmaticamente. Do bolso foi tirando uma rosa de papel, feita em veludo vermelho, à medida que as expressões na cara de Bia ficavam cada vez mais petrificadas.

- Georg! Wo bist du? (Georg! Onde estás?) – gritava Bill, no corredor do hotel.
À porta da sala de estar, apareceu a cabeça de Georg, olhando espantado para os lados, tentando descobrir a fonte daquela gritaria.
- Hier. (Aqui.) – disse ele, reconhecendo Bill, com o seu cabelo preto caído sobre os ombros.
Bill percorreu a distância rapidamente até à sala. Quando se sentiu suficientemente perto, pediu, baixinho, só para que Georg ouvisse:
- Können Sie fragen zu Leonor kam hier? (Podes pedir à Leonor para vir aqui?)
Georg olhou para ele. Tinha um ar de sono e aluado. Ao ser observado, Bill encolheu os ombros, parecendo que não sabia o que estava a fazer.
- Warten. (Espera.)
Alguns minutos depois, Georg voltou a aparecer, acompanhado de Leonor. Vendo que Bill se sentia constrangido, Georg regressou à sala, deixando os dois sozinhos. No entanto, Bill continuava mesmo constrangido.
- Well, I wanted to ask you... (Bem, eu queria perguntar-te...) – começou ele, parando em seguida.
- Yes? (Sim?) – disse Leonor, que não sabia o que vinha dali.
- Well, do you know when Joana returns? (Bem, sabes quando a Joana regressa?) – perguntou ele, de um só vez.
- Returns where? (Regressa onde?) – disse Leonor, confusa.
- Here! (Aqui!) – eclareceu Bill, impaciente.
- Oh... No, I don’t. (Oh... Não, não sei.) – respondeu-lhe ela.
Bill pareceu desapontado com aquela resposta. Agradeceu e voltou para o seu quarto.

Joana tinha ficado por casa; depois de Bia não poder ir passear naquela tarde, ela e Luís não combinaram nada. Joana ainda não sabia como estavam as coisas entre eles e, o que menos queria, era saber. Já tinha arrumado a mala para o dia seguinte e agora estava deitada em cima da cama a ver televisão. Estava a dar um documentário sobre a vida animal quando o seu telemóvel vibrou.
Do you inted to come here again? (Tencionas vir cá outra vez?)
Ai! Mas porque é que ele lhe fazia aquelas perguntas. Bem, tencionar, não tencionava. A menos que ele pedisse muito, claro.
Well, I wasn’t invited. (Bem, eu não fui convidada.)
Esperou ansiosamente pela resposta. Ela chegou, minutos.
That’s no problem! Do you want to come here? (Isso não é problema. Queres vir cá?)
Ela riu-se. Pensou que esta era uma das poucas, talvez única até, que ele a fazia rir.
Don’t worry, I’ll show up. (Não te preocupes, eu apareço.)
No exacto momento em que carregou em enviar, a porta do seu quarto escancarou-se. Bia entrara de rompante por ali dentro, sem avisar. Visivelmente cansada e com uma respiração ofegante, estava especada à frente de Joana. Esta apressou-se a esconder o telemóvel debaixo da almofada, mas esqueceu-se de tirar a cara de susto que tinha.
- Que cara é essa? – perguntou Bia, desconfiada.
- Nenhuma. Assustei-me contigo. Que se passa? – mentiu e perguntou Joana.
- Tenho de te contar uma coisa. É sobre o Nuno. – respondeu a outra.
Joana parecia confusa.
- O Nuno? Mas o que é que ele tem?
- Lembraste daquele dia em que ficámos sozinhos na casa de banho? – perguntou Bia.
- Sim, vais finalmente contar-me o que se passou lá dentro? – pediu Joana.
- Não te contei porque não foi nada de especial. Na altura não fez grande sentido por isso achei que não valia a pena contar... – começou Bia.
- E agora faz sentido? – dizia Joana, que não percebia nada da conversa.
- Oh, se faz. Ele perguntou-me qual era a minha cor favorita. – atirou ela.
Joana franziu o olho. Agora é que já estava completamente perdida do rumo do diálogo.
- É o vermelho, mas o que é que tem? – perguntou ela.
- Exactamente, é o vermelho. Há uma coisa que eu não te contei, é sobre o meu admirador...
E assim, Bia começou a contar a Joana tudo o que se tinha passado nos últimos meses; a rosa, o encontro. Contou-lhe que era devido a isso que ia sempre cedo para a escola. Depois, chegou à parte em que lhe explicava que as rosas vermelhas e o levar uma camisola vermelha para aceitar o encontro eram parte do plano de Nuno.
- Mas espera aí, o Nuno é o teu admirador secreto? – perguntou Joana.
- Sim... – disse timidamente Bia.
- Que coisa mais pirosa! Admirador secreto... Isso é coisa de velhos. – riu-se ela.
Bia ficou corada e Joana percebeu.
- Desculpa lá, mas é o que eu acho.
- Está bem, mas deixa-me continuar...
Lá continuou. Contou-lhe como tudo se tinha passado nessa tarde e o porquê de não querer ter ido passear.
- Mas vocês entenderam-se? – perguntou Joana, novamente.
- Sim...
-Mas porque é que ele não disse logo no início que era ele?
- Porque tinha vergonha! – esclareceu Bia.
Depois de mais algumas perguntas, Bia pode finalmente sentar-se e reflectir sobre o que aconteceu. No entanto, Joana tinha uma última pergunta.
- Então, vocês estão juntos?
- Pois, parece que sim. – disse ela, com um grande sorriso. – Agora que eu já esclareci qual era o meu trabalho da escola, queres dizer alguma coisa?
Joana olhou para ela. Seria possível que ela soubesse? Não, tinha tido demasiado cuidado, não se ia descair agora.
- Não, nada. – respondeu, com firmeza.

