terça-feira, 29 de abril de 2008

27. A OFERTA

- Joana! – gritava a voz da mãe. – Joana, estás em casa?
Não tendo qualquer tipo de resposta, a mãe viu-se obrigada a ir espreitar. Mal pôs os olhos no quarto, uma vez que os pés não podiam entrar devido aos papéis que estavam pelo chão, ia tendo um ataque. As paredes naquele estado!
Joana estava deitada em cima da cama a ouvir música no seu mp3 aos altos berros. Por dentro, sentia-se cada vez mais revoltada com tudo: queria fazer tudo e não podia fazer nada. A impotência que se apoderava dela consumia-a aumentando cada vez mais a raiva e a revolta. A música alta anestesiava-a para aquele mundo mórbido em que se encontrava. Cada vez mais concordava consigo própria numa coisa: aquela parede preta era a coisa que mais se assemelhava ao seu estado de espírito. Não ouviu a mãe chegar e ficou irritada quando a viu entrar.
- Ei! Não sabes bater à porta? – disse ela, gritando com a mãe que ficou espantada por aquela atitude.
- Joana! Tu não falas assim comigo. O que é que te deu para fazeres isto ao quarto? – perguntou ela, ainda chocada.
- Não querias que eu arranjasse as paredes? Pois já arranjei. Agora se não tiveres mais nada a dizer podes sair. E fecha a porta. – acrescentou ela.
Escandalizada, a mãe saiu e fechou a porta. Não queria acreditar; a sua menina... O que tinham feito à sua menina? A única reacção que teve foi ligar a Bia.
- Sim? Bia? Olá querida, daqui é a mãe da Joana. Olha ouve-me, podes vir cá a casa? Sim, agora. É realmente importante. Sim? Ok, eu espero-te daqui a quinze minutos. – desligou.
Bia chegou, sem saber ainda o que se passava. Depois de uma breve conversa com a mãe de Joana à porta de entrada, foi ao quarto de Joana. Se a reacção à mãe foi má, então a Bia não foi melhor.
- Mas tu também não sabes bater à porta? O que é que tu estás aqui a fazer? Ela já foi a correr chamar-te, é? – gritou, novamente, Joana quando a viu entrar.
Bia já tinha sido advertida para o facto de ela querer que se lhe batesse à porta.
- Eu bati, tu é que não ouviste porque tinhas essa porcaria nos ouvidos. – informou.
Ignorando Joana, olhou para a parede. Também já sabia da parede pintada, mas nunca pensou que o caso fosse tão sério. A juntar-se a isso, ainda estavam os cartazes, rasgados e esmigalhados, pelo chão.
- Mas agora é moda e ninguém me informou? Não queres vir lá a casa pintar a minha também? Assim poupava num pintor. – ironizou Bia, que achava que não valorizar a raiva de Joana era a melhor táctica.
- O que é que tu queres? – perguntou a outra, com desdém, ignorando o que Bia dissera por não ter resposta.
- O que é que te deu? És capaz de me explicar?
Joana suspirou fortemente. Bia não desgrudou.
- Não me deu nada. Porque é que me havia de ter dado alguma coisa? – perguntou Joana.
- Porquê? Eu digo-te porquê: porque rasgaste todos os cartazes deles, cartazes esses que demoraste séculos a juntar; porque pela primeira vez na vida, a tua mãe teve de me chamar cá a casa; porque pintaste uma parede de preto; e acima de tudo, porque deixaste o Bill ir embora quando lhe ias dizer que gostavas dele.
Joana não teve reacção: sabia que cada palavra era verdadeira e não haviam argumentos. Era a mais pura das verdades e aquilo atingira-a como uma fecha no coração. Desligou finalmente o mp3, levantou-se e começou a apanhar os restos dos cartazes pelo chão. Bia fez menção de a ajudar mas Joana interrompeu-a:
- Vemo-nos amanhã na escola?
Bia percebeu que era a deixa para se ir embora e não insistiu: acenou que sim e foi-se embora. À saída anuiu para a mãe de Joana em tom de estar tudo bem.

Joana sentia-se mole e não tinha vontade de se levantar: não queria encarar ninguém. Parecia estar a ressacar do dia anterior. Com muito custo, levantou-se e arranjou-se para sair de casa. Não passou pela cozinha para não ter que encarar a mãe nem o pai. Bateu com a porta e saiu.
À chegada ao café, Bia já lá estava. Joana conseguiu vê-la pelas janelas sem que ela a visse. Não sabia porquê, mas preferia não falar com ninguém. Não entrou, passando ao lado da porta com cuidado para a amiga não a ver. Ainda ia muito distraída a ver se não vinha ninguém, quando esbarrou contra ele.
- Ei! Vê por onde andas! – disse ele.
- Mete-te na tua vida! – disse ela, sem ver quem era.
Finalmente levantou a cabeça e reconheceu-o: era Salvador.
- Acalma-te miúda. Eu tenho mesmo aquilo que te ia resolver todos os problemas. Já sabes, é só vires ter comigo que eu tenho o que precisas. – disse ele, indo-se embora.
Joana ficou a pensar nisso. O que é que ele quereria dizer com resolver todos os problemas? Ele tinha tudo o que queria? Ele não podia estar-lhe a oferecer drogas, não podia!
Tinha-se esquecido de Bia. Tinha tocado para as aulas e ela já ia para a escola. Viu Joana ao longe e correu para ela.
- Joana? Porque é que não foste ter comigo ao café? – perguntou.
- Ah... Acabei de chegar.
- Ok. Vamos.
E foram juntas para as aulas. No caminho, ainda pairava na mente de Joana a conversa com Salvador.

To be continued...

domingo, 27 de abril de 2008

26. A PAREDE

Bia estava atenta a todos os Fóruns e Blogs, não fosse sair alguma notícia. Esperava a qualquer momento um tópico entitulado TOKIO HOTEL NÃO SE VÃO EMBORA DE PORTUGAL! Mas nunca mais! Aquela ânsia corroía-a por dentro. Teria Joana ido lá naquela manhã? Teria dito o que sentia? E ainda mais importante: teria Bill correspondido?

Por essa hora, já Joana tinha derramado todas as lágrimas que conseguira. Com a fúria com que havia chegado a casa, arrancara todos os cartazes da parede. Esta ficou cheia de buracos e a precisar uma nova pintura.
Estivera tão perto, tão perto de o conseguir... Ele podia ter tido o ataque de fama mais tarde, mas porquê... Porquê que ele conseguia ser sempre a estrela? Porque é que ele tinha de ser diferente, porquê... Agora era tarde demais... Nunca iria saber. A cabeça começava a doer-lhe e resolveu deitar-se. Apagou as luzes; no chão ficaram os restos dos cartazes amachucados, rasgados e destruídos com fervor.

O sol nascera mas logo se escondera, tímido, atrás das nuvens. Joana levantou-se com a mãe a gritar por causa do que ela fizera à parede. Voltou as costas à mãe, coisa que nunca havia feito. Saiu de casa e nem esperou por Bia no café. Resolveu sentar-se numa banco de jardim, perto da escola. Raparigas que iam a passar, comentavam a ida da banda.
- ...e eu que tinha esperança de o encontrar... – dizia uma rapariga.
- Fogo! Nem acredito, o meu Gustav foi-se embora. – dizia a outra.
- E então o meu Bill? Perdi talvez a minha única oportunidade.
E passaram até se deixarem de ouvir. Na mente de Joana apenas as palavras “perdi talvez a minha única oportunidade” se faziam ouvir. O seu coração, cheio de raiva e fúria, deixou-se amolecer. Pela primeira vez desde que saíra do hotel, Joana experimentou novos sentimentos. A tristeza, finalmente, se abateu sobre ela.
Bia, que tinha andado à procura dela, ainda não sabia o que tinha acontecido. Ao não ver Joana no café, dirigiu-se para a escola, porém, quando ia a entrar, umas raparigas que iam a falar de Bill e Gustav, fizeram-na levantar a cabeça. Foi então que viu, sentada num banco de jardim, uma cara conhecida. Quase que antevendo o que tinha acontecido, Bia correu. Joana ouviu-a chegar. Mal a amiga a abraçou, desatou a chorar compulsivamente. Bia teve a confirmação do que já esperava.
Lentamente, desesperadamente e dolorosamente: foi assim que o dia se passou. Nas aulas, Joana estava aluada; não ouvia, nem respondia. Os professores, já por várias vezes, questionavam-na sobre alguma matéria e ela não respondia. Como era uma aluna exemplar, eles pensavam que estaria doente e não se importavam muito. Mas a verdade era que ela não estava doente. Bia, nos intervalos, tentava consolar a inconsolável dor da amiga. O mundo girava em torno de Joana e ela era a única que estava parada.
Ao toque de saída, Bia viu-se obrigada a deixar Joana ir para casa sozinha, já que tinha de ir estudar para o teste do dia seguinte. Agora que Leonor não estava entre elas, tinha que apanhar o autocarro e isso demorava-a mais.
Joana caminhou até casa, mecanicamente. Inconscientemente ou não, só pensava no vedetismo que a impedira de se declarar. Chegada a casa, dirigiu-se ao quarto. Ainda tinha, espalhados pelo chão, os cartazes rasgados. Caminhando por cima deles, pisando-os ainda mais, foi até ao computador. Olhou à volta para ter a certeza que ninguém a via; tinha vergonha do que ia fazer. Como ainda tinha coragem de ir ver notícias dele, depois do que ele lhe fizera...
Havia um novo tópico num Fórum que ela abriu ao acaso. NOVO VÍDEO TOKIO HOTEL? Tinha de ver o que era. Nem sabia ela do quão se ia arrepender...
Hello! We are Tokio Hotel and we’re here to thank all the fans who waited patiently for our return. After a minor incident in Lisbon, we’re back. We were tired of doing nothing and stopping the Tour! We are counting on you to be at our next concert! Bye! (Olá! Nós somos os Tokio Hotel e estamos aqui para agradecer a todos os fãs que esperaram pacientemente pelo nosso regresso. Depois do pequeno incidente em Lisboa, estamos de volta. Já estávamos cansados de não fazer nada e de ter parado a Tour! Contamos com vocês para o próximo concerto! Adeus!)
O coração dela caiu-lhe aos pés. Cansados de não fazer nada? Era isso que aquilo tudo tinha sido? Nada? Aqueles momentos todos tinham sido isso? Nada? Como podia Bill ter profetizado tais palavras!
Uma raiva incontrolavelmente forte apoderou-se do corpo de Joana. Pegou nos cartazes e rasgou-os ainda mais. O seu sangue fervilhava de tal modo que a respiração dela era ofegante.
Olhou para a parede esburacada: tomou uma decisão. Pegou na mala violentamente e saiu. Foi à loja do bairro e comprou aquilo que precisava. Voltou a casa e começou a pintar. A raiva que tomara conta dela, pintava a parede do quarto de um negro infinito. Era aquilo que a vida dela era: negra e vazia. Nem pensava: só pintava.
Quando acabou, percebeu que já não tinha forças. Deixou-se cair, caindo-lhe também as lágrimas. Nesse momento apenas teve a certeza de uma coisa: aquela já não era a mesma Joana.

To be continued...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

25. A T-SHIRT

Joana ficara calada; Bia não insistiu no assunto. Porém, quando achou que tinha de fazer o que estava certo, voltou a pronunciar-se:
- Então o que vais fazer?
- Não sei... Ele é tão... – ia Joana a dizer mas as palavras faltaram-lhe.
- Tão quê? Ele é ele. Ele é um famoso e age como tal. Tu é que o conheceste fora do mundo em que estavas habituada a vê-lo. – reagiu Bia.
- Mas ele... – tentou de novo Joana.
- Mas ele nada. Tu não podes criar uma imagem dele e esperar que encaixe. Vais, provavelmente, deixá-lo ir por um capricho? – perguntou ela.
- Não é um capricho! E eu não posso chegar ao pé dele e dizer para ele ficar. Ele é uma estrela. Tem o mundo a seus pés. Tu já leste entrevistas deles sobre raparigas. É difícil... – concluiu Joana.
- É ainda mais difícil se não fores atrás dele. Tu sabes, sequer imaginas, quantas raparigas sonham em apenas vê-los, tocar-lhes, respirar o mesmo ar que eles? Sabes? Acho que não, porque se soubesses não estavas aqui. Tu tens uma oportunidade irreal. Que te custa? Ires lá e dizeres que gostas dele? Nada. Se não fores correspondida segues em frente, mas se fores... Se não fores nunca saberás. – argumentou, vigorosamente, Bia.
Joana queria ripostar mas sabia que não havia nada a dizer. E se Bia tivesse razão? E se esta fosse a oportunidade da sua vida? Deveria ir? Arriscar tudo por alguém que ela reprovava o comportamento? Humilhar-se, se fosse o caso?
- Bia, mas ele não deu mostras de gostar de mim. Só houve uma vez em que...
E contou-lhe sobre o momento em que tinham estado perto de mais e da sua fuga precipitada. A amiga teve vontade de lhe bater.
- Jô! Mas tu és maluca? Tu não tens noção do que fizeste! Espero bem que amanhã cedo não estejas plantada à porta do quarto dele para lhe falar. Ainda por cima é sábado e não há aulas. Não tens desculpa. Combinado? – ultimou Bia.
- Combinado. – disse timidamente Joana.
Tinham parado; haviam chegado ao cruzamento em que, para irem para as respectivas casas, cada uma tinha que seguir caminhos diferentes. Despediram-se. Joana prosseguiu.
Os primeiros passos fê-los seguros e confiantes de que no dia seguinte ia falar com Bill, mas quando chegou a casa, uma dúvida voltou a apoderar-se dela. Resolveu não pensar mais naquele assunto e foi-se deitar. Antes de apagar a luz, olhou para um dos muitos cartazes que tinha no quarto. Focou o olhar apenas em Bill e pensou; imaginou-se no corredor para o quarto dele. Sentiu o seu coração a bater cada vez mais rápido e com mais força. Aproximava-se cada vez mais da porta. Sabia que a tinha de abrir. Rodou lentamente a maçaneta e entreabriu a porta devagar. Tinha medo do que viria a seguir. E se não fosse correspondida? E se se humilhasse? Mas tinha prometido a Bia. Encontrou Bill deitado na cama a ver televisão numa língua que ela não percebia mas conhecia. Bill levantou-se e caminhou na sua direcção. Ninguém precisou de dizer nada; ficaram a olhar um para o outro. Sentiu os seus joelhos tremerem e Bill a aproximar-se cada vez mais. Sabia que não podia fugir dali; ele tinha de a agarrar, ele tinha de a agarrar, pensava ela. As suas pernas estavam quase a ceder e os lábios de Bill aproximavam-se cada vez mais. Já estavam tão perto que já sentia a respiração dele na sua face. Estavam tão perto. Ela sabia que ela agora...
O despertador tocou e Joana acordou sobressaltada. Onde estava? Olhou à volta a reconheceu o seu quarto. Ainda tinha a roupa que tinha vestida no dia anterior. Pensou um bocado e lembrou-se: tinha chegado demasiado cansada e adormecera ali mesmo. Mas aquele sonho, aquele sonho parecia tão real, tão real...
Uma vontade tomou conta dela: tinha de saber como o sonho acabava. Tinha de tentar. Bia tinha toda a razão.
Vestiu-se com pressa e foi para o hotel; não pensava noutra coisa a não ser chegar lá. Ia ficar tudo decidido dentro de alguns minutos. Eles ainda tinham que estar lá, eles não podiam ter ido já embora. Montes de fãs aglomeravam-se à entrada. Teve de ter cuidado para conseguir entrar. Enfiou-se pela porta, atrás de um outro hóspede que também estava a entrar. Chegou, em êxtase, ao recepcionista e perguntou ofegante:
- Eles... estão... ainda estão cá?
A mais valia dela é que o senhor já a conhecia daquelas andanças e sabia a quem ela se estava a referir. Não a fazendo perder mais tempo, ele acenou com a cabeça. Ela saiu disparada pelo elevador acima. Encontrou outra vez a grande azáfama mas não lhe importou.
Estava no corredor para o quarto dele. Sentiu o seu coração a bater cada vez mais rápido e com mais força. Aproximava-se cada vez mais da porta. Sabia que a tinha de abrir. Rodou lentamente a maçaneta e entreabriu a porta devagar. Tinha medo do que viria a seguir. E se não fosse correspondida? E se se humilhasse? Mas tinha prometido a Bia. Encontrou Bill exaltado e a gritar:
- Ich möchte, dass mein T-Shirt! (Eu quero a minha t-shirt!) – dizia ele.
Viu Joana entrar e calou-se. Parecia estranho por ela estar ali.
- Hello. I need to talk to you. (Olá. Eu preciso de falar contigo.) – anunciou ela, mal ele se calou.
- Ok, but before I need to find my t-shirt. I can’t go naked outside. (Ok, mas antes tenho de encontrar a minha t-shirt. Não posso ir nu para a rua.) – disse ele.
Joana olhou à volta. Naquele dia, o quarto não estava desarrumado; aliás todas as malas de Bill estavam feitas e ao lado da porta.
- And where is you t-shirt? (E onde está a tua t-shirt?) – perguntou ela, temendo a resposta.
- I don’t know! Someone packed my things and know I don’t know where the things are! (Não sei. Alguém arrumou as minhas coisas e agora eu não sei delas.) – afirmou Bill.
- You can wear that t-shirt. (Podes usar essa t-shirt.) – disse Joana, apontado para a que ele tinha vestido.
- I want that t-shirt! (Eu quero aquela t-shirt!) – gritou ele.
Bill foi à porta e gritou por alguém. Uma senhora entrou e começou a desmanchar as malas dele e a mostrar-lhe cada uma das suas inacabáveis t-shirts.
Joana estava perplexa: era para aquilo que ela se sujeitara a vir? Para aquele espectáculo de egoísmo e luxúria? Ela ia declarar-se a alguém que só pensava no umbigo dele e não ligava ao resto do mundo? Aquele Bill brilhante era a pessoa de quem ela gostava? E, de repente, esqueceu-se porque viera.
Continuou a olhar a pobre mulher a desmanchar tudo, até que finalmente ele teve o que quis. Vestiu ali mesmo a peça de roupa. Depois, virando-se para Joana como se o mundo já não fosse acabar, disse:
- What did you want to tell me? (O que é que me querias dizer? – perguntou ele.
Joana lembrou-se outra vez, mas...
- Nothing. I just wanted to wish you a good trip. (Nada. Eu só queria desejar-te boa viagem.) – disse ela.
Deu meia volta e foi-se embora.

To be continued...

terça-feira, 22 de abril de 2008

24. AS LÁGRIMAS

Como uma bola que fora atirada rapidamente, um sulco invisível foi arrebatado contra o peito de Joana. Embora? Mas como embora?
- How can you leave now? (Como é que se podem ir embora agora?) – perguntou Joana.
- Now? (Agora?) – perguntou Gustav, espantado por aquela frase.
- I mean... (Quer dizer...) – ia ela a começar a explicar quando Bia, felizmente, a interrompeu.
- How did Bill got the passport so quickly? (Como é que o Bill recebeu o passaporte tão rápido?) – perguntou Bia.
- I guess that David knows the right guys. (Acho que o David conhece os tipos certos.) – anunciou ele, voltando para dentro do quarto.
Joana e Bia ficaram no corredor, sós, a olharam-se mutuamente. Balbuciando palavras ao acaso, lá iam saindo algumas palavras da boca de Bia.
- Eles... embora... passaporte... pessoas certas... ele conhece...
A outra, Joana, nem palavra dizia; nada lhe ocorria, nem pensamento, nem fala. Só queria sair dali. Antes mesmo de chegar ao quarto de Bill, voltou costas e meteu-se no elevador. A porta estava quase a fechar-se quando Bia apareceu.
- Não vais falar com eles? – perguntou ela.
Joana abanou a cabeça, permanecendo em silêncio. As portas do elevador fecharam-se, deixando Bia no piso da banda.
O caminho para casa foi um trajecto doloroso para Joana: sabia que era a última vez que o fazia. Agora que ela tinha descoberto que gostava dele e que desfrutava todos os momentos com ele, sem ele saber, eles iam embora? Ela quase que podia jurar que tinham havido momentos em que o seu sentimento era correspondido... Os olhares, os toques inconscientes, não tinha ele sentido?
A Joana não apeteceu ir para casa; precisava de desanuviar, de não pensar; de não pensar em Bill. Saiu umas paragens antes da sua casa; sabia que havia ali um parque. Apesar de todo escrito e desenhado pela malta jovem, ainda conservava intactos os baloiços.
Devido ao facto de já ser tarde, ninguém se encontrava ali àquela hora. Apenas de vez em quando passavam uns miúdos para jogar à bola no campo que havia ao lado. Joana deixou-se estar ali, de braços caídos, a balançar só com os pés, que devido à sua altura chegavam ao chão. Ela não saiba quanto tempo tinha passado desde que a primeira lágrima caíra; sabia, no entanto, que a essa primeira, vieram-se-lhe juntar muitas mais.
Com a cara vermelha, Joana sentiu o telemóvel tocar no bolso do casaco. Uma mensagem de Leonor pedia para se encontrarem no café habitual junto à escola em meia hora. Como tinha saído antes de sal casa, estava mais perto da escola, por isso abandonou o parque faltavam apenas dez minutos para completar a meia hora. Contudo, só Bia se encontrava à espera.
- A Leonor? – perguntou Joana.
- Não sei. Ela mandou-me uma mensagem a dizer para vir cá ter. – respondeu Bia.
Ao levantar da cabeça de Joana, Bia pôde ser o húmido dos seus olhos e o vermelho da sua face.
- Que se passa contigo? Estiveste a chorar? – perguntou.
- Não. – disse categoricamente Joana.
- Estiveste sim! – retorquiu Bia, levantando ainda mais o queixo da amiga.
- Então se sabes para que é que perguntaste? – disse Joana, vendo que não o podia negar.
- Tem calma! Eu só perguntei... – ia ela a dizer.
Nesse momento Leonor chegara e estacionava o carro. Joana aproveitou para limpar a cara e os olhos à manga do casaco para que esta não percebesse o seu estado.
- Entramos? – perguntou Leonor, visivelmente mais animada que as outras.
Elas entraram e fizeram os seus pedidos.
- Então, eu chamei-vos aqui, porque como vocês sabem, nós vamos embora amanhã. Eu sei que pode ser muito cedo, mas eles têm que ir. Têm mesmo! Já está tudo muito atrasado por causa da perda do passaporte. E eu vou com eles. Isto é uma despedida. – disse melancolicamente Leonor.
Bia e Joana pareciam que só naquela altura é que se tinham apercebido daquilo: também iam perder Leonor. Já não bastava perdê-los; a eles.
- Mas... Tu vais já? E as cosias, quer dizer, a faculdade, os estudos, o curso, a tua vida... – questionou Bia.
- Já arranjei tudo com os meus pais. Mas o mais difícil é deixar-vos para trás. – disse, quase em surdina.
Numa fracção de segundo, Bia rompeu a chorar; talvez por ver a amiga a chorar, talvez por assim já ter uma desculpa para continuar a chorar, Joana chorou também. Leonor, que estava a tentar aguentar-se não resistiu.
Ficaram ali a recordar e a lembrar-se de todos os momentos que passaram. Tiveram de sair quando o dono do café disse que tinha de ir para casa e fechar o estabelecimento. Leonor ofereceu-se para as levar a casa mas Joana não quis. Bia também recusou; tinha um plano em mente.
- Não Leonor, obrigada, eu vou com a Joana. Sempre apanhamos um pouco de ar fresco na cara. – disse, agradecendo a boleia.
Leonor foi-se embora; se ficasse ali mais tempo começava a duvidar da sua decisão. Joana e Bia prosseguiram caminho juntas. Quando achou que já tinha passado o tempo suficiente, Bia falou:
- Vai ser muito diferente quando eles se forem embora, não vai? – perguntou.
- Sim, muito diferente. – disse Joana, longinquamente.
- Com o Georg e a Leonor, o Gustav, o Tom.... O Bill a ir-se embora. – disse, tentando ser subtil.
- O que é que queres dizer com Bill? – perguntou Joana, percebendo a tentativa de subtileza da amiga.
- Nada, nada... A não ser que queiras dizer alguma coisa. Era por ele que estava a chorar? – questionou, agora directamente.
- Não! – negou Joana.
- Jô, há quantos anos eu te conheço? Há quantos anos partilhamos o gosto por eles e nos defendemos dos que não gostam? Eu respondo-te: os suficientes para perceber no primeiro dia em que tu também percebeste o que sentias.
Joana tinha parado e voltara a chorar. Bia percebeu que tinha tocado na ferida e que cada palavra que dissera era verdade. Abraçou a amiga com força para a proteger de tudo; só que o mal vinha de dentro.
- Porque é que não lhe dizes o que sentes? – perguntou Bia.
- Porque... – soluçou Joana, calando-se em seguida.
No fundo, não sabia porquê.

To be continued...

domingo, 20 de abril de 2008

23. O PASSAPORTE

Joana esperava Bia no café, como sempre. Tinha acordado muito cedo pois a descoberta que fizera na noite anterior não a deixara dormir. Tinha-se voltado vezes e vezes na cama a pensar como é que podia gostar de uma pessoa tão diferente de si, quando desistiu de continuar a dormir e se levantou.
Tido ido para ali na esperança de esquecer os problemas que lhe assombravam a mente mas sem êxito. Esperava por Bia quando uma cara que ela já tinha visto entrou pela porta. Joana deu consigo a olhar para Salvador; agora que sabia quem ele era, reparava mais vezes nele. Ele, por sua vez, também reparou no olhar fortuito que Joana lhe lançara. Olhou para ela. Esta pôde ver o quão cinzentos eram os seus olhos. Tinha a cara magra e parecia que não fazia a barba há dias; talvez não fizesse mesmo. Sentindo-se intimidada por aquele olhar, desviou imediatamente a cabeça. Ele acabou por sair. Bia chegou minutos mais tarde.
- Sabes quem esteve mesmo aqui antes de tu chegares? – perguntou-lhe Joana.
- Quem? – questionou Bia, curiosa.
- O Salvador! Ele é mesmo esquisito. Tem cá uma cara... – comentou ela.
- Eu sei, já o conheço há algum tempo. É gente de quem queres ter distância, acredita.
- Acredito – disse Joana, decidida, continuou. – Tão e tu ontem? Quem era aquela?
- Bem, era a nova amiga do Tom ontem à noite. Diz lá que eu não escolhi bem? Quando fui entregar o “presente” ele até se riu. – disse Bia, fascinada.
- Agora és cúmplice nessa história! Bia! Não tens pena das raparigas?
- Não! Aposto que é o que elas sempre sonharam. Elas sabem porque é que ele as manda chamar e o que acontece no dia seguinte. Se elas não quisessem não iam. Depois até devem ir todas contentes dizer às amigas. E além disso, ele é meu amigo e pediu-me esse pequeno favor. Só tive de escolher e deixa-me dizer-te que me diverti bastante a fazê-lo.
Joana advertiu a amiga com um olhar severo mas, como já estavam em cima da hora, saíram a correr para a escola. Passando pelo portão a correr para não chegarem atrasadas à aula, Joana foi contra um rapaz que se atravessou no caminho dela.
- Ai! Desculpa, não te vi. – disse ele.
- Não faz mal, deixa. Eu também vinha com pressa pois estou atrasada. – disse Joana.
- Deixa-me ajudar-te. – disse ele, apanhando as coisas dela que tinham caído.
Depois de devolvidos os seus pertences, Joana agradeceu:
- Obrigada... – disse ela, à espera que ele dissesse o seu nome.
- Luís.
- Obrigada Luís. – repetiu ela, começando novamente a correr.
Ele, que tinha ficado no mesmo sítio, gritou:
- E tu não me disseste o teu nome!
Joana, que sabia que estava mesmo atrasada, não parou, apenas se virou, continuando a correr:
- Joana!

Os dias tinham passados e de repente, já fazia quase um mês desde que os Tokio Hotel estavam em Portugal. Bill ainda se encontrava à espera do seu passaporte. Leonor tinha tido uma conversa séria com os pais sobre deixar a escola e ir atrás deles. Ela tinha pensado muito bem antes de decidir; decidira-se por interromper os estudos por um ano e embarcar nesta viagem. Ia ser uma óptima experiência para a sua carreira, pois iria aprender bastante e iria ser óptimo para a sua experiência pessoal. Quem estava feliz com esta novidade era Georg que ultimamente andava mais alegre que nunca.
Bia passava mais tempo com Gustav e Tom; tinham desenvolvido uma grande amizade entre todos.
Naquela tarde, Joana e Bia foram ao hotel. Joana, mais renitente, ia sempre com o coração nas mãos, na esperança que ninguém reparasse na descoberta amorosa. Ela própria ainda não tinha conseguido perceber como é que podia gostar de alguém tão diferente de si e ainda mais importante: tão diferente de ele mesmo. Não se tinha atrevido a contar a ninguém, nem mesmo à sua sombra, da sua paixão.
Foi quando saíram no corredor reservado exclusivamente para os Tokio Hotel, que Joana e Bia reparam que haviam muitas pessoas a movimentarem-se de um lado para o outro. Nenhuma das duas ligou: pensaram que fosse acontecer alguma entrevista ou algo do género. Procuraram Bill, Gustav, Georg e Tom na sala mas não os encontraram. Foi quando se dirigiam para os seus quartos, que Gustav apareceu à porta do seu.
- Oh... You’re here! (Oh... Vocês estão cá!)
- Yeah. Are you going to an interview? (Sim. Vão a alguma entrevista?) – perguntou Bia.
- No! Even better! We’re leaving! Bill has just received his new passport! (Não! Melhor ainda! Vamos embora! O Bill acabou de receber o novo passaporte!) – informou Gustav.

To be continued...

sábado, 19 de abril de 2008

22. O PORQUÊ

- What? (O quê?) – perguntou Joana, chocada.
- My passport! (O meu passaporte!) – exclamou Bill.
- Yeah, I get the point, but when do you leave? (Sim, eu percebi isso, mas quando é que vocês partem?)
- I don’t know. I guess when I receive my passport... (Não sei. Acho que quando receber o passaporte...) – informou ele.
Tom, Georg e Gustav pareciam contentes; Leonor, Bia e Joana tinham caras esquisitas. Bill voltou a sentar-se como se nada tivesse acontecido. No entanto, estava tão contente que entornou o copo que tinha na mão sobre si.
- Oh! I need to change my t-shirt. (Oh! Tenho que ir trocar de t-shirt.) – disse ele, depois de sujar a roupa.
Bill saiu da sala. Leonor, que tinha também sido apanhada de surpresa por aquela notícia do passaporte, continuava cabisbaixa. Georg percebeu e disse, apenas para ela ouvir:
- Do you want to come? (Queres vir?)
- Where? (Onde?) – perguntou ela.
- With me. (Comigo.) – disse ele.
Ela olhou-o de frente, não esperando tal proposta.
- When you say with you, you mean on tour? (Quando tu dizes contigo, queres dizer em tour?) – perguntou ela, para ter a certeza.
- Sorry, I shouldn’t ask you that. (Desculpa, eu não te devia perguntar isso.)
- It’s not that. It’s just I wasn’t expecting it. I don’t know. I’ve to think about it. (Não é isso. É que eu não estava à espera. Eu tenho que pensar sobre o assunto.) – afirmou Leonor.
Ela sorriu-lhe e ele retornou o sorriso. A apresentação de fotografias tinha acabado e Leonor arrumava as coisas. Bia e Tom falavam
- What...? Tom! (O quê...? Tom!) – repreendeu Bia.
- Come on. It’s just a girl. I don’t know how to ask in portuguese. Imagine how happy she will be. (Vá lá. Eu não sei como pedir em português. Imagina o quão feliz ela vai ficar.) – argumentou ele.
- Tom! Ok... I’ll do it. Do you have any preference? (Tom! Ok... Eu vou. Tens alguma preferência?) – perguntou ela.
- Just choose a good looking one. (Escolhe apenas uma bonita.) – advertiu ele.
Bia saiu em direcção ao átrio. No caminho pensava que aquele rapaz era uma peça única. Deu consigo a rir-se para si própria.
Entretanto, Joana tinha ficado na sala e oferecera-se para ir levar o computador a Bill. Entrando sem bater no seu quarto, deu com um Bill em tronco nu à procura duma t-shirt pelas imensas que estavam espalhadas pelo chão. Como ele estava de costas, não a viu nem ouviu entrar e ela pôde ficar alguns segundos a vislumbrar aquele corpo desnudo. Cada vez que ele se baixava para apanhar uma camisola, o seu cabelo caíra para o lado, deixando destapada a tatuagem que ele tinha no pescoço. Nunca Joana achou tão belo o símbolo da banda.
Apanhando finalmente uma camisola que ele lá achou que estava bem, vestiu-a. Quando se virou, apanhou um susto, já que não esperava ali ninguém.
- You scared me! (Assustaste-me!) – guinchou ele.
Ela encolheu os ombros. Entregou-lhe o portátil que trazia na mão.
- Are you really gonna leave? (Vais-te mesmo embora?) – perguntou Joana, sem conseguir aguentar muito tempo.
- Yeah, I don’t intend to stay in Portugal forever. (Sim, eu não pretendo ficar em Portugal para sempre.) – afirmou ele.
- But... (Mas...) – começou ela.
- We’re just staying here because someone stole my passport. (Nós só estamos cá porque alguém roubou o meu passaporte.)
Joana caiu então na realidade: ele era famoso e não ia ficar ali para sempre. Ela era apenas mais uma fã que ele conhecera e que tivera muita sorte.
- Of course we’ll be in touch. You can send me e-mails and call me. (Claro que vamos manter contacto. Podes-me enviar e-mails e telefonar-me.) – disse Bill.
- Yeah, sure. Well, now I need to go. See you tomorrow. (Sim, claro. Bem, agora tenho que ir. Até amanhã.) – despediu-se ela, indo-se embora.
Passou pela sala para avisar. Leonor ficou mais um pouco; agora tinha o seu Georg para se entreter. Bia não estava; foi encontrá-la no elevador, a subir, com uma rapariga gira. Joana acabou por ir embora sozinha. No caminho de casa tentou perceber porque é que estava a sentir-se tão afectada por a notícia de a banda ir embora; afinal de contas ela sabia que eles só estavam à espera do passaporte... apanhou o autocarro e foi para casa.
Quando chegou, ligou o computador para se actualizar. Mais uma vez, voltou a percorrer todos os Fóruns e Blogs sobre os Tokio Hotel. Ia já a fechar a janela quando viu um tópico que lhe chamou a atenção. Com letras garrafais estava escrita a frase BILL TEM NAMORADA? Não soube muito bem porquê, mas o sue braço moveu-se automaticamente para aquela mensagem e abriu. Numa foto com uma rapariga estava Bill a sorrir-lhe. Primeiro ficou chocada e o seu coração disparou: ia caindo o mundo aos seus pés. Depois leu os comentários e percebeu que tinha sido apenas uma fã com quem ele tinha tirado uma fotografia. Ficou mais aliviada.
Nesse momento, sem que ninguém lhe dissesse, ela percebeu o porquê se ter ficado em sobressalto com a notícia da partida de Portugal e da suposta namorada.
Gostava dele.

To be continued...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

21. O SALVADOR

Anos, meses, semanas, dias, horas, minutos ou apenas segundos depois, a porta abriu-se e Tom entrou. Não esperava ver aquela cena ali, por isso ficou estático e chocado.
- Tut mir leid, ich wollte nicht... (Desculpa, eu não queria...) – começou ele.
- Es ist kein Problem. (Não há problema.) – respondeu-lhe Georg, já afastado de Leonor.
Esta, por sua vez, deu-lhe um pequeno encontrão: não estava a perceber nada daquela conversa. Georg e Tom perceberam. Tom, que estava mais tranquilo já que não queria interromper, sentou-se no sofá que estava ao lado da cama de Georg.
- So, are you together? (Então, estão juntos?) – perguntou ele.
Georg e Leonor coraram: não sabiam o que responder, ainda era tudo muito cedo. Tom também percebeu que eles não sabiam.
- Well, I’ll leave both of you alone. (Eu vou deixar-vos sozinhos.) – disse, saindo do quarto.
Porém, antes de fechar a porta, virou-se e disse, para Georg:
- Clean up your room or you won’t get to the next step! (Arruma o quarto ou não passas para o próximo passo!) – brincou.
Georg puxou de uma almofada e atirou-lha. Leonor, que não tinha ouvido, perguntou, curiosa:
- What did he say? (O que é que ele disse?)
- Nothing important... (Nada de importante...) – disse ele.
- So, what about us? (Então, nós?) – questionou ela, querendo saber como ficavam agora.
- Well, I guess that we’re together, I mean... if you want it. (Bem, acho que estamos juntos, quer dizer... se quiseres.) – disse Georg, com medo de se estar a antecipar.
- Of course I want it. I always have. (Claro que quero. Sempre quis.) – garantiu Leonor.
Georg sorriu e ela derreteu-se toda. Ficaram ali, a ver o resto das fotografias com uns beijinhos, muito longos, pelo meio.

Na escola, Bia e Joana estavam sentadas no bar, já que estava no intervalo das aulas. No meio de tanto barulho, elas falavam.
- Queres passar no hotel mais logo? Ele vão ter uma sessão de autógrafos esta tarde mas acho que depois podemos passar lá. – sugeriu Bia.
- Mas eles disseram alguma coisa? – perguntou Joana.
- Não, mas já nem precisam de dizer. Além disso, a minha ajuda foi requerida naquele local. – anunciou Bia, como se tivesse que salvar o mundo.
- O quê? Quem é que te pediu o quê? – perguntou novamente Joana, mais curiosa.
- O Tom. Não sei o que ele quer, mas deve querer o mesmo da última vez: que o ajude a convidar uma fã para lhe fazer companhia. Ele é sempre a mesma coisa.
Elas riram-se, concordando que ele era igual tanto publicamente como intimamente.
- É pena é o Bill ser diferente... – comentou, tristonhamente, Joana.
- Diferente? Como diferente?
- Tu sabes... Aquelas coisas todas: a fama, o protagonismo, os cigarros, as bebidas... – estava ela a dizer.
- Mas todas a gente sabe que eles fumam e que nas festas gostam de beber. – defendeu Bia.
- Sim, mas... não sei. Não é só isso: é tudo. A atenção tem que estar sempre toda focada nele. Ele não é o mesmo Bill que as fãs vêem. – continuou a amiga.
- Talvez não seja o mesmo Bill que tu pensavas que vias...
- Eu nunca iria conseguir ser como ele é! – argumentou Joana, decidida.
- Não digas isso... – aconselhou a outra.
- Porquê? Eu sei que não vou ser.
- Eu também pensava que nunca iria de me deixar de dar com quem me dava e que eles iam sempre respeitar os meus gostos, mas agora tu vês o que o Nuno e os amigos me fizeram. Nem parece que fomos o grupo que fomos. – lembrou Bia.
- Mas eu tenho a certeza que nunca vou fazer o que ele faz. – garantiu novamente.
- Olha que às vezes nunca se sabe...
Joana quis convencer-se mas a dúvida ficou a pairar na sua cabeça. Enquanto tentava desembaraçar-se daquele quebra-cabeças, o caos rebentou no bar. Um rapaz alto e forte, de cabelo escuro, tinha agarrado um outro, igualmente alto, pelo casaco. As pessoas que se encontravam mais próximas fugiram aos gritos, o que despertou a atenção dos contínuos que os vieram separar. Minutos depois, o rapaz que desencadeara a luta era levado por dois contínuos mas ainda gritava:
- Depois ajustamos contas lá fora!
Bia puxou Joana que tinha ficado petrificada com esta cena. Já sentadas no jardim, Joana perguntou:
- Que foi aquilo?
- Um ajuste de contas. – esclareceu Bia.
- O quê? Quem eram aqueles? – perguntava Joana, curiosa.
- O que agarrou o outro era o Pedro, mas toda a gente o conhece por Salvador.
- Salvador, porquê?
- Porque já salvou muitos de não puderem alimentar vícios. – disse Bia.
- O que é que queres dizer com isso? – perguntou Joana, assustada.
- Quero dizer que o que quer que seja que precises, é com ele que tens de ir falar. Ele arranja de tudo. O outro tipo provavelmente não lhe pagou o material.
- Bia, como é que sabes isso? Quando dizes tudo, referes-te exactamente ao quê?
- Porque ele é conhecido no meu antigo grupo de amigos. Tudo de tudo... – elucidou Bia.
- Mas ele é um traficante, então! – concluiu Joana.
- Mais ou menos. Ele não anda ai nas esquinas a oferecer. Quem quer, vai ter com ele. Já sabem. – findou Bia.
A conversa acabou por morrer por ali porque Salvador, como era conhecido, tinha saído do gabinete e ia a passar uns metros à frente. Pela primeira vez, Joana reparara nele. O olhar não durou muito tempo já que o sinal tinha tocado.
O dia passou com Joana a pensar no que tinha descoberto sobre Salvador: nunca lhe passara pela cabeça que andasse esse tipo de gente na escola. Ao final das aulas, dirigiram-se para o hotel. Apesar de nos outros dias estarem ali algumas fãs, desta vez estavam muitas mais. Elas lembraram-se então que tinha havido a sessão de autógrafos. Demorando mais tempo para entrar, lá conseguiram furar a magote de gente e passar.
Foram encontrar Leonor, Georg, Gustav, Tom e Bill na sala a ver as fotografias da sessão. Ambas repararam que Leonor e Georg estavam de mãos dadas. Trocaram olhares com Leonor em jeito de dizer que depois falavam. Elas juntaram-se ao visionamento.
Algum tempo mais tarde, o telemóvel de Bill tocou e eles tiveram que parar para ele atender.
- Ja, ja... Vielen Dank. Auf Wiedersehen. (Sim, sim... Obrigado. Adeus.) – disse Bill para a pessoa que estava do outro lado.
Guardando o telemóvel no bolso das calças, virou-se para eles e anunciou:
- Just to let you know I’ve asked for my new passport. When it’s ready we’ll be able to leave Portugal. (É só para avisar que já pedi um novo passaporte. Quando estiver pronto podemos ir embora de Portugal.)

To be continued...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

20. A NÔNÔ

Leonor acordara cedo com o toque do telemóvel. Não tinha tirado o som de propósito. Apesar do sorriso que já tinha quando acordou, ao ler a mensagem, Leonor ficou ainda mais contente.
Como tinha muito tempo antes de se encontrar com Bia e Joana no café, foi tomar um banho de imersão. Encheu a banheira de água e despejou quase o frasco de espuma lá para dentro. Nuno, que estava à porta a ver, disse:
- Mas andamos muito felizes.
- Deves ter muito a ver com isso. – respondeu-lhe a irmã.
- Eu quero usar a casa de banho. – disse ele.
- Vai à outra...
- Mas eu tenho aqui as minhas coisas. – retorquiu Nuno.
- Podes levar o perfume para te perfumares para a Bia, não é? – provocou Leonor.
Nuno nem se atreveu a pegar no frasco de perfume; deu meia volta e foi-se embora. Não muito incomodada, Leonor entrou no banho. Antes, porém, ligara a aparelhagem numa música do novo CD, recentemente oferecido e autografado.
Deitada de olhos fechados e a ouvir a música, lembrou-se de quando foi ofertada com o CD. Tinha ido ao hotel reaver o seu cartão de memória; Georg tinha-o guardado cuidadosamente. Quando lá chegara, encontrara Georg já à sua espera. Não sabia bem como mas tinham chegado a um ponto da conversa em que ele lhe disse:
- You already signed my arm and I still haven’t given you an autograph. Usually it’s the other way around. (Tu já assinaste o meu braço e eu ainda não te dei um autógrafo. Geralmente é ao contrário.)
Leonor tinha-se rido mas imediatamente depois se calara: Georg tinha-lhe perguntado se ela tinha o álbum deles. Rapidamente percebeu a resposta pela cara dela: não tinha. Prontamente tinha ido buscar um e assinado só para ela.
E assim fora que ela tinha recebido o seu CD personalizado e que tinha reavido o seu cartão de memória, já lá iam duas semanas.
Nessas duas semanas, uma amizade com Georg desenvolvera-se. Leonor não tinha a certeza de que se lhe podia chamar amizade: ele sabia das fotos que ela lhe tirara. De vez em quando haviam alguns momentos engraçados que deixavam os dois constrangidos: quando ficavam próximos de mais e se calavam de repente, não sabiam o que fazer.
Com isto tudo, tinha passado o banho e Leonor estava-se a vestir. Nesse dia tinha combinado ir ao hotel mostrar as fotos já retocadas à banda. Antes, iria encontrar-se com Bia e Joana.
À chegada ao café, as outras duas já se encontravam presentes. Pediu um café e sentou-se. Ao a verem sempre agarrada ao telemóvel, Bia disse:
- Mas o que é que se passa para tu estares dependente do telemóvel?
Corada, Leonor desviou o olhar e guardou o telemóvel. Mal o sentiu vibrar novamente dentro da mala, despediu-se das amigas e foi-se embora. No carro, leu a mensagem e arrancou, não para a faculdade, mas para o hotel.
Já no elevador, procurou dentro da mala o cartão de memória que sabia que estava ali. Quando o encontrou, já estava no piso que queria: saiu. Andou um pouco e bateu à porta do quarto que já tão bem conhecia dos últimos dias. Georg abriu.
- Hallo. (Olá.) – disse ele.
- Hello. (Olá.) – disse ela.
- I’ve already asked Bill for his computer. It’s on the table. (Eu já pedi ao Bill o computador. Está em cima da mesa.) – anunciou Georg.
- Good, we can start now. (Excelente, podemos começar já.)
Desta vez Leonor não estava tão nervosa como da última vez: tinha a certeza que apenas iam aparecer as fotografias que ela queria. Começaram, então a ver.
Os minutos haviam passado sem que eles dessem por isso. Sem que o outro reparasse, de vez em quando olhavam um para o outro. Quando findou a apresentação, Georg, maravilhado com as fotografias e com a fotógrafa, disse:
- I must say: you’re a wonderful photographer, Lêonôrrr. (Eu tenho de dizê-lo: tu és uma fotógrafa magnífica, Lêonôr.)
Leonor corou ligeiramente; depois riu-se da pronúncia do seu nome. Aquele riso, apesar de ela não saber tinha encantado Georg. Este, que não percebeu, perguntou:
- What are you laughing at? (Do que é que te estás a rir?)
- Your accent. (Da tua pronúncia.) – disse ela, brincando.
Georg pareceu corado e envergonhado; ela, percebendo, sorriu e fez-lhe uma festinha na cara. Depois, disse, carinhosamente:
- You can call me Nônô, it’s easier. (Podes-me chamar Nônô, é mais fácil.)
Ele, que sentiu na pele as mãos macias, ouviu com toda a delicadeza aquelas palavras. Num gesto singular em toda a sua vida, Georg colocou um braço por trás de Leonor, inclinou-a e beijou-a.
Sentiu, finalmente, o desejo de tocar nos seus lábios a ser saciado. Não lhe apetecia largá-la, nunca mais. Porém, fê-lo, mas apenas por breves instantes.
- I’ll call you Nônô, it’s easier. (Eu vou chamar-te Nônô, é mais fácil.) – disse ele.
Depois, voltou para aquela sensação, a qual ele nunca mais queria perder.

To be continued...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

19. O BRAÇO

Se naquele momento um buraco negro se abrisse, Leonor nem pensava duas vezes: atirava-se de cabeça. Como não se abriu, não teve outro remédio que não ficar ali. Decidida a olhar defronte e a não virar a cabeça, Leonor estava mais vermelha que as cortinas do hotel.
Não melhor estava Georg, igualmente vermelho. Bill, Tom e Gustav riam-se a bandeiras despregadas. Georg tentava dar-lhes pequenos murros e beliscões para os fazer calar. Nada adiantava.
- Look at here, Georg, please! (Olha para aqui, Georg, por favor!) – dizia Tom, fingindo ser um fotógrafo a tentar fotografá-lo.
- No, no! Look at me! – dizia Bill.
Leonor, que já achava que um buraco era demasiado pequeno para se meter, pegou nas malas, sempre sem olhar ninguém de frente e disse:
- Gotta go. (Tenho que ir.)
Levantou-se e foi-se embora. Só então Bill e Tom perceberam que ela estava realmente chateada. Lá se calaram. Georg foi atrás dela pelo corredor.
- Wait! (Espera!) – gritou ele.
Ela virou-se para trás. Não queria acreditar que ele vinha atrás dela para a gozar. No entanto, e não sabendo porquê, os seus pés pararam de andar, esperando que ele se aproximasse.
- Can I have your number, please? (Podes-me dar o teu número de telemóvel?) – pediu Georg, gentilmente.
- For what? Didn’t you make enough fun of me? (Para quê? Já não gozaste o suficiente comigo?) – perguntou ela, na defensiva.
- Me? I don’t know if you saw, but I didn’t make fun of you... (Eu? Não sei se tu viste, mas eu não gozei contigo...) – argumentou ele.
Agora que ela se lembrava, não se recordava de ter ouvido a sua voz, bela por sinal, a gozar. Talvez ele tivesse razão e ela estivesse a ser demasiado dura.
- Sorry... (Desculpa...) – disse ela.
Ele anuiu, ternamente.
- So, can I have it? (Então, podes dar-mo?) – perguntou Georg, de novo.
- Have what? (Dar o que?) – questionou ela, esquecida.
- Your phone number. (O teu número de telefone.) – esclareceu ele.
- Oh... My phone number, but... (Oh... O meu número de telemóvel, mas...) – ia ela a dizer, sendo interrompida.
- I really want it, believe me. (Eu quero-o mesmo, acredita em mim.) – reforçou ele.
Leonor, não se fez de difícil: tirou uma caneta e procurou papel, mas não encontrou. Vendo que ela não tinha nada onde apontar e correndo o risco de ficar sem o número que queria, Georg disse prontamente:
- You can write on my arm. (Podes escrever no meu braço.)
Leonor olhou para ele nos olhos. Pôde ver como eram bonitos e como lhe liam a sua mente. Desviou o olhar. Destapou a caneta e apontou o número naquela pele tão fofa e enternecedora. Teve o cuidado de não carregar muito para não o aleijar.
- Thanks. (Obrigado.)- disse Georg quando ela acabou.
Leonor voltou a olhá-lo nos olhos; de novo sentiu a sensação de invasão de mente.
- So, I need to go. Goodbye. (Então, eu preciso de ir. Adeus.) – despediu-se ela.
- Bye. (Adeus.)- disse Georg, inclinando-se para a frente para lhe dar dois beijinhos de despedida.
Leonor que não esperava tal coisa, não se inclinou imediatamente. Só depois de perceber que ele estava mesmo à espera de dois beijinhos é que avançou cuidadosamente.
Mal os seus rostos se tocaram, Leonor sentiu a pele macia e bem cheirosa de Georg a roçar na sua. O cheiro que vinha do seu pescoço fê-la perder momentaneamente o controlo. Quando se afastaram pareciam que mil anos haviam passado. Esta recordação ficara, de certeza, gravada na memória de Leonor.

Procurou um lugar para estacionar e felizmente encontrou. Entrando em casa a carregar todas as malas fotográficas num só braço, Leonor atirou-se para o sofá. Cansada, não lhe apetecia levantar-se e ir aquecer o jantar que estava no microondas; tinha acabado de perceber que deixara a sua comida toda por comer no prato do hotel.
Movendo-se vagarosamente até à cozinha, lá foi arrastando um pé depois do outro. Aqueceu o prato e levou-o para a sala. Àquela hora já estavam todos a dormir e podia comer em paz no sofá da sala. Acaba de se sentar e de ligar a televisão, quando o seu telemóvel tocou. Tinha uma mensagem nova.
I rubbed my arm so hard it’s red now, just so no one else could have your number. (Esfreguei tanto o braço que está vermelho, tudo para ninguém ficar com o teu número.)

To be continued...

domingo, 13 de abril de 2008

18. AS FOTOGRAFIAS

Georg vestiu-se rapidamente sob o olhar atento e pasmado de Leonor. Já com a camisola posta, virou-se para ela e disse:
- Bill wanted the dressing room just for him, so... (O Bill quis os camarins só para ele, por isso...) – começou ele.
- That’s ok. I should have knocked. (Não faz mal. Eu devia ter batido.) – disse Leonor.
Georg pegou nas suas coisas e preparou-se para sair. Ambos hesitaram para que lado se haviam de chegar para deixar passar o outro e acabaram por se chegar para o mesmo lado. Riram-se cúmplices e depois cada um foi para seu lado. O nervosismo, até agora esquecido, de Leonor, voltou a atacá-la. Bebeu água e voltou para junto das amigas.
- Foste a correr? – perguntou Bia.
- Não, porquê? – respondeu-lhe Leonor.
- Porque estás vermelha...
- Deve ser do nervoso miudinho. – disfarçou ela.
Com a chegada da banda, já vestida, prepararam-se todos para sair e encenar a chegada apoteótica na limusina. Mal puseram os pés na rua, os gritos e guinchos de milhares de fãs fizeram-se ouvir. A limusina que ali estava recuou para dar a ideia de que estava a chegar.
A saírem do veículo, a atravessarem a passadeira vermelha, sentados no teatro, em cima do palco e a representarem, foram estes os cenários encenados para as fotografias. A sessão correu às mil maravilhas, com centenas de fotografias tiradas. Quando findou, tanto fotógrafa quanto fotografados, estavam exaustos.
- It went well, didn’t it? (Correu bem, não correu?) – perguntou Bill.
- Yeah Bill, you were great! (Sim Bill, foste óptimo!) – brincou Tom.
Bill beliscou-o, na brincadeira.
- Já é tarde. – disse Joana para Bia e Leonor.
Esquecendo-se de que eles não falavam Português, Joana falou normalmente para as amigas. Eles, porém, lembraram-se.
- What? (O quê?) – perguntaram eles confusos.
- Sorry. She was saying that’s late. (Desculpem. Ela estava a dizer que é tarde.) – esclareceu Bia.
- Oh... And if we have dinner at the hotel? I mean all of us. (Oh... E se jantarmos no hotel? Quero dizer nós todos.) – sugeriu Gustav.
- Yeah, yeah! And we could put the memory card on my computer and see the photos! (Sim, sim! E pudemos colocar o cartão de memória no meu computador e ver as fotos.) – retorquiu Bill, antes de dar tempo a alguém para responder.
Joana deitou a Bill um olhar repreensivo mas ele fingiu que não viu.
- It’s better not to. It’s late and I still haven’t chosen the right photos or deleted the bad ones. (É melhor não. É tarde e eu ainda não escolhi as fotos nem apaguei as que estão mal.) – desculpou-se Leonor.
Mas antes de ela ter tempo para acabar a frase, já Bia aceitara. Arrumaram tudo e foram nas carrinhas do staff, mais apertados desta vez, para o hotel. Foi difícil saírem dali pois ainda haviam algumas dezenas de pessoas à espera.
No caminho, Joana tentava falar com Leonor, em Português para quase ninguém perceber.
- Mas por que é que tu não querias ir para o hotel? Olha que a comida é boa e eles são simpáticos. – perguntava Joana.
- Não, não é por causa disso. – dizia-lhe Leonor.
- Então porque é? – perguntou novamente Joana.
- Porque... – ia ela a dizer, sendo interrompida por Bia.
- Mas o que é que vocês estão para aí a falar que nós não podemos ouvir? – disse ela, chamando a atenção de todos
- Nada. – disseram em uníssono Joana e Leonor, findando a conversa em seguida.
Num instante se puseram no hotel e pediram o jantar na sala. Desta vez, pediram ementa para sete pessoas. Bill prontificou-se a ir buscar o computador e o cartão de memória.
- Is this the card, isn’t? – perguntou ele para Leonor.
- Yes... No! (Sim... Não!) – disse, de repente ela.
Todos ficaram confusos.
- What? This one does not have photos from the photo shooting? (O quê? Este não tem fotografias da sessão fotográfica?) – perguntou Bill.
- Yes, it does, but... (Sim, tem, mas...) – ia ela a dizer.
- So, let’s start with this! (Então vamos começar por este!) – disse triunfante.
Colocou o cartão, abriu a reprodução automática e colocou em pausa. Foi-se sentar juntos dos amigos, no sofá. Todos esperavam pelo jantar. Tinham decidido ver as fotografias enquanto comiam. Neste compasso de espera, iam falando sobre diversos assuntos. Joana e Leonor, retomavam a conversa:
- Está estragado o cartão? – perguntou-lhe Joana.
- Não. – disse melancolicamente Leonor.
- Então que tem?
- Tem umas fotogr... – ia a explicar quando o empregado entrou com o carrinho da comida.
Todos tiraram o prato que pediram e sentaram-se novamente no sofá. Depois de todos acomodados, foi tempo de carregarem no reproduzir e verem. Apenas Leonor estava com uma cara esquisita.
As fotografias começaram a passar: eles riam-se uns dos outros e brincavam com as poses de Bill. Joana, como sempre, achava que ele era sempre o centro das atenções. Estava tudo bem, até que de repente, as fotografias de grupo deram origem a fotografias de apenas uma pessoa.
Nas fotografias, estava Georg, às vezes apanhado distraído, outras com o zoom todo para ele, ignorando os restantes membros. Várias fotos dele iam passando no ecrã do computador, sem parar.
Foi com uma Leonor a corar violentamente, que Joana percebeu porque é que ela não queria ir para o hotel, nem mostrar aquele cartão de memória.

To be continued...

sábado, 12 de abril de 2008

17. OS REFLEXOS

Joana mexeu-se constrangidamente. Afinal Bill não tinha ido atrás dela.
- Não, nada. – disse Joana.
- Então por que é que te foste embora sem avisar? – disse a desconfiada Bia.
- Porque... a minha mãe telefonou-me a pedir ajuda para encontrar umas roupas lá em casa. – mentiu Joana.
- E encontraste?
- O quê?
- A roupa! – disse Bia.
- Ah, a roupa... Sim.
Ainda desconfiada, Bia tentou perceber o que acontecera mas foi interrompida por Leonor que acabara de chegar.
- Olá, olá! – cumprimentou ela.
- Bom dia. – disseram Joana e Bia.
Leonor sentou-se e pediu um café.
- Então já há novidades? – perguntou ela.
Novidades? Teria ela adivinhado o que acontecera, pensava Joana.
- Eles querem que tu sejas a fotografa de uma sessão de autógrafos oficial! – exclamou Bia.
A sessão! Claro que eram essas novidades que Leonor queria saber. Como pôde ter-se esquecido! Joana acalmou-se.
- A sério? Eu? Mas eu só queria uma simples fotografia. – dizia Leonor.
- Sim, mas eles não podem tirar fotografias assim do nada. Então, para resolver o assunto e todos ficarem contentes, vai haver uma sessão fotográfica e tu vais ser a fotógrafa. Contente? – anunciou Bia.
- Se eu estou contente? Claro que sim! Isso é mais do que eu estava à espera. E, então, agora como é que é? – perguntou a entusiasmada Leonor.
- Bem, vocês têm que acertar as coisas todas por isso que tal hoje depois das aulas irmos lá ao hotel? Sempre vocês se entendiam. – sugeriu Bia.
- Ok, combinado. Vamos no meu carro. Venho buscar-vos depois das aulas.
Depois de pagarem a conta e saírem, Leonor foi para a faculdade e Bia e Joana para a escola.
O dia passou e de repente já se encontravam no portão à espera de Leonor. Esta chegou alguns minutos mais tarde. Deixando Nuno espantado por a irmã se ir embora com elas e não o levar a casa, partiram para o hotel.
À medida que a distância diminuía, o nervosismo de Joana aumentava. Quando por fim chegaram ao hotel, quase foi preciso chamá-la de volta à Terra para sair do carro. Fizeram o percurso habitual para o andar pretendido.
De uma porta que entretanto se tinha aberto, saíra Bill. Joana rapidamente se tinha escondido atrás de Leonor, mas ele já a tinha visto.
- Can I talk to you? (Posso falar contigo?) – disse Bill.
Leonor estava em choque por ver o verdadeiro Bill em carne e osso à sua frente por isso parou, fazendo com que Joana esbarrasse contra si. A muito custo, lá foi atrás dele para o quarto.
- We need to talk. (Precisamos de falar.) – anunciou Bill, já sentado numa cadeira.
Joana não disse uma palavra, não porque não pudesse, mas porque não queria.
- Well, yesterday... (Bem, ontem...) – começou ele.
O coração de Joana voltou a pular; ela reparou que isto acontecia muitas vezes nos últimos tempos.
- ...we should forget what happened yesterday. We shouldn’t get mad to each other, after all, now we’re friends, right? (...nós devíamos esquecer o que aconteceu ontem. Não nos devíamos zangar um com o outro, afinal de contas, agora somos amigos, certo?) – concluiu Bill.
Mas como...? Como é que ele podia estar a falar em não ficarem zangados! Como é que ele podia pensar em ficar zangados e esquecer-se do resto? O resto! Não tinha ele sentido? Os seus joelhos sentiram! Eles tinham estado tão perto. Para o que é que interessava agora a zanga se eles quase...
- Right? (Certo?) – continuava a perguntar Bill, à espera duma resposta.
- Right. (Certo.) – respondeu-lhe, mentindo, Joana.
Não estava nada certo, mas se ele não tinha tocado no assunto, ela não ia dar parte fraca e também não ia tocar. Ultimamente dera por si a mentir muitas vezes: ela que evitava dizer mentiras!
Foram-se encontrar com o resto da banda, que já falava animadamente com Leonor e Bia. O manager da banda, David Jost, também se encontrava presente e explicava a Leonor os termos e cláusulas daquela sessão. Depois de tratadas as burocracias e papeladas, juntaram-se todos para decidir o tema da sessão.
Bill, como sempre, ficou com a palavra. A sessão ia ter como tema a entrada numa cerimónia, com direito a limusinas, passadeira vermelha, holofotes e paparazzis. Nem foi preciso olhar para Joana para saber o que ela pensava; mas devido à prévia conversa que tivera, calou-se.

Passaram-se alguns dias e o dia da sessão fotográfica chegara. Nos dias anteriores, era ver fãs histéricas nos Fóruns e Blogs a tentar obter informações sobre esta repentina boa notícia.
Tinha ficado decidido que a sessão ia ser fotografada num teatro. O manager tratara de tudo: limusinas, passadeira vermelha, figurantes e acesso da rua fechado compunham o cenário para aquele dia.
Também a fotógrafa nos últimos dias tinha andam com os nervos em franja: comprara lentes novas, limpara as máquinas, preparava rolos especiais, libertava espaço nos cartões de memória, enfim, coisas que ela fazia repetidamente e sem cessar. Tinha tudo planeado: nada ia correr mal.
Naquele Sábado, fora buscar Bia e Joana muitas horas antes do combinado. Era visível em Leonor que estava nervosa, tanto que conduzia às curvas, fazendo com que as outras temessem pela vida. No local da sessão, fãs tentavam furar a segurança mas sem êxito. Leonor, Bia e Joana entraram para o teatro e começaram a montar as coisas. Tripés para aqui, rolos para lá, máquinas para isto, luzes para aquilo; tudo tinha que ser montado antes da chegada deles.
Eles, esses, chegaram por fim, com malas de roupas e maquilhadoras atrás.
- Hallo! (Olá) – cumprimentaram eles.
- Olá. Hello, sorry. I’m nervous with the whole thing. (Olá, desculpem. Estou nervosa com isto tudo.) – disse Leonor.
- Don’t be! Let’s start? (Não estejas! Vamos começar?) – perguntou Tom.
- We need to dress. (Precisamos de nos vestir.) – avisou logo Bill.
Joana e Bill nunca mais tinham tocado naquele assunto que nenhum quisera antes tocar. Ambos estavam felizes. Ou aparentavam estar...
- I think that you can use the dressing rooms. (Acho que vocês podem usar os camarins.) – anunciou Leonor.
Eles lá foram, com as malas e com o staff atrás. Leonor, Bia e Joana ficaram novamente sozinhas naquela sala cheia de cadeiras viradas para o palco.
- Tem calma. Vai correr tudo bem. – tentava tranquilizar Joana.
- Ela tem razão. Já reveste tudo. Máquinas, rolos, lentes, tripés... – dizia Bia!
- Estou cheia de sede! Preciso de ir beber água antes de eles voltarem. Até me esqueci de beber água. Onde é que eu tenho a cabeça... – disse Leonor.
Pediu a Joana e a Bia para dizerem aos outros que ela já voltava e foi à casa de banho beber água. Quando chegou à porta que dizia WC, entrou, sem bater, já que a porta estava apenas encostada.
Deu consigo diante de um rapaz em tronco nu, a vestir-se para a sessão. Leonor paralisou a olhar para cada centímetro daqueles braços, maravilhada. Ele tinha ficado sem reflexos: não esperava ali ninguém.
- I’m sorry! (Desculpa!) – disse Leonor.
- I’m sorry! (Desculpa!) – disse Georg.

To be continued...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

16. A CHUVA

Joana saiu dali o mais depressa possível. Não procurou Bia; não queria explicar porquê a razão de tanta pressa. Correu até à paragem e como o autocarro não vinha, foi a andar até à paragem seguinte, desprezando o facto de que ficava a alguns quilómetros de distância. Precisava de andar.
Andou. Sentia o vento gelado a bater-lhe na cara. Sabia-lhe bem: precisava de arejar as ideias. Desligou o telemóvel não fosse Bia, ou até mesmo Bill, ligar-lhe.
O que fora aquilo? Nem sabia por onde começar. Tinha as ideias confusas e doía-lhe o espírito. Decidiu começar pela pessoa que Bill era. Ou melhor, que não era. Como é que podia haver uma diferença tão grande entre o Bill seu ídolo e o Bill seu conhecido? Aquele Bill era tão extravagante e... Ela não sabia o resto: apenas o sentira. Mas o problema era mesmo esse: ela sentira-o.
Como é que ela estivera quase a ceder depois de ver a verdadeira pessoa por detrás do seu ídolo? Como é que estiveram tão próximos fisicamente e tão distantes psicologicamente?
Ela sabia que reprovava o comportamento de Bill em todos os sentidos: a sua extravagância, a diferença de personalidade, os exageros, o facto de fumar, as luzes da ribalta, o ser o centro do mundo, a vida sempre de um lado para o outro... Ela já sabia disto tudo.
Começara a chover mas Joana não apressou o passo. Quando chegou à paragem estava toda molhada. Pensava que devia ter ficado na paragem e não se ter vindo embora... De repente uma ideia assombrou-lhe a mente: será que Bill tinha ido atrás dela? Será que a tinha tentado seguir? Apeteceu-lhe voltar atrás no tempo e não se ir embora, ter ficado lá.
O autocarro tinha chegado e ela entrou. Deixando atrás e si um rasto de pegada molhadas, sentou-se melancolicamente no seu lugar. Só se voltou a mexer quando estava perto da sua casa. Saiu e, ainda à chuva, fez o resto do caminho a pé. Ao ver a filha chegar naquele estado, a mãe exclamou:
- Joana! O que te aconteceu milha filha? Onde andaste?
- Está tudo bem, fiquei a fazer um trabalho, depois perdi o autocarro e tive que vir a pé da escola. Começou a chover. – mentiu ela.
- Vai tirar essa roupa que ainda te constipas. – ordenou a mãe.
Preparava-se para entrar no seu quarto, quando a mãe a interrompeu:
- Ligaram cá para casa à tua procura.
Seu coração começou a bater mais rápido e mais fortemente. Será que tinha sido...
- A Bia ligou a perguntar por ti. – esclareceu a mãe.
O coração de Joana parou de bater tão rápido e tão fortemente. Como é que podia ter sido... Nem tinha o seu número de casa. Nem o estava a ver a ligar. Lá foi para o seu quarto, despindo-se e metendo-se na banheira.
Já tinhas os dois pés dentro da água quentinha quando se lembrou: e se alguém, apenas alguém, lhe quiser ligar? Tinha o telemóvel desligado. Quase ia escorregando, tal era a pressa; foi despida à sua mala e ligou o telemóvel.
Ficou à espera tanto tempo que começou a sentir frio nos pés. Rapidamente voltou para a casa de banho, com o telemóvel. De vez em quando no seu banho, olhava para o monitor pois parecia ter ouvido o aparelho tocar. Mas, infelizmente, era só imaginação.

O dia seguinte chegou devagar para Joana. Tinha-se levantado cedo: não conseguira dormir. Arranjou-se e, ainda estava o despertador a tocar para ela se levantar num dia normal, e já ia ela pela rua fora. Chegando demasiado cedo ao café, esperou horas e horas pela amiga. Bia lá chegou, estranhando vê-la ali.
- Anda a tornar-se um hábito ver-te aqui tão cedo. O que te aconteceu ontem? – perguntou ela.
- Ontem, que é que aconteceu ontem? – perguntou Joana, com o coração aos pulos.
- Não sei, diz-me tu. Tu foste-te embora sem mim. O que é que tu e o Bill fizeram no quarto? – perguntou novamente Bia.
- Ah... Eu e o Bill? Nada. – afirmou ela, corando violentamente.
- Mas depois tu foste-te embora e o Bill... – ia a dizer Bia, mas foi interrompida.
- E o Bill o quê? – perguntou Joana, sem conter o nervosismo.
- E o Bill não voltou à sala. Mas que se passa contigo? Por que é que estás tão nervosa? Aconteceu alguma coisa?

To be continued...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

15. A PROXIMIDADE

Ele continuava a posar e Joana continuava a olhar.
- You overshadow me. (Tu ofuscas-me) – disse, sarcasticamente, Joana.
Bill percebeu o comentário e parou. Um ambiente tenso instalou-se na sala. Bia estava agora a falar descontraidamente com Tom, Gustav e Georg.
- ...it’ll so funny! (...ia ser mesmo divertido.) – ouvia-se da conversa.
Nenhum deles reparou que Bill se tinha sentado no sofá, amuado. Joana, admirada e irritada por ele ter tido esta atitude, batia com o pé no chão, fervorosamente. Aquilo começava a chatear Bill.
- Can you stop? (Podes parar?) – pediu ele, com alguma brusquidão.
- No, superstar! (Não, superstar!) – respondeu-lhe ela no mesmo tom.
- Stop it! You’re annoying me. (Pára com isso! Estás a chatear-me.)
- Sorry, superstar. (Desculpa, superstar.) – disse ela de novo.
- Stop calling me that! (Pára de me chamar isso!) – gritou Bill.
Joana preparava-se para responder mas o grito de Bill havia despertado a curiosidade do grupo.
- Get a room! – disse Tom, na brincadeira com o irmão.
Bill, que estava farto do barulho, saiu para o seu quarto. Joana, não querendo que ele levasse a melhor, seguiu-o. Ele percebeu que ela vinha atrás dele.
- Are you stalking me? (Estás a perseguir-me?) – perguntou Bill, sem parar.
- I guess that you can say it now. (Acho que podes dizê-lo agora) – respondeu Joana, friamente.
Bill parou e olhou para ela. Fora má em dizer aquilo.
- I’ve already apologized! (Eu já pedi desculpa!) – disse ele.
Retomou o andar, não esperando pela resposta dela. Joana voltou a segui-lo. Entraram os dois no quarto de Bill.
- If I go to the bathroom, will you follow me? (Se eu for à casa de banho, vais-me seguir?) – perguntou ele.
- No. (Não.)
- Should I be worried about you stabbing me on the back? (Deveria preocupar-me em me apunhalares pelas costas?) – perguntou ele de novo.
- No. (Não.)
- Ok.
Descontraidamente, Bill deitou-se na cama e ligou a televisão. Joana ficou a enfeitar o quarto, sendo ignorada por aquele rapaz deitado na cama.
- What’s your problem? (Qual é o teu problema?) – perguntou ela, ao fim de uns segundos.
- My problem? You’re the one that followed me. (O meu problema? Tu é que me seguiste.) – respondeu Bill.
- Yeah! You always have to be the star, don’t you? (Tu tens de ser sempre a estrela, não tens?) – retorquiu Joana.
- I am a star, remember? The whole world knows me. (Eu sou uma estrela, lembras-te? Todo o mundo me conhece.) – disse Bill, ainda deitado na cama e fingindo ver televisão.
- Sorry Mr.-I-am-too-good-to-be-true! (Desculpe Sr.-eu-sou-bom-de-mais-para-ser-verdade!)
Bill levantara-se da cama, frustrado. Deu uns passos, ficando a escassos metros de Joana.
- What? (O quê?) – perguntou ele, espantado.
- You heard. Everything’s always about you. Everyone likes you, but I wonder if they would like the real Bill? (Tu ouviste. É sempre tudo sobre ti. Todos gostam de ti, mas eu pergunto-me se gostariam do verdadeiro Bill?) – perguntou retoricamente Joana.
- What are you saying? (O que estás a dizer?) – disse ele, avançando uns passos, ficando cada vez mais perto dela.
- I’m saying that you need to have the spotlights on you. The Bill that’s on my Cd cover isn’t the same in front of me! (Estou a dizer que tu precisas de ter sempre as luzes viradas para ti. O Bill que está na capa do meu Cd não é o mesmo que está à minha frente!) – respondeu-lhe Joana, parando sem fôlego.
Bill dera mais uns passos. Não se tinha apercebido que estava tão perto dela. Tão perto que as suas caras quase se tocavam. Tão perto que Bill sentia a respiração ofegante de Joana. Esta, por sua vez, conseguia ver detalhadamente cada centímetro da face de Bill. Ele era bem mais alto, fazendo-a sentir-se insegura e fragilizada. Os seus joelhos tremiam, quase a ceder. Ele tinha realmente uns olhos bonitos. Um nariz bonito. Uma boca bonita. Parou na boca. Também Bill tinha parado na boca, mas desta vez na que está à sua frente.
Fitaram-se, tão próximos durante segundos, minutos, anos, séculos; não sabiam quanto tempo passara. Joana, sentindo os seus joelhos a ceder definitivamente, disse:
- I... should...go. Now. (Eu... tenho... que ir. Agora.)
Afastou-se de Bill, quebrando o olhar. Deu meia volta e saiu.

To be continued...

terça-feira, 8 de abril de 2008

14. A ESTRELA

Bia virara-se espantada para Leonor.
- Desculpa?
- Tenho de ir. – disse a irmã de Nuno, vendo que falara demais.
Bia e Joana ficaram sós no café, fitando-se mutuamente. Espantadas com o que a amiga acabara de dizer, não conseguiam proferir uma palavra. Pelo menos Bia não conseguia.
- Diz-me o que é que o Nuno te pediu na casa de banho? – perguntou Joana.
- Claro! Agora faz sentido. Faz todo o sentido. – dizia Bia, sem ouvir o que Joana lhe perguntara.
- O que é que faz sentido?
- Nada. Vamos, temos que ir. – disse Bia, voltando à Terra.
Apanhando o autocarro e saindo na ultimamente tão conhecida paragem, elas entraram no hotel. Já não era preciso avisar que queriam subir: o recepcionista já as conhecia. Chegadas ao corredor, que recentemente haviam descoberto que estava alugado só para eles, procuraram na sala pela banda. Eles estavam lá, todos juntos.
- Hello. (Olá.) – disseram Joana e Bia.
- Hallo! (Olá) – retribuíram eles.
Sentando-se nas almofadas espalhadas pelo chão, nenhuma das duas sabia por onde começar. Tom percebeu.
- What’s going on? (Que se passa?)
Joana, vendo que Bia continuava chocada pela revelação sobre Nuno, viu-se obrigada a falar.
- I wanted to talk to you about a friend of ours who wants to be a photographer. She needs to hand in a photo work and doesn't know what to do. She thought of you because you have so many fans. (Eu queria-vos falar sobre uma amiga nossa que quer ser fotografa. Ela precisa de entregar um trabalho fotográfico e não sabe o que fotografar. Ela pensou em vocês porque têm montes de fãs.)
Bill, Tom, Gustav e Georg olharam uns para os outros. O que diriam as fãs se soubessem que andavam a tirar-lhes fotografias a pedido? Iriam todas querer claro.
- Well... I don’t know. If the fans found out they probably would get mad at us. (Bem... Eu não sei. Se as fãs descobrissem iriam provavelmente ficar chateadas connosco.) – disse Gustav.
- Yeah, but I thought you weren't doing anything in Portugal, maybe you could take some pictures. (Eu pensei que se vocês estão em Portugal sem fazer nada, talvez pudessem tirar umas fotografias.) – insistiu Joana.
- And we can, but just not like that. (E nós podemos, mas não dessa forma.) – disse Georg.
Joana desanimava um pouco: ia-lhe custar dar uma resposta negativa a Leonor. Bill que se mantinha em silêncio, deu um pulo repentino, assustando Joana, acordando Bia e deitando ao chão o copo que estava ao seu colo.
- I’ve got it! (Já sei!) – disse ele.
Todos o olharam, espantados. Tom ria-se, conhecendo o irmão como conhecia. Georg e Gustav já tinham ignorado o sucedido. Apenas Joana e Bia o fitavam. Joana tinha começado a perceber que havia em Bill um lado mais estridente.
- What are you thinking about? (No que é que estás a pensar?) – perguntou Bia.
- Well, we can’t take some little photos, so let’s do an official photo shooting. (Bem, nos não podemos tirar umas simples fotos, por isso vamos fazer uma sessão de fotos oficial.) – disse Bill, sorridente.
Dito isto, começou a fazer poses como se estivesse a ser fotografado. Os restantes membros riam-se, juntamente com Bia. Joana era a única perplexa.
Aquele não era o Bill que passava para o lado de fora. Este Bill era excêntrico e egocêntrico. Era demasiado espalhafatoso. Este Bill era uma estrela. Uma estrela exageradamente brilhante.

To be continued...

domingo, 6 de abril de 2008

13. A FOTÓGRAFA

Os dias seguintes passaram como os corredores numa corrida. Sem se fazer notar, o tempo ia solidificando uma amizade recentemente formada. Joana e Bill tinham construído a relação de novo e isso trouxera-lhes bastantes proveitos.
Numa tentativa de se redimir pelo Meet and Greet perdido, Bill organizou um encontro entre a banda e Joana e Bia. Tiveram uma hora para fazerem perguntas e tirarem fotografias. Escusado será dizer que essa hora foi em muito prolongada. Para além de Bill, Joana e Bia encontraram em Tom, Gustav e Georg amigos, mas mais do que isso pessoas como outras quaisquer. Foi assim que Bia ajudou Tom a convidar uma empregada com quem ele tinha engraçado, para lhe “arrumar” o quarto.
Impossibilitados de sair de Portugal, a banda passava a maior parte do tempo em sessões de autógrafos, de fotografias, promoções de discos, etc. O pouco tempo que sobrava usavam-no para darem uma volta, sempre de carrinha, para não serem atacados pelas fãs. Apesar de já terem estado em Lisboa, eles queriam voltar a passear como pessoas normais; Bia, sempre com ideias mirabolantes, fez-lhes uma visita turísticas guiada pela cidade através do Google Earth.
Mas não era só o grupo que tinha a vida atarefada: avistavam-se tempos de testes e as amigas mal tinham tempo para dormir. Agora que era necessário terem as matérias e resumos em dia, tinham que unir esforços. Foi assim que pediram ajuda à irmã do Nuno, conhecida de Bia dos tempos em que era popular. As boas notas com que Leonor tinha entrado na universidade deixavam para trás a fama de grande aluna. Aproveitando uma vez em que ela fora deixar Nuno à escola, Bia saudou-a. Simpática como sempre, Leonor retribuiu e combinou logo irem tomar um café. Pois bem, esse café tinha sido tomado bem como outros tantos. Joana, que pouco sabia de Leonor, ficou a conhecê-la melhor.
Leonor tinha 20 anos e andara a estudar lá na escola quando elas andavam no oitavo ano. Era alta, morena, magrinha e simpática. Bia via apenas nela o defeito de ser irmã do Nuno. Felizmente tinham personalidades bem diferentes. Estudante na universidade, Leonor tencionava seguir a carreira de fotógrafa. Nos últimos dias haviam-se tornados tão amigas que elas até lhe contaram da recente amizade com os Tokio Hotel.
E assim se tinha passado essa semana, com o Bill sem passaporte e com elas a voltarem a conviver com Leonor.
Estavam na aula quando o telemóvel de Bia vibrou no bolso. Leonor estava-lhe a ligar mas Bia desligara a chamada. Esperou pelo intervalo para falar. Ligou-lhe. Segundos depois de desligar, falou:
- Era a Leonor. Ela está a pedir para irmos ter com ela ao café. Não disse o que queria.
- Pode ser, as aulas também já acabaram. – respondeu-lhe Joana.
Juntas, foram ter com a amiga. Está já as esperava, sempre acompanhada da sua mala com máquina fotográfica.
- Sentem-se! Sentem-se. – disse ela.
Depois de pedidos os cafés e de trocarem as primeiras impressões, Leonor foi directa ao assunto, característica que Joana apreciava.
- Bem, vocês sabem que eu estou a tirar um curso de fotógrafa profissional e agora tenho que apresentar um trabalho fotográfico. Eu já pensei em fotografar tudo e mais alguma coisa e nada é suficientemente especial. Então eu lembrei-me: do que é que está na moda? E adivinhem: o resultado foi os Tokio Hotel. Já andei a sondar algumas pessoas na escola e todas dizem que uma fotografia deles vale imenso.
- E tu querias que nós falássemos com eles para tu os poderes fotografar? – perguntou Bia.
- Se pudesse ser, eu agradecia. – disse Leonor.
- É assim, nós podemos falar com eles, para ver o que eles dizem. Claro que o Bill adora ter sempre as atenções voltadas para ele, mas temos que falar com o resto. Mas talvez tenhas hipóteses. – disse, desta vez, Joana.
- Sabes que isso era excelente. Até podia vir a ser uma fotógrafa famosa.
Estavam a rir-se todas, quando Nuno entrou. Ninguém o vira até ele se aproximar da mesa.
- Reunião de pitinhas? – disse ele, virando-se para a irmã. – Tu devias estar à minha espera. Tive que andar à tua procura. Andas a ser infectada pelo d«os cabelinhos espetados e pelas trancinhas?
- Desculpe lá se a minha vida está a incomodar as tuas horas de ires para a internet veres tipas nuas. – disse Leonor, fazendo calar Nuno.
Este, vendo que era melhor não provocar a irmã, virou-se para Bia.
- E tu? Ainda continuas lá com os teus fofinhos?
- Sim, são bem mais simpáticos que tu, parvo!
- Espero por ti no carro. – disse ele, com cara de poucos amigos, para a irmã.
Não estava à espera daquela resposta, por isso deu meia volta e saiu. Leonor, que ainda gozada de um ar triunfante, disse para Bia:
- Não ligues, aquilo são ciúmes. Ele gosta de ti.

To be continued...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

12. AS NUVENS

Joana olhou para Bill como que parva por ele não perceber.
- You may, even, do the right things... But right now you're doing everything wrong (Tu até podes fazer as coisas certas... Mas agora estás a fazer tudo mal.) – disse Joana.
Deixando Bill especado no mesmo sítio, ela rodou sobre si própria e foi-se embora. Apanhou o autocarro e foi para casa.

A semana seguinte passara. Na escola, Bia percebera logo que algo andava mal. Joana, nos primeiros dias, andava carrancuda e a resmungar com tudo. Lembrava-se até de quando ela questionou a resposta de um professor. Mas essa fase depois passara: dera lugar à tristeza e à indiferença. Para Joana, já nada importava; não queria saber se fazia sol ou chuva, se o mundo acabava hoje ou amanhã.
Os dias no hotel também não haviam sido muito animadores: Bill continuava sem o passaporte e já perdera toda a esperança de o encontrar. A banda estava presa em Portugal porque sem vocalista não iam a lado nenhum.
Ultimamente, Bill também tinha pensado muito nos acontecimentos de há uma semana atrás. Joana, como ele sabia que ela se chamava, era a primeira fã que lhe havia dito que estava desiludida com ele. Isso deixava-o triste. Claro que sabia que era só mais uma fã, mas para um ídolo, nunca se gosta de perder seguidores. Por sua vez, Bill não queria dar o braço a torcer e evitava ligar para o número dela. Deparara-se muitas noites, na cama, com o telemóvel na mão, a olhar para o número, a decidir se ligava ou não.
No entanto, este ritual não era muito diferente no quarto de Joana. Muitas vezes, chegava a casa e escrevia uma mensagem, escolhia o número de Bill mas não era capaz de carregar no OK. Já tinha tido tempo suficiente para medir e pesar tudo o que se passara, o vídeo, a acusação, enfim, tudo. Sabia que podia ter exagerado mas que também teve razão. E foi esse orgulho que a impediu de carregar na tecla do telemóvel.
Quem já andava cansada de assistir da bancada a este espectáculo, era Bia. Farta de receber mensagens de Bill a perguntar se estava tudo bem, Bia chegou mesmo a dizer-lhe que se ele quisesse saber notícias de Joana, era só enviar-lhe uma mensagem directamente. Também a amiga apalpava terreno subtilmente. Todos os dias, chegada ao café, Joana perguntava:
- Então, alguma notícia da banda?
E por banda, Bia sabia que ela queria dizer Bill. Decidida a por um ponto final nesta