domingo, 30 de março de 2008

10. A NOVIDADE

Bill olhou-a, muito espantado. Segurando o cigarro com as pontas dos dedos, perguntou:
- Are you feeling alright? (Estás-te a sentir bem?)
Ela sentir-se bem? Ela sentia-se mais que bem.
- Yes! But you aren’t! You can’t smoke here. (Sim! Mas tu não estás! Não podes fumar aqui.) – repostou ela, indignada.
Ele, vendo que não valia a pena arranjar mais confusões, apagou o cigarro.
- Happy? (contente?) – perguntou ele.
- Can’t you see that I’m not saying this just beacause it’s forbiden? (Não percebes que eu não estou só a dizer isto porque é proibido?) – questionou Joana.
- Well, what I’m seeing is that this will be a wonderful friendship. (Bem, o que eu estou a ver é que esta vai ser uma amizade maravilhosa.)
- Friendship? What makes you think that I want to be your friend after all that you’ve done to me? (Amizade? O que é que te leva a pensar que eu quero ser tua amiga depois de tudo o que me fizeste?) – perguntou ela, espantada.
Ele parecia apanhado de surpresa.
- Well, I... was thinking... Wait! Don’t you like the band? (Bem, eu... estava a pensar... Espera! Não gostas da banda?) – perguntou Bill.
- Yeah. (Sim.)
- So, don’t you want to meet us? (Então, não nos queres conhecer?)
- Yeah, but you’re not what I was expecting. (Sim, mas tu não és aquilo que eu estava à espera.) – disse ela, friamente.
Bill pareceu ter apanhado com um balde de água fria. Aquelas declarações tinham-no atingido brutalmente. Pestanejava, lívido, olhando escandalizado para Joana. Esta, percebendo o estrago que fizera, tentou remediar-se.
- Wait. I dind’t mean that. (Espera. Eu não queria dizer aquilo.)
- But you did. (Mas disseste.)
- What I wanted to say is that you aren’t the kind of guy I thought you were. (O que eu quis dizer é que tu não és o tipo de rapaz que eu pensava que fosses.)
Nada parecia mudar a expressão de tristeza estampada na cara de Bill e Joana começou a sentir-se mal por ter proferido tais palavras. Ao fim de uns instantes de um silêncio de cortar à faca, Bill concluiu:
- Well, I’ve already apologize. You’ve already said... what you think of me. I think that we’re done. (Bem, eu já pedi desculpa. Tu já disseste... o que pensas de mim. Eu acho que já acabámos.)
Joana ia a intervir, mas acabou por ficar calada; já tinha feito estragos a mais. Agradecendo o pedido de desculpa, saiu. Bill sentou-se na cama, pensando no que tinha ouvido; de certo que não gostou.
Joana foi encontrar Bia a falar com Gustav, Georg e Tom no quarto ao lado, que tinha a porta aberta. Pela cara que ela apresentava, todos os presentes naquela divisão perceberam que a conversa não havia sido amena. Juntas, despediram-se e foram-se embora.
Durante todo o percurso, Joana evitava o olhar da amiga e Bia não fez perguntas; Joana ia falar quando achasse que devia falar. Não falou.
Nessa noite, tanto Bill quanto Joana, demoraram a adormecer. Bill porque estava triste com o que uma fã ficava a pensar dele; e Joana porque não queria ter dito aquilo, pelo menos não daquela forma.

O dia seguinte amanheceu tristonho, com as nuvens cinzentas a assombrar a manhã. Joana levantou-se melancolicamente, arranjou-se e foi para a escola. Encontrando Bia no café do costume, contou-lhe finalmente o que acontecera na tarde anterior. Ela consolou-a e disse que ele de certo não levara a mal. Não podendo fazer mais nada, seguiram juntas para a escola.
As aulas daquele dia assim se passaram, vagarosas. Bia entristecia-se por ver Joana abatida. Por isso, foi com alguma esperança que ouviu o toque de saída da última aula, soar.
- Anima-te! Por hoje já acabaram as aulas. – dizia Bia.
- Pois...
Não havia nada a fazer a não ser deixar passar o tempo e esperar que Joana se esquecesse daquilo. Não ia ficar eternamente assim. Despediram-se uma da outra e foram para casa, sozinhas.

Já a noite estava a instalar-se quando Bia ligou o computador; estava na hora de passar a ronda pelos fóruns e blogs. Mal entrou no tópico das novidades do primeiro fórum que abriu, soube que haviam notícias escaldantes. Um vídeo com a descrição de “Têm que ver isto!” indicava que havia novidade. Bia abriu o filme e viu, atónita.
“Hallo! We’re Tokio Hotel and we would like to thank all of the fans that were at our show. Unfortunately there was an incident at the hotel door and I ended up losing my passport. Firstly, I would like to apologize to a couple of fans for having acused them. Secondly, I would like to ask the fan that took my passport to send it back to me as soon as possible or we wont be able to leave the country. Thank you and I’ll be waiting for it.” (Olá, nós somos os Tokio Hotel e queríamos agradecer a todos os fãs que estiveram no nosso concerto. Infelizmente houve um incidente à porta do hotel e eu acabei por perder o meu passaporte. Em primeiro lugar, eu queria pedir desculpa a duas fãs por as ter acusado. Seguidamente, eu queria pedir ao fã que levou o meu passaporte para mo enviar de volta o mais rápido possível ou nós não podemos sair do país. Obrigado a todos e eu vou estar à espera.”
Mal acabou de ver o vídeo, Bia pegou o telemóvel e enviou uma mensagem a Joana.
Vai às novidades dos fóruns.

To be continued...

sábado, 29 de março de 2008

9. A DESCULPA

Exasperadamente, Joana fitava a amiga sem saber o que fazer.
- Tu não tinhas o direito de me trazer aqui! Como é que tu conseguiste o número deles? – resmungou Joana.
- Curiosa? Eu explico. Quando tu fizeste aquele drama todo e te foste embora, eu fiquei. Expliquei que não éramos nós quem tínhamos o passaporte do Bill e que, provavelmente, quem o tinha eram aquelas raparigas malucas que estavam ao nosso lado e que não adiantava eles irem pedir, porque elas não iam devolver. Eles lá acabaram por entender que eu estava a falar a sério. Perguntaram-me então o que é que nós estávamos a fazer no backstage e eu expliquei-lhes a nossa pequena aventura com a troca, que agora sabemos que não foi troca, das horas. Depois, o Bill percebeu que tinha sido injusto contigo. – explicou Bia.
- Pois, mas isso não lhe dava o direito de me acusar daquela forma. – argumentou Joana.
- Mas tens de compreender uma coisa: ele viu-nos nos bastidores e não sabia quem éramos. Depois vê-nos de novo no meio daquela confusão e pensa que o andamos a perseguir. Tem lógica.
- O que não tem lógica é ele ter feito o que fez! – dizia Joana, sem baixar a guarda.
- Por acaso já paraste para pensar que sem o passaporte, ele não pode sair de Portugal, e se ele não pode, a banda também não vai? – perguntou Bia.
Joana pensou então no que a amiga lhe dissera. Visto por aquele lado, ele até podia ter razões para ficar irritado, mas por outro, ele não devia tê-la acusado.
- Mas... – ia Joana a começar de novo, quando Bia a interrompeu.
- Mas tu agora vais subir comigo porque há uma pessoa que te quer falar. – disse, puxando pela amiga.
Entrando pelo átrio do hotel como se fosse uma hóspede, Bia parou em frente ao recepcionista e disse:
- Boa tarde, eu creio que o Sr. Kaulitz avisou que vínhamos.
- Sr. Kaulitz? – perguntou Joana.
- É giro, não é?
Depois de dada a devida autorização para subirem, Joana e Bia entraram no elevador e carregaram no botão do piso para que iam.
Joana pensava: nunca ela tinha imaginado que ia estar a subir para ir ter com Bill e, de repente, em menos de dois dias, já era a segunda vez que fazia aquele percurso.
O elevador parou e elas saíram. Agora deixando que o nervoso miudinho se apoderasse do seu corpo, Joana avançava atrás da amiga. Bia parou diante de uma porta e Joana parou também.
- Bem, é este o quarto dele. Entra tu sozinha. Eu ontem resolvi tudo o que tinha que resolver com ele. Eu fico aqui à espera.
- Não! Vem comigo, vá lá. – implorou Joana.
- Não, falem vocês. Matem-se, esfolem-se, mas entendam-se sozinhos.
Ela não teve outro remédio que entrar sozinha. Bateu à porta; ninguém respondeu e ela resolveu entrar. Fechando a porta com cuidado, Joana deparou-se com um quarto luxuoso, com lençóis brancos e malas de roupas espalhadas por toda a parte. Com cuidado para não pisar a roupa de “sua alteza”, perguntou:
- Is anyone here? (Está aqui alguém?)
De uma porta que estava uns metros à sua frente e que ela presumiu ser a casa de banho, saiu Bill, em tronco nu, deixando a descoberto a sua estrela tatuada. O espanto que ele revelou e a cara que fez, mostrou que não a esperava àquela hora. Joana, que também não esperava que ele saísse sem camisola, virou-se.
- Oh... sorry. Let me just pick a t-shirt. (Oh... Desculpa. Deixa-me só escolher uma t-shirt.)
Não foi muito difícil agarrar numa, visto que estavam imensas espalhadas pelo chão. Vestiu-a.
- You can turn around now. (Já te podes virar.) – disse Bill.
Com cuidado para ter a certeza que ele já estava mesmo vestido, Joana virou-se. Tentado agir com naturalidade para que ele não reparasse no quão corada estava, disse:
- What do you want? (O que é que queres?)
- I want to apologize. (Eu quero pedir desculpa.) – começou ele.
- You already said that. (Já disseste isso.) – disse Joana, friamente.
- It’s not about the t-shirt. It’s about last night. (Não é por causa da t-shirt. É por causa da noite passada.)
Joana sabia, mas tinha perguntado de propósito. Queria ouvi-lo dizer.
- You can say it. (Podes dizê-lo.) – disse ela.
- What? (O quê?) – perguntou Bill, confuso.
- That you’re sorry. (Que pedes desculpa.)
- Oh... I’m sorry. (Oh... Desculpa.) – disse ele.
Um fervor quentinho inundou o corpo de Joana. Por dentro toda ela estava em êxtase; por fora tentava-se conter.
- Apology accepted. (Desculpas aceites.) – respondeu ela.
Bill esboçou um sorriso, abriu a mesinha de cabeceira e tirou um maço de cigarros. Puxou de um cigarro, meteu-o na boca e acendeu-o.
Joana, espantada e chocada, observava a cena, impávida. De repente, disse:
- Are you stupid or what? Light that out! ( És estúpido ou quê? Apaga isso!)

To be continued...

sexta-feira, 28 de março de 2008

8. O NÚMERO

O sol já ia alto quando Joana acordou. Olhou à volta e lembrou-se do dia anterior. Das expectativas que tinha feito para o concerto e da arrogância com que Bill a tratara. Não se lembrava de se ter vindo embora com Bia, até porque Bia tinha ficado lá.
Apressada pelo barulho do despertador, levantou-se, arranjou tudo para ir para a escola e saiu. Esperava encontrar Bia no café do costume. Assim foi. Entrando devagar, Joana sentou-se junto à amiga.
- Bom dia.
- Bom dia, então, tu ontem! Deste-lhe bem. Ele ficou cá com uma cara. Nunca te vi assim. – disse-lhe Bia.
Joana ia tentar evitar o assunto, mas depois da investida que Bia fizera, era inevitável.
- Pois. – respondeu-lhe.
- E aquele Nuno? Vai ver, quando eu lhe puser os olhos em cima até o desfaço. Depois de tanto trabalho para ganhar o número...
- O que é que tu fizeste para ganhar o número? – perguntou a agora curiosa Joana.
- Vais ver o que lhe faço! Bem, está quase na hora. Vamos?
- Pois.
Lado a lado, lá foram para a escola. Encontrado Nuno já sentado no seu lugar, Bia ficou impossibilitada de qualquer plano. Durante a aula, Joana fitava-a, a medo que esta saltasse para cima dele e ali mesmo, o estrangulasse.
A aula passara, com Joana a chegar à conclusão que Bia recebia demasiadas mensagens de telemóvel num dia. Se havia coisa que Joana não dava importância, era ao telemóvel. Mal teve tempo para acabar o pensamento; Bia atacava verbalmente Nuno.
- Seu... seu... Ai! Parvo, estúpido, idiota. Perdemos o Meet and Greet por tua culpa! – dizia ela, enervada.
- Minha culpa? Eu tenho culpa que tu não sabias ver as horas! – defendia-se Nuno.
- Vês! Eu nem disse que eram as horas que estavam mal e tu já sabias. Fizeste de propósito.
Percebendo que fora descoberto e mesmo assim não ligando muito ao assunto, ele disse:
- Coitadinha. Não viste os teus queridinhos, foi?
- Queres saber que mais? Vi, estive com eles no hotel e tenho o número deles. Sabes, ainda bem que não fui ao Meet and Greet. Estar com eles lá foi muito melhor. – disse Bia, vindo-se embora, deixando Nuno perplexo.
Joana, que havia estado a ouvir a conversa, perguntou intrigada:
- Porque é que mentiste? Tu não...
- Shh... Cala-te! Anda, não deixes ele ouvir-te. – respondeu Bia, puxando por ela.
Já longe do alcance auditivo de Nuno, Joana foi esclarecida.
- Tu não querias que eu lhe contasse o fracasso do Meet and Greet, querias?
- Não, mas tu mentiste. Disseste que tinhas... – começou Joana.
- Eu sei o que disse. Esquece isso. Olha vens comigo logo à tarde à loja de revistas? É que devem ter saído as revistas com as fotos do concerto. – pediu Bia.
- Vou, mas é só porque sou tua amiga. Depois do que aquele parvo fez, não tenciono comprar revistas com a cara dele tão cedo.
- Pois.
Assim passou o resto do dia, com Bia a fazer um ar superior sempre que via Nuno. Este, por sua vez, combatia num duelo interior para não lhe ir do que é que ela estava a falar quando disse que esteve com eles no hotel.
Finda a escola, Joana acompanhou Bia até à loja. Preparava-se para tocar na campainha para o motorista saber que elas queriam sair na próxima paragem, quando foi intersectada.
- Não toques! – pediu Bia, de repente.
- Mas, a loja é na próxima paragem. – disse-lhe Joana.
- Eu sei, mas eu descobri uma loja nova, que tem revistas estrangeiras.
- Mas tu queres é as revistas do concerto de Portugal, não do estrangeiro. – argumentou Joana, novamente.
- Sim, mas... saber o que se passa lá fora também é importante. – concluiu Bia, acabando com a conversa.
Algumas paragens mais tarde, foi a vez de Bia se levantar e tocar.
- Bia, mas... – começou Joana.
- Tem, calma. Eu sei o que estou a fazer. – disse ela, interrompendo a amiga.
Saíram do autocarro. Joana ficou a olhar para o edifício que se erguia à sua frente.
Estavam diante do Hotel Pestana Palace, quando Bia tirou o telemóvel e fez uma chamada, falando sempre em inglês. Acabada a ligação telefónica, Joana falou-lhe.
- Bia, quando tu disseste ao Nuno que tinhas o número deles, não estavas a mentir, pois não? – perguntou ela, percebendo quem fora o destino da chamada.
- Não. – respondeu Bia.

To be continued...

7. A ATITUDE

Naquele momento, todas as pessoas que prestavam atenção a Bill, e que eram muitas, olharam para elas. Bia e Joana eram capaz de sentir cada olhar fervoroso, analisando cada centímetro do seu corpo.
O segurança que mais perto delas se encontrava, agarrou-as e levou-as atrás da banda. Bill agradeceu com um sorriso às pessoas que lhe haviam devolvido as coisas e seguiu atrás deles.
Georg, Tom e Gustav não percebiam o porquê de irem duas raparigas com eles. Lá dentro, no átrio do hotel, o segurança revistou as raparigas, ignorando os seus comentários de estarem inocentes e de não perceberem o que se estava a passar. Quando não encontraram nada, e depois de Bill ter explicado aos outros o que se passava, Tom sugeriu:
- Wenn sie Ihren Reisepass haben, werden sie nicht geben. Sprechen Sie mit ihnen und nett fragen. (Se elas têm o teu passaporte, elas não to vão dar. Fala com elas e pede-lhe gentilmente.)
Aceitando a opinião do irmão, que reagia melhor em situações complicadas, Bill pediu aos seguranças que as largassem e disse-lhes:
- Could you came with us? (Podem vir connosco?)
Bia e Joana olharam uma para a outra; antes tinham-nas expulso e agora convidavam-nas para ir com eles? Joana estava quase a dizer que não, quando Bia se antecipou; vira naquele pedido, a oportunidade de estar com eles e de fazer valer o Meet and Greet perdido.
- Of course. (Claro.)
Arrastando Joana trás de si, Bia seguiu-os. Entraram todos no elevador. Um silêncio constrangedor abateu-se sobre eles, enquanto subiam. Mal saíram, foram encaminhadas para um sala comum e de novo se fez silêncio. Ao fim de alguns segundos, Bill falou:
- So, what do you want? (Então, o que querem?) – perguntou ele.
Bia e Joana estavam confusas; elas só queriam ir ao Meet and Greet. Bill continuou, ignorando as suas expressões faciais.
- Do you want to take a picture with me? Do you want an autograph? What do you need to give me my passport? (Querem tirar uma foto comigo? Querem um autógrafo? Do que é que precisam para me darem o meu passaporte?) – continuava ele a perguntar.
Elas sentiram-se mal por ele as estar a culpar e ofender. Angustiada, Joana fez menção de se ir embora, mas foi barrada por um segurança.
- Deixe-me passar!
- No, no, stay back. Stay back. (Não, não, para trás. Para trás.) – dizia ele.
Possuída de um modo que Bia nunca vira, Joana abriu a mala despejou todo o seu conteúdo no chão e tirou o casaco, ficando com o top minúsculo que Bia tinha escolhido. Gritando, disse:
- See, I don’t have your passport. Are you happy now? Can I leave? (Vês, eu não tenho o teu passaporte. Estás contente agora? Posso ir embora?)
Dito isto para Bill, que estava perplexo, Joana pegou nas suas coisas que estavam no chão e foi-se embora, batendo com a porta, deixando para trás o espanto.

To be continued...

quinta-feira, 27 de março de 2008

6. A PERSEGUIÇÃO

Cada vez mais perto, os passos faziam aumentar as expectativas nas cabeças de Bia e Joana.
Num repentino atirar da porta contra a parede, surgiu Georg fugindo de Tom, que entrou logo de seguida, perseguindo o seu cabelo com uma garrafa de água. Mal a banda entrou toda na sala, Gustav atirou-se para o chão e Georg apressou-se a esticar-lhe a perna, por causa do concerto. Devido a estar no chão, apenas Bill, Tom e Georg se aperceberam daquelas duas raparigas que estavam ali especadas.
- Who are you? (Quem são vocês?) – perguntou Bill, com o seu conhecido sotaque.
Desta vez, tanto Bia quanto Joana paralisaram. Diante dos seus olhos estavam os Tokio Hotel, a banda que elas tanto veneravam. Como nenhuma das duas respondera e nenhum deles fora avisado de que iam estar duas raparigas no backstage, eles começaram a desconfiar.
- Ich denke, dass wir um die Sicherheit. (Eu acho que é melhor chamar a segurança.) – disse Tom, preocupado, saindo em seguida.
Bia e Joana não perceberam mas acharam que, para seu próprio bem, era melhor começarem a explicar-se.
- We... are.. We are the... (Nós... somos... Nós somos as...) – começou Bia, mas as palavras não lhe saíam da boca, tal era o choque.
Segundos depois, Tom surgia na sala acompanhado por dois seguranças que, ao pé dele, o faziam pequeno. Sem precisar de tradutor, Bia e Joana perceberam que eles as iam expulsar. Perante tal situação, ambas despertaram. No entanto, era tarde de mais; estavam a ser agarradas e levadas à força. Apesar disso, gritaram quem eram e o que faziam ali, parecendo umas fãs histéricas e fazendo com que aquilo que diziam parecesse mentira.
- Leave me! We are the winners. We won the Meet and Greet. (Largue-me! Nós somos as vencedoras. Nós ganhámos o Meet and Greet.) – gritava Bia.
Elas apenas se calaram quando foram postas do lado de fora e lhes bateram com a porta na cara. Tristes e revoltadas, Bia e Joana não tiveram outro remédio que sair dali.
Lá fora, com o ar fresco a bater-lhes na cara, acalmaram-se. A multidão ainda se aglomerava em pequenos grupos que ali ficavam; outros seguiam caminho para o hotel, onde sabiam que a banda estava.
A Bia e a Joana, não restavam muitas oportunidades; depois de Bia ter feito o que quer que seja que ela fez para ganhar o número, foram expulsas, sem conhecer a banda.
- Eu não me vou embora assim! Não depois de me custar a ganhar o Meet and Greet! – barafustava Bia.
- A propósito, o que foi que fizeste? – perguntava Joana, curiosa.
Bia não ouviu ou não quis ouvir; o certo é que pegou num braço de Joana e arrastou-a dali para fora. Entraram no primeiro táxi que lhes apareceu. Joana não sabia o que passava na cabeça da amiga até lhe ouvir três palavras.
- Hotel Pestana Palace. – disse Bia, para o taxista.
Como quem olha para um maluco, Joana olhou para Bia. Percebendo perfeitamente o que lhe passava pela cabeça, Bia disse:
- Isto não fica assim, vais ver!
Como já era de prever, as estradas de acesso ao hotel estavam engarrafadas por pais que conduziam os sonhos das filhas, na ânsia de ver apenas um bracinho ou até mesmo um fio de cabelo de um elemento dos Tokio Hotel.
Bia e Joana agradeceram, pagaram e saíram. Perfizeram o resto do caminho a pé. Chegadas à entrada, centenas de pessoas acumulavam-se em frente da porta principal. Como sempre, e para fazer como ditavam as leis dos famosos, a banda estava atrasada. Bia e Joana não tiveram outro remédio que esperar e ver se conseguiam, no meio daquela gente toda, localizar a simpática senhora que sabia que elas eram as genuínas vencedoras.
O frio era ultrapassado aos gritos e saltos, cantando e animando toda a área das redondezas com músicas dos Tokio Hotel. Ao lado de Bia e Joana, encontrava-se um grupo de raparigas, pouco mais novas que elas, que empunhavam cartazes e faixas com declarações amorosas escritas em alemão.
Quando a esperanças, as armas e as vozes estavam quase a esmorecer, uma carrinha preta, vez vibrar até a mais pequena partícula que ali se encontrava. Novamente os gritos encheram a zona. Da carrinha saíram Georg, Gustav, Tom e Bill.
À frente, os seguranças furavam o mar de gente que ali se encontrava, tentando abrir caminho para as estrelas passarem. Georg, Gustav, Tom e Bill iam correspondendo aos autógrafos que podiam, visto que dezenas de braços se estendiam com cadernos, CDs e até outras coisas menos decentes.
A banda aproximava-se cada vez mais do sítio onde as raparigas estavam. Bia e Joana tentavam ver se avistavam a senhora mas sem sucesso. Quando eles se aproximaram do local onde elas se encontravam, os gritos aumentaram ainda mais.
Bill assinava o cartaz das raparigas que estava ao lado de Bia e Joana quando, de repente, o caos rebentou. Alguém puxara a mala que Bill trazia, fazendo cair por terra todo o seu conteúdo. Óculos, escova de cabelo, carteira, leitor de música, caderno, tudo o que se encontrava dentro da mala, estava agora espalhado pelo passeio. Sem fazer o impasse de espera e apanhando os seguranças desprevenidos, as fãs mergulharam para o chão deitando a mão a tudo o que conseguiam. De imediato, a segurança precipitou-se e agarrou quem pôde. As fãs devolveram a Bill os seus pertences, depois de ele tirar uma foto com cada uma delas.
Bill confirmava se tinha tudo quando soltou um pequeno grito agudo.
- Mein Reisepass! Wo ist mein Reisepass? (O meu passaporte! Onde está o meu passaporte?) – perguntava Bill, assustado.
Os seguranças olharam à volta; Bill olhou à volta; toda a gente olhava para toda a gente, sem perceber o que ele tinha dito. Quando o olhar de Bill se prendeu em Joana e Bia, disse, reconhecendo-as como as raparigas estranhas que estavam misteriosamente no backstage:
- Sie verfolgen mich! (Elas estão a perseguir-me!) – apontando para elas.

To be continued...

quarta-feira, 26 de março de 2008

5. OS CARTÕES

Joana ficou impávida e serena, aceitando a tristeza do atraso. Bia, que não gostava nada que Joana não reagisse, reagiu pelas duas.
- Mas nós gastámos tanto dinheiro. Sonhámos tanto. Como é que foi há uma hora atrás. No papel está escrito que é agora. – disse Bia.
- Deixe lá ver – respondeu a senhora, pegando no papel. – Pois, quem é que lhe disse isto?
- Ah... um colega.
- Pois. Está tudo correcto mas as horas estão mal. Foi há uma hora atrás. Desculpem.
Bia pestanejava freneticamente, para não chorar. Joana também tinha agora uma expressão de desilusão na face. Perante tal cenário, a mulher, revelando a sua enorme simpática, anunciou:
- Olhem, eu não posso prometer nada, mas talvez vos consiga uns minutos com eles, depois do concerto. Vocês eram realmente as vencedoras e duvido que tenham perdido o Meet and Greet de propósito. Façam assim, peguem nestes cartões – disse ela, estendendo dois cartões de acesso ao backstage para pendurar ao pescoço – mas guardem-nos. Se vos vêem com eles é o desastre. Depois do concerto, venham cá que talvez se arranje alguma coisa.
Bia e Joana nem pestanejaram. Aceitaram os cartões e desfizeram-se em agradecimentos. Voltaram para o recinto, tendo o cuidado de guardar os passes nas mochilas e de ficarem bem junto às grades laterais, para facilitar o acesso no final.
Para entreter os milhares de fãs que ali se encontravam, tocaram músicas e, no final de cada, os gritos enchiam o recinto. O calor aumentava, bem como a ânsia de todos os presentes. Quando, finalmente, as luzes se apagaram, foi o descalabro. Gritos, desmaios, faltas de ar, lágrimas, tudo acontecia naquele momento. A assistência teve que pedir para se acalmarem para a banda poder entrar em palco.
E foi assim, com as luzes apagadas e os gritos a cessar, que o momento esperado aconteceu. Com um altifalante e microfone na mão, entrou Bill, vestido com calças justas e casaco preto. Com a sua Gibson, estava Tom, sempre com um boné. De t-shirt entrou Georg, a acenar à plateia. A brincar com as baquetas, estava Gustav, já sentado no seu lugar. Se antes os gritos eram muitos, agora eram tantos que faziam os anteriores meros sussurros.
De tão extasiada que estava, Joana não se lembrara bem das primeiras músicas; lembrara-se apenas de considerar este o mais perfeito e monumental concerto da sua vida. E foi isso que, de facto foi: monumental.
Com a adrenalina em níveis elevados, Bill, Tom, Gustav e Georg deram um espectáculo inesquecível. Durante aqueles cento e vinte minutos, milhares de pessoas vibraram a ouvir as suas músicas preferidas. Quando o concerto findou, soube a pouco para alguns. Caminhando na direcção oposta da do resto da plateia, Bia e Joana foram para o backstage, usando os cartões que haviam retirado das malas.
Esperaram nervosas pelo momento longínquo. Longínquos estavam também os passos que se aproximavam.
- Bleiben Sie von meinem Haar fern! (Mantém-te afastado do meu cabelo!) – dizia uma voz que elas tão bem conheciam.

To be continued...

4. O ATRASO

Conhecendo tão bem a amiga como conhecia, Bia ficou reticente. Sempre soube que Joana era a mais tímida e recatada. Sabia que foi por isso que Nuno tinha pedido para ela sair. Foi também por isso que lhe respondeu, o que respondeu:
- Nada. O que importa é que já temos o número.
Joana anuiu, deixando-se convencer pela mentira que Bia fingia ser verdade e que Joana fingia acreditar.
Joana sabia que Bia a costumava proteger de certas verdades e acontecimentos. Assim fora quando Bia, no tempo em que era uma rapariga popular da escola, faltou às aulas com o seu grupo para irem para a praia, e quando fora descoberta, insistiu que Joana não sabia de nada, livrando-a assim do castigo. Joana sabia o quão sortuda era. Sabia que se não fosse Bia, o facto de gostar da banda de que gostava, era o suficiente para ser mais gozada do que era. Lembrara-se perfeitamente do dia em que uma foto dos Tokio Hotel fora descoberta no cacifo de Bia. O fim da sua ascensão social estava marcado. Desde então, passaram a andar sempre juntas, sempre vistas de lado. Foi também desde então que Nuno, antigo amigo popular de Bia, as passou a atormentar.
E foi assim que foram para casa, juntas.

Tinham passado os dias de aulas, lentamente, para alguém que tinha agora um Meet and Greet para ir. Bia estava cada vez mais histérica e Joana cada vez mais nervosa. Não sabia como agir, o que falar ou até mesmo o que vestir. Por sua vez, Bia, já tinha vestido todo o seu guarda-roupa e encontrado, segundo ela, a peça perfeita.
Joana continuava desconfiada do que se tinha passado naquela casa de banho. Sempre que se cruzavam com Nuno, ele fazia a cara de galo do galinheiro.
O dia do concerto tinha finalmente chegado e Bia ficou de se encontrar em casa de Joana e dali seguirem juntas. Como já era de esperar, Bia nem cinco minutos demorou a vestir-se, uma vez que já tinha a indumentária definida. Como também era de esperar, Joana estava a ter graves problemas em se vestir. Bia nem quis acreditar quando chegou.
- Jô, cheguei! Vamos embo... O que é que tu estás a fazer ainda assim? – perguntou ela alarmada, ao ver Joana em pijama.
- Eu não sei... Eu não sei o que hei-de vestir. – confessou-lhe a amiga.
- Sai daí. – disse, colocando-se em frente ao guarda-roupa – Hum, esta não. Ok, esta nem pensar. Talvez esta aqui com... Hum aquela camisola não, mas o top talvez. Toma, veste isso.
Joana pegou na roupa que Bia tinha escolhido e vestiu. Achou-se um bocado extravagante e despida, mas vestiu um casaco e achou que estava melhor.
Saíram de casa horas antes do concerto, porque sabiam que não precisavam de estar na fila para o Meet and Greet. O que elas não sabiam era que os acessos ao recinto estavam condicionados e nenhum carro conseguia passar. As horas que levavam de avanço, eram única coisa que avançava velozmente.
Progredindo a passo de caracol, quando acharam que estavam suficientemente perto, saíram do autocarro e fizeram o resto do caminho a pé. Mal dobraram a esquina, viram uma imagem de cortar o fôlego. Não eram dezenas nem centenas; eram milhares de fãs que se avistavam até onde se perdia a vista.
Joana e Bia percorreram tudo à procura da porta de entrada, pedindo licença a três pessoas para conseguirem dar um passo. Finalmente conseguiram convencer o segurança que de eram mesmo elas que tinham ganho o concurso, mostrando o número de acesso. Empolgadas, correram pelo corredor, até um porta de apenas pessoal autorizado. Sentindo-se especiais, bateram e esperaram.
Uma senhora, não muito mais alta que elas, com um auscultador no ouvido e a falar para um pequeno microfone pendurado na camisa, veio-lhes abrir a porta.
- Sim? – perguntou ela, vendo-as ali.
- Nós... nós... – começou Joana, mas os nervos fizeram-na calar-se.
Bia, com medo de serem corridas dali para fora, tomou a palavra.
- Nós ganhámos o Meet and Greet. Temos aqui o número. – disse, estendendo o papel rabiscado.
A mulher fitou-as, de alto a baixo e depois, com muita calma e simpatia, disse:
- Meninas, o Meet and Greet foi há uma hora atrás. Já acabou.

To be continued...

terça-feira, 25 de março de 2008

3. O FAVOR

À cautela, Bia e Joana avançaram, um passo de cada vez. Mal a porta se abriu, Nuno pôs um sorriso na cara. Felizmente, estava só ele lá dentro, coisa que ele próprio providenciara, expulsando os miúdos mais pequenos.
- Demoraram tanto tempo. Pensei que fossem mais rápidas. – disse ele, sarcasticamente.
- Como é que tu ganhaste o... – ia Bia a perguntar, mas não teve forças para concluir a frase.
- Eu sei que custa a dizê-lo. Eu devo confessar que também fiquei assim, mas depois passou. Não te preocupes, vai passar.
Bia acordou, perante este sarcasmo. Joana continuava dormente; o dinheiro que elas tinham gasto, as vezes que elas devotamente ligaram, e agora era Nuno quem tinha a entrada livre para uma banda que nem sequer gostava.
- O que é que queres? – perguntou Bia, tentando não mostrar a vontade que tinha de ganhar aquela entrada.
- Já começas a falar a minha língua. – disse Nuno, piscando o olho, atrevidamente.
- Pela última vez, o que é que queres? – disse Bia, com cara séria, não transparecendo nem um pouco a ânsia que tinha de ir ao Meet and Greet.
Enganado pela cara e voz que ela fez, ele pensou que falava a sério e não esteve com redundâncias.
- Podes dizer à tua amiga para sair. O que eu quero é só contigo. – disse de uma vez, sem pestanejar.
Bia percebeu que ele não estava a brincar. Também ela não estava: iria fazer tudo o que fosse preciso para ganhar aquela entrada. Virando-se para Joana, que permanecia em estado vegetativo, disse:
- Jô, espera lá fora. Eu tenho de lhe sacar o número de entrada, custe o que custar. – disse ela, empurrando Joana, que estava ainda a absorver o choque de ter sido quem foi a ganhar o prémio.
Joana esperou cá fora tempo suficiente para acordar da dormência em que se encontrava. Uma vez saída do coma, olhou à volta e tentou lembrar-se de como tinha ido ali parar. Quando olhou para a porta da casa de banho, lembrou-se. Fez menção de entrar, mas algo a deteve e a fez retirar a mão do puxador.
Não entrou. Pensou no que podia encontrar do lado de lá daquele pedaço de madeira. Já bastava o choque de Nuno ter ganho o concurso, quanto mais um choque ainda pior.
Minutos depois, Bia saíra da casa de banho seguida de Nuno. Este fora-se embora, sem encarar Joana. Bia esperou que ele saísse do seu campo de visão para falar.
- Já tenho o número de acesso! Jô! Nós vamos ao Meet and Greet! Nós vamos conhecê-los!
Joana não sabia por onde havia de pegar. A excitação de ir conhecê-los, misturava-se com a curiosidade e preocupação em relação ao que a amiga teria feito.
- Jô! Vamos! Nós as duas. Tu vens comigo, certo? – perguntava Bia, ignorando o estado de espírito da amiga.
- Certo, mas Bia, o que é que ele quis? – perguntou Joana, timidamente.

To be continued...

segunda-feira, 24 de março de 2008

2. AS CASAS DE BANHO

A muito custo, meteu a mão ao bolso e tirou o telemóvel.
- Sim?
- Estou sim, boa tarde. Estou a ligar-lhe para lhe comunicar que acabou de ganhar o Meet and Greet com os Tokio Hotel. Muitos parabéns.
- Ah...
- Sim? Está aí alguém? – perguntou a voz do outro lado do telefone.
- Sim... Ah... Claro. Eu ganhei? Mas...
- Sim, foi o seu número o sorteado. Vamos enviar-lhe uma mensagem com a confirmação e onde é que tem que estar no dia do concerto e com quem tem de falar. Junto irá um número que servirá como identificação do vencedor, ok?
- Mas... Tem a certeza? É que eu...
- Tenha calma, eu compreendo que o choque seja grande. No meio de milhares de pessoas, você foi o escolhido. Vai ver que isso passa. Vá, vá lá comemorar. Parabéns. – a voz calou-se, desligando e telefone.
Em choque, guardou o telemóvel. Ali ficou, sem saber o que fazer com o prémio que acabara de ganhar.

Fez-se tarde e Bia despediu-se de Joana. Haviam corrido todos os Fóruns e Blogs e, quando deram por isso, já passava da hora que ia ser anunciado o vencedor do Meet and Greet. Olharam, com tristeza para o ecrã do telemóvel, constatando a dura verdade: não haviam ganho.
Joana ficou sozinha no quarto, pensando que apenas lhe sobrava a hipótese de irem para lá bastante cedo, para tentarem ficar o mais à frente possível. Analisando agora as hipóteses, era praticamente impossível terem ganho; provavelmente havia uma fã que tinha ligado tantas vezes que saíra o número dela.
Para tirar todas as dúvidas, voltou a varrer todos os sítios e lugares para ver se o vencedor tinha dado a cara. Em todos os tópicos, a pergunta era a mesma: quem ganhou? Ninguém se vangloriara da vitória, ninguém reclamara o lugar. Joana pensou que talvez não quisesse dar a cara, guardando para si toda a felicidade de estar com eles.

O sol espreitava pela fresta que ficara aberta entre as cortinas. Bia, voltou-se para o lado, mas o grito da sua mãe a chamar por ela, fê-la encarar que tinha que se levantar. Arrastando uma perna de cada vez, lá se dirigiu para a casa de banho. Vestindo-se melancolicamente, acabou por sair de casa atrasada.
Encontrou-se com Joana no café do costume. Como sempre, tomaram o pequeno-almoço habitual. Evitando falarem das tentativas falhadas e do dinheiro gasto, cingiram-se às queimaduras que as torradas daquela manhã apresentavam.
Quando faltavam alguns minutos para entrarem, foram para a escola, recolhendo-se às casas de banho que, àquela hora se encontravam vazias, para poderem falar em paz e sossego.
Para azar delas, ou talvez não, Nuno tinha-as visto e, sem lei nem pudor, entrou na casa de banho, ignorando a tabuleta que dizia raparigas. Bia e Joana, que felizmente estavam só a falar, ficaram espantadas.
- Sai daqui! Isto é uma casa de banho das raparigas! – ordenou Joana.
- Deixa, Jô. Ele resolveu assumir-se. – disse Bia, virando-se para Nuno – Queres que te empreste o batom, querida?
Nuno riu-se.
- Não devias falar assim para mim, olha que ainda te vais arrepender. – respondeu-lhe ele, com ironia.
- Duvido e sai daqui, se te apanham aqui dentro, estamos feitas!
- Olha que eu tenho uma coisa que tu queres. – disse-lhe ele.
- Só se for distância, porque a única coisa que eu quero de ti é distância. – atirou Bia, com desdém.
- Ai, sim? Pensava que querias ir ver os teus queridos Tokio Hotel.
Joana, que tinha adormecido mentalmente, despertou ao ouvir o nome.
- O quê? – perguntou ela, sobressaltada.
- Os teus queridos Tokio Hotel. Pensei que os querias ir ver. – repetiu Nuno.
- És tu que vais fazer força com os seguranças deles que, por acaso, são umas dez vezes maior do que tu, mas tu vais ignorar esse facto porque te achas demasiado bom, e então vais lutar com eles para que depois sejas metido dentro de uma lata de sardinha e finalmente toda a gente perceba o parvo que és? – disse Bia, tudo de seguida, perdendo o fôlego nas últimas palavras.
Nuno, ou não percebeu, ou fingiu que não quis perceber, pois não lhe respondeu. Joana preferiu acreditar na primeira hipótese.
- Fui eu que ganhei o Meet and Greet. Mas pronto, já que nada em mim te interessa, vou eu conhecer o cabelinho espetado e o das trancinhas.
- São rastas e sai daqui! – disse Bia, empurrando-o e fechando a porta em seguida.
Joana estava colada à parede. Ainda raciocinava as últimas palavras de Nuno.
- Bia... Tu... Tu ouviste o que ele disse? – perguntou ela, devagar.
- Joana! Não me digas que vais acreditar no que ele diz. Achas mesmo que ele ganhou? Com milhares de pessoas a ligarem, havia de ser ele que, mesmo só ligando uma vez e não querendo ir, ia ganhar?
Visto por aquele lado, Joana achou que a amiga tinha razão.
- Pois, é capaz.
A campainha tocara e o barulho soou pelos corredores. Saíram e encaminharam-se para a sala, tendo o cuidado de, uma vez lá dentro, se sentarem bem longe de Nuno.
Decorrida a primeira parte da aula, Nuno achou que era a altura ideal para pôr em prática o seu plano. Tirou o telemóvel do bolso, abriu na mensagem que queria e pousou o telemóvel na secretária de Joana, que estava mais perto. Ela não queria ver mas, com medo do professor ver o aparelho em cima da mesa, pegou nele e pô-lo no colo. Não conseguindo evitar, leu o que Nuno queria que ela lesse. Só não caiu da cadeira, porque se lembrou que estava na sala de aula e manteve a compostura. Discretamente passou o telemóvel a Bia, que teve a mesma reacção que ela, apenas soltando um pequeno ruído agudo. Para reaver o telemóvel, Nuno teve que pedir licença para ir deitar um papel ao lixo e arrancar, das mãos petrificadas de Bia, o aparelho.
Ao fim de quarenta e cinco longos minutos, a aula findou. Nuno pegou nas suas coisas e foi-se embora, bem como o resto da turma. O professor ao querer fechar a sala e ver que duas alunas não se levantavam, falou:
- Mas as meninas tencionam ficar aí a germinar?
Elas perceberam que a aula acabara e, atordoadamente, levantaram-se e saíram. Cá fora, fizeram uma analepse de tudo o que havia passado. Relembraram a mensagem... Nuno! Onde estava ele?
Procuraram por todo o lado, quando por fim perceberam que só havia um sítio onde ele podia e, de facto, estava.
Ignorando a tabuleta, entraram na casa de banho dos rapazes.

To be continued...

1. O TELEFONEMA

Bia dobrava o papel repetidamente, com cuidado para o professor não ver. Esticou o braço e passou para trás. Joana fingia que não via. Bia fez-lhe sinal:
- Pst!
Joana teve que olhar, não pôde ignorar.
- Que é que foi, estamos na aula! – respondeu-lhe em surdina.
Bia encolheu os ombros e atirou-lhe o papel. Nuno, o rapaz que estava sentado atrás de Bia, conhecido por ser o mandão do grupo de rapazes, apanhou-o antes de Joana ter tempo de o agarrar. Bia não se pôde virar para resmungar, pois o professor podia apanhá-la. Tudo o que ela menos queria era que Nuno lesse o que estava lá escrito; já sabia que no intervalo vinha o gozo. Porque é que ele não a deixava em paz?
Contrariamente ao que ela queria, ele leu, dobrou e devolveu a Joana. Esta apressou-se a apanhá-lo. Rasurado com a letra da amiga estava um LIGAMOS DEPOIS PARA O MEET AND GREET?
Joana e Bia já se conheciam desde que entraram para aquela escola. Logo no primeiro dia, em que tudo era novo e ninguém conhecia ninguém, elas ficaram amigas.
Joana era uma rapariga de 18 anos, estatura média e morena. Bia, igualmente com 18 anos, era pouco mais alta que Joana e tinha o cabelo ruivo. Estas duas grandes amigas partilhavam uma paixão: a banda preferida.
Nenhuma das duas se lembrava bem como havia surgido esta paixão, mas ambas sabiam que era um ponto em comum.
Agora, ali, na aula, Bia passara o papel a Joana, na ânsia de encontrar uma resposta para o nervosismo que a corroía por dentro. A banda predilecta das duas vinha a Portugal e surgira a oportunidade de os conhecer.
Desde que a notícia saíra, que tanto Bia quanto Joana, andavam freneticamente agitadas. Conhecê-los, poder estar com eles, falar-lhes, e lá no fundo, no mais secreto dos desejos, a oportunidade de um deles se apaixonar por elas... No entanto, a mesma esperança era partilhada por milhares de fãs da banda. Todas queriam o mesmo: os Tokio Hotel.
A aula finalmente acabara e elas apressaram-se a sair. Foi Bia, a mais excitada, quem falou primeiro:
- Vá liga lá!
- Que ideia foi a tua de passares o papel na aula? Agora aquele estúpido leu e se o stôr te apanhasse! – advertiu Joana, tirando o papel com o número da carteira.
- Estão a falar de mim? – perguntou Nuno, aproximando-se.
- Sim, estamos, aquela parte do estúpido era para ti! – respondeu-lhe Bia.
- Não sejas assim, olha que isso trás má sorte para ligar. – dizia Nuno reparando que Joana tinha o número na mão.
Ela nem teve tempo de reagir. Num gesto rápido, Nuno roubou-lhe o papel e começou a ligar do seu telemóvel.
- Dá cá isso, parvo!
- Desliga, não te armes! Devolve isso, ladrão! – gritou Bia.
Nuno ria-se e só desligou quando a chamada acabou.
- Pronto, já está. Agora já estou inscrito para ir conhecer os meus lindos e queridos Tokio Hotel – disse ele, em tom de gozo.
- Estúpido, dá-me o papel! – ordenou Joana.
Ele devolveu, riu-se e foi-se embora.
- Que parvo! – resmungou Bia, minutos depois de perderem Nuno de vista. – Bem, ligamos ou não?
- Sim, claro. Espera.
A amiga lá acabou por tirar o telemóvel da mala. Apesar de não o demonstrar, também estava em êxtase para telefonar. A diferença é que, ao contrário de Bia, Joana era mais comedida.
Ligou. Do outro lado um “Aguarde por favor” de uma voz feminina, fazia aumentar as expectativas. Momentos depois, a mesma voz mecânica, voltou a falar: “A sua chamada foi registada com sucesso, obrigada”.
- Pronto, já está. – afirmou Joana.
Bia pareceu mais aliviada, mas algo a assombrou.
- Olha, se fores a escolhida... ah... levas-me contigo? – perguntou ela, à cautela.
- Claro! E tu a mesma coisa, certo?
- Claro que sim!
Saíram as duas da escola e dirigiram-se para casa de Joana. No caminho pensavam na possibilidade reduzida de ganharem. Fazia poucos dias que tinham ouvido na rádio que o Meet and Greet da sua banda ia ser sorteado. Para tal, bastava que ligassem e ficariam automaticamente inscritas. Bia gastara a sua mesada logo no primeiro dia, em chamadas. Depois, seguiu-se a vez de Joana. Esta mais comedida, ligava duas vezes por dia, para não gastar o dinheiro todo de uma vez.
A esperança, proporcionalmente à excitação, aumentara até àquele dia. À noite, iriam ser apresentados os resultados das vencedoras. A atmosfera que se fazia sentir entre todas as fãs da banda, por todo o país, era apenas comparável à do dia do concerto.
Bia e Joana prosseguiam caminho para casa. Fizeram de tudo para ignorar a cena passada com Nuno. Chegadas a casa, atacaram logo os Fóruns e Blogs da banda, fazendo valer o papel de boas fãs que eram.
Estavam há horas naquilo. Quando iam a meio das fotos dum concerto, um telemóvel tocou. Do outro lado, uma voz feminina esperava para dar a boa notícia. O problema é que não foi o telefone de Bia nem de Joana que tocou.

To be continued...

sábado, 22 de março de 2008

MUDANÇA DE BLOG E NOVA FANFICTION

Meu caros,
Informo que a Fanfiction UMA QUALQUER HISTÓRIA ESPECIAL, está agora hospedada no blog http://uma-qualquer-historia-especial.blogspot.com/
A alteração surge devido ao início de uma nova história, que teve necessidade de se separar da outra.
Aguardem para breve a publicação do primeiro capítulo aqui.
Obrigada,
Elisabete.