To be continued...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

38. O TRABALHO

A perplexidade estava estampada no rosto de Joana.
- Oh you did? (Oh sabias?) – perguntou ela ela.
- Of course. I wouldn’t come to Portugal if I wasn’t sure. (Claro. Eu não vinha a Portugal se não tivesse a certeza.) – afirmou ele.
De seguida, e com toda a naturalidade que lhe era permitida ter, Bill puxou Joana para dentro do quarto e fechou a porta. Depois, com um ar muito sério, disse:
- What was on your mind to do what you did? (O que se passou na tua cabeça para fazer o que fizeste?) – perguntou ele.
Joana teve a certeza de que ele sabia muito bem do que estava a falar mas uma dúvida abateu-se sobre ela: até que ponto sabia ele? Resolveu-o por à prova e esclarecer as dúvidas.
- I was having problems at the school. (Eu estava a ter problemas na escola.) – mentiu.
Pela cara que Bill fez, ela percebeu que ele acreditou e teve outra vez a certeza de que ele não sabia que tinha sido o causador da desordem. Ela escolheu não lhe contar. Não queria que ele soubesse. Provavelmente não iria entender.
- But it’s everything ok now? (Mas está tudo bem agora?) – inquiriu Bill.
- Yeah.
Bill ficou mais descontraído, como se o seu objectivo de ter ido até àquele país tivesse sido realizado; como se o seu trabalho estivesse cumprido. Era um problema ultrapassado.
- I’m so tired. I really needed a break. (Estou tão cansado. Precisava mesmo de uma pausa.)
Dito isto, Bill meteu a mão ao bolso e tirou do seu maço de cigarros. Sem pensar acendeu um e abriu a janela. Ao ver reflectida no vidro a cara de espanto dela, lembrou-se e apagou rapidamente o cigarro.
- I’m sorry. I forgot. (Desculpa. Esqueci-me) – disse ele.
Joana lembrou-se então as razões pelas quais não queria ter ido até ali. Lembrou-se do porquê de ter enveredado por aquele caminho. Lembrou-se o porquê de não ter dito a Bill que gostava dele. Ele estava a fazê-lo novamente. Estava a manipulá-la inconscientemente. Estava a fazer com que ela tivesse certos pensamentos que há muito tempo deixara. Estava a afectá-la.
- I need to go. I forgot my mom asked me to help her at home. (Tenho de ir. Esqueci-me que a minha mãe me pediu para ajudá-la em casa.) – mentiu ela.
Joana levantou-se mas Bill, que já estava em pé, agarrou-a.
- Wait! (Espera!) – interpelou ele.
- What?
- I really liked to see you. I missed you. – disse ele, abraçando-a em seguida.
Joana não estava à espera por isso foi tomada por aquele abraço. A sua cabeça foi parar no peito de Bill, junto do seu pescoço; pôde sentir o seu perfume maravilhoso. Cheirava tão bem, pensava ela. Sentiu os seus joelhos a tremerem e a cederem.
- Well, I really need to go. (Bem, eu tenho mesmo de ir.) – disse ela, na esperança de se afastar daquele corpo que não queria largar.
- See you next time! – disse Bill, largando-a.
- Yeah, that... (Sim, isso...) – respondeu ela, fechando a porta atrás de si.

-Estou? Ah Leonor, diz. Sim. Agora? E como é que estava ela? Ok, ok. Eu depois quando souber alguma coisa digo-te. Vá obrigada. – desligou.
- Então? – perguntou Luís com receio.
- Ela já se veio embora. A Leonor não sabe grande coisa porque não a viu mas ouviu-a sair. – informou Bia.
Bia e Luís tinham ficado juntos à espera de alguma notícia. Saberem que Joana tinha ido ter com Bill era um pensamento assustador e que corroía a mente. Sabiam que fora devido a Bill que tudo começara.
- Que fazemos agora? – questionou Luís.
- Não sei. Esperamos pela reacção?
- Ok. Olha, dizemos-lhe que sabemos onde ela foi? – perguntou novamente ele.
- Não. Ela diz se quiser. – disse, determinada, Bia.

Joana tinha chegado a casa. Não havia telefonado a ninguém: a última coisa que queria era falar com alguém. Estava quase a escapar-se para o quarto impunemente, quando a mãe a abordou.
- A Beatriz ligou cá para casa à tua procura. – disse a mãe, desconfiada.
- Ah... Eu atrasei-me. Perdi o autocarro e tive de ir a pé. Depois esqueci-me de ligar a dizer que já lá tinha chegado. Olha, não tenho muita fome para jantar. Eu depois como qualquer coisa. Pode ser? – disse Joana, mentindo na primeira parte.
- Está bem, mas não vás para a cama sem comer. – respondeu, ainda muito desconfiada, a mãe.
Joana apressou-se a ir para o quarto. Fechou a porta e desligou o telemóvel. Ligou a música, apagou as luzes e deixou-se ficar deitada na cama.
Estava com ele. Estavam no quarto de hotel, sozinhos. Não ouvia nada. Uma luz forte e branca impedia-a de manter os olhos constantemente abertos. Tentava perceber qual era a fonte dessa mesma luz. Frisou ainda mais os olhos e então conseguiu perceber. Era dele. Era Bill que emitia a luz, como um anjo. Aquela figura enternecia-a. Sentia-se bem e queria tocar-lhe. Aproximou-se mais dele. Estava tão perto que se estendesse a mão podia senti-lo. Vagarosamente levantou braço e tocou-lhe. Não conseguiu caracterizar a sensação de lhe tocar. Não sabia se era frio ou quente, fofo ou áspero. Mas era uma maravilhosa sensação. Agarrou-se a ele com a força que tinha para não cair. Ele não falava, apenas continuava a encadeá-la com aquela luz brilhante. Joana aproximava-se de Bill cada vez mais. Estava quase a tocar naqueles lábios; chegou-se mais perto.
Tocou-lhes. Uma onda de calor inundou o seu corpo; aqueles lábios pareciam feitos de mel, talvez fossem mesmo. Queria ficar naquela sensação, naquele momento para sempre.
- Joana acorda! – gritava alguém.
- Que se passa? – disse ela, acordando estremunhada.
- Eu disse-te para não ires para a cama sem comeres. Vem já jantar algo rápido. – impôs a mãe.
Ela lembrou-se então do que tinha sucedido. Tinha sido apenas e infelizmente um sonho. Infelizmente? Porque é que ela achava que tinha sido infelizmente? Estava Bill a impor-se novamente na sua mente?
- Joana despacha-te!
- Estou a ir, mãe.

No dia seguinte, Joana acordou cedo. Tinha adormecido na esperança de voltar lá, ao quarto brilhante. Não voltara. Limitando-se a aceitar e a viver com aquelas curtas recordações do sonho, levantou-se e preparou-se para ir tomar o pequeno-almoço. Mais uma vez sem esperar, tinha visitas.
- Bom dia. – saudaram Bia e Luís em uníssono.
- Ah... Bom dia. – disse, envergonhadamente, Joana.
A mãe de Joana apareceu, quebrando aquele silêncio de cortar à faca.
- Então meninos? Já comeram? – perguntou.
- Não. – responderam eles.
- Então venham daí que eu faço-vos umas panquecas divinais. – disse a senhora.
Luís e Joana coraram ligeiramente, mas evitando-se olhar mutuamente.
- Então ontem não apareceste... – disse Bia, começando a conversa.
- Pois, esqueci-me eu tinha um trabalho para acabar e resolvi ficar em casa. Fiquei sem bateria no telemóvel para vos avisar. – mentiu ela, baixinho, para a mãe não ouvir e desconfiar de algo.
- Ah um trabalho. Pois claro, e acabaste-o? – perguntou Bia.
- Sim. – respondeu-lhe.
Evitando mais uma vez outro silêncio constrangedor, a mãe de Joana serviu as panquecas e eles comeram em silêncio. No final, para que ninguém desconfiasse, Joana acrescentou:
- Mas como eu já acabei o trabalho, podemos ir hoje ao parque.
- Não! – disse prontamente Bia.
Joana e Luís olharam para ela, espantados com aquela reacção inesperada.
- Quer dizer... Hoje sou eu que tenho de acabar umas coisas para a escola. – mentiu, desta vez, Bia.
Joana podia ter quase a certeza que o trabalho de Bia era tão real quanto o seu tinha sido.
Bia, essa, só pensava no encontro com o seu admirador nessa tarde. Nada podia interferir. Nada ia interferir.

To be continued...

terça-feira, 10 de junho de 2008

37. O ANÚNCIO

Joana esticou a mão para fora da cama e apanhou o telemóvel que tocava insistentemente há alguns minutos. Primeiro pensou em não atender mas, depois de ser rigorosamente acordada por aquele vibrar tilintante em cima da mesinha de cabeceira, rendeu-se.
- Estou? Olá Leonor. Não faz mal, ia acordar daqui a bocado. Diz.
Joana ouviu em silêncio tudo o que a amiga disse. Claro que esta não podia ver a reacção de Joana mas quase que adivinhava. Sentada na cama, Joana estava pálida e quase sem raciocinar. Quando Leonor acabou, ela disse:
- Ah... Eu tenho de ir.
E desligou. Em choque, ela apenas pensava como é que ele se atrevia a fazer uma coisa daquelas? Que lata é que ele tinha para conseguir agir tão friamente? As se ele pensava que ela ir ter com ele, estava redondamente enganado.
Era fim-de-semana e não tinha nada combinado. Depois de no dia anterior ter acontecido aquela coisa esquisita entre ela e o Luís, não pensava que tão cedo se fossem voltar a ver. Mas enganava-se. Mal abriu a porta do quarto, a mãe apareceu-lhe a dizer que tinha visitas na sala. Ainda em pijama, foi até lá.
- Bom dia! – saudou uma Bia bastante alegre.
- Bom dia. – disse, timidamente, Luís.
Joana, que não esperava aquelas pessoas, muito menos àquela hora da manhã, quedou por um bom dia tremido.
- Bom, nós viemos aqui convidar-te para logo à tarde vires dar um passeio connosco pelo parque e ir até ao centro, comemos um gelado e conversamos. E não aceitamos não como resposta. – disse, outra vez alegremente, Bia.
- Está bem então. – concordou Joana.
- O Luís vem-te buscar que eu não posso. - informou a amiga.
- Não é preciso. Eu posso ir sozinha. Acho que já provei que consigo. – afirmou Joana.
Bia e Luís olharam um para o outro na esperança de que um tomasse a iniciativa de resposta. Ambos pensavam se era a altura de Joana andar sozinha. Ela apenas tinha voltado há uma semana para a escola e… Talvez devido ao que acontecera no dia anterior, Luís acenou com a cabeça e Bia deixou-se ir, convencida pela sua opinião.
- Está bem. Encontramo-nos no parque às duas.
Eles saíram, deixando Joana sozinha. Pensando na saída da tarde, foi ao quarto arranjar a roupa e depois tomou um banho. Vestiu-se e foi almoçar. Eram uma e meia da tarde quando ela estava pronta para sair. Tencionava andar até à paragem e depois esperar um pouco por eles. Sabia que ia chegar cedo mas queria apanhar o vento na cara. Ainda pensava sobre a proposta descarada de Bill.
Caminhou lentamente até à paragem e deixou-se ficar. O autocarro chegou pouco depois. Sentou-se nos lugares do meio e encostou a cabeça à janela. Pensava nele e como no que ele iria dizer se ela fosse ter com ele. Mas estava decidida a não ir. Umas paragens à frente, duas raparigas entraram e sentaram-se nos lugares vagos atrás de Joana. Sem perceberem, esta ouvia-as:
- …não sei se vale a pena. – queixava-se uma.
- Não sejas assim. Não nos custa nada e além disso tentamos. Se conseguirmos, olha é sorte. – dizia a outra.
- Quem me dera a mim que conseguíssemos. Melhor mesmo era que ele me convidasse para subir.
- Claro! Não querias mais nada. Era mesmo o Bill que te convidava. Ainda se fosse o Tom…
Ao ouvir estes nomes, a atenção de Joana despertou ainda mais.
- Podes ficar com esse todo para ti. Eu fico com o outro gémeo. – concluiu uma.
Tinha chegado finalmente a saída de Joana e ela carregou veemente na campainha. Sentia-se perseguida por Bill. Saiu do autocarro e apanhou o ar fresco na cara. Olhou para o relógio e reparou que ainda faltava algum tempo. Deixou-se ficar por ali, sentada sozinha na paragem de autocarro. Um placard de anúncios rotativos que estava na paragem mudou o seu anúncio de iogurtes magros para o novo sucesso do momento. Compra já o teu SCREAM, dizia o anúncio. Em grande plano estava a cara de Bill, seguida de Tom, Gustav e Georg. Joana fitou-o. Até ali ele a perseguia? Sentiu os olhos penetrantes de Bill a entrarem na sua mente. Queimavam-lhe a alma e faziam-na sentir-se fraca, vulnerável.
Ouviu um autocarro chegar. Parou à sua frente. Os passageiros saíam pela porta de trás; o motorista olhava para ela para ver se queria entrar.

- Que horas são? – perguntava Bia.
- Cinco para as duas. – respondeu-lhe Luís.
- Esperamos um bocado. Se calhar vem a caminho. Talvez tenha vindo a pé e por isso se demorou mais. – lançou ela.
Mas os cinco minutos passaram e outros vieram. Eram duas e cinco quando decidiram ligar para casa de Joana.
- Olá. É a Beatriz. Ah sim? Há quanto tempo? Está bem. Não, não. Não se preocupe. Devemos ter-nos desencontrado.
Desligou. Conforme o fez, Luís percebeu o que se passava.
- E agora? – perguntou ele.
- Agora temos de a procurar. Ela pode estar em qualquer sítio. Vou ligar à Leonor para ver se ela vem ter connosco de carro para nos ajudar. – afirmou Bia, pegando novamente no telemóvel.
- Olá, sou eu a Bia. Olha temos um problema. A Joana desapareceu. Vem ter connosco ao parque de carro para nos ajudares. O quê? Mas tu tens a certeza? Queres que vá aí? Ok, falamos depois, então. Beijinhos.
Luís olhou para ela quando desligou. Desta vez, não tinha percebido a conversa. Ao ver a cara dele, Bia começou por explicar.
- Tu nem vais acreditar…

Leonor tinha desligado o telemóvel para não ser interrompida. Queria estar À espreita, não fosse acontecer algo de greve. Encostada à porta do quarto, tentava ouvir. Só que não ouvia grande coisa.
Alguns quartos ao lado, tentava ganhar coragem para bater à porta. Sabia que era agora ou nunca. Levantou a mão e bateu levemente, como que à espera que ninguém, nem ele, ouvisse. Mas ele ouviu. A porta abriu-se, deixando-os frente a frente.
- Joana! I knew you’d come. (Joana! Eu sabia que vinhas!) – exclamou, euforicamente, Bill.

To be continued…

quarta-feira, 4 de junho de 2008

36. AS PANQUECAS

- Tens a certeza que ficas bem? – perguntou Bia, pela última vez.
- Sim, vai lá. – respondeu Joana, com uma voz sumida.
A amiga despediu-se e correu até ao carro de Leonor, que a esperava para a levar de volta à escola. Agora que já sabia a verdade sobre o que acontecera com Joana, Leonor começava a duvidar se a vinda para Portugal teria sido benéfica.
Joana chegou ao seu quarto e fechou a porta. Queria estar sozinha, por isso tinha decidido que era melhor não ir à escola naquele dia. Ainda não tinha apagado a mensagem. Depois daquela, já tinha recebido outras mas continuavam sem resposta. Porque é que ele tinha de a atormentar agora?
O seu telemóvel tocou. Teve medo de ver mas lá ganhou a coragem necessária. Felizmente era Luís. Estava a convidá-la para ir passear até ao jardim e comer um gelado. Provavelmente Bia já tinha chegado à escola e contado o que se passou a Luís, pensou Joana. Ele era realmente amigo em ajudá-la. Joana respondeu que não era preciso e que estava bem; para ele não faltar às aulas. Quinze minutos depois ele estava em sua casa.
- Anda lá dar uma volta. – pediu ele.
- Não, queria ficar aqui em casa. – respondeu ela.
- Então em casa fiquemos! A tua mãe já saiu? – perguntou Luís.
- Já. Porquê?
- Porque eu não tomei o pequeno almoço e sabes, a minha barriga já dá horas…
Joana riu-se com a casa que ele fez de esfomeado.
- Anda lá, eu faço-te qualquer coisa. Vais provar os meus dotes culinários. – disse Joana.
- Sim, chefe! Desde que não morra envenenado. – ironizou Luís.
- Vê lá é se não morres esfomeado! – ameaçou ela cordialmente.
Foram até à cozinha e Joana preparou-se para fazer o pequeno-almoço. Tirou a frigideira das panquecas e começou a preparar a massa.
- Quem te vir assim até pareces uma chefe de cozinha! – brincou ele.
- Pareço? Espera até provares para teres a certeza. – respondeu-lhe.
- Queres ajuda?
- Pode ser. Vai ao armário buscar chocolate. Traz as natas do frigorífico e os morangos da taça. – ordenou Joana.
Luís apressou-se a cumprir as ordens. Derreteu o chocolate com leite no microondas e abanou as natas.
- Panqueca a sair. – disse ela, deitando a panqueca com um gesto triunfal para o prato.
- Só por isso merecias um diploma. E agora que faço? – perguntou, deixando-se guiar por ela.
- Mete as natas e os morangos no meio da massa. Fecha e mete chocolate e natas por cima. Depois repete o mesmo para o meu.
Minutos depois, dois apetitosos crepes estavam à espera do garfo em cima da mesa. Luís esfomeado, não aguentou.
- Ai que fome! Posso?
- Podes, não te engasgues com o veneno. – gozou ela.
Ele deitou-lhe um olhar furtivo mas depois de a ver sorrir, atirou-se de cabeça para o prato. Ao ver tanta energia, Joana também sentiu fome e começou a comer. Luís, obviamente, acabou primeiro e ficou à espera que ela acabasse. Quando finalmente pousou os talheres, Luís pôde finalmente olhar para ela. Reparou que tinha um bocado de natas perto dos lábios.
- Tu até com a cara comes. Limpa-te!
- Onde? – perguntou ela, com o guardanapo na mão.
Luís levantou-se e contornou a mesa. Sem que ela tivesse visto, ele tinha passado o dedo pelo resto de chocolate que havia ficado nas bordas do seu prato. Quando se aproximou o suficiente, borrou-lhe o nariz.
- Já vais ver o que te faço! – ameaçou Joana.
Meteu a mão toda dentro do seu prato, ficando toda suja. Em seguida, fez uma pequena e rápida festa na cara de Luís, deixando-o todo sujo.
- Quando eu te apanhar! – disse Luís, começando a correr em volta da mesa.
Joana fugia dele mas ele era mais rápido. Luís só precisou de esticar o braço para a agarrar pela camisola. Ela, sentindo-se prendida, foi obrigada a parar e virou-se repentinamente. Ele, que ainda não tinha abrandado, quando parou, ficou perto, demasiado perto, dela.
Joana conseguia sentir a sua respiração, o seu perfume doce. Sentiu os joelhos a tremerem e, de repente, não estava na cozinha. Estava num quarto de hotel e não era Luís que estava à frente dela. Era Bill. Joana conseguia ver claramente os traços da cara de Bill. Sentiu os seus joelhos a tremer, aceder. Conhecia tão bem aquela sensação. Sabia o que vinha a seguir. Tinha de ser, não havia como evitar. Regressou à cozinha. Estava novamente diante de Luís. Continuavam tão próximos como antes.
- Eu tenho de ir ao quarto. Fecha a porta quando saíres. – disse ela.
Afastou-se de Luís, quebrando o olhar. Deu meia volta e foi para o quarto.

Bill invadiu o quarto de Georg mal soube que Leonor regressara. Estava cansado de não obter respostas às suas mensagens e determinado em ver Joana, custasse o que custasse. Mal viu Leonor, perguntou logo:
- Did you see Joana? (Viste a Joana?)
Leonor, apanhada de surpresa encostada ao braços de Georg, não teve tempo para pensar.
- Ja. (Sim) – disse ela, tremidamente.
- Good. Tell her that tomorrow I want to see her. And it’s not a request! (Ainda bem. Diz-lhe que amanhã a quero ver. E não é um pedido!) – ordenou Bill, saindo do quarto e fechando a porta.

To be continued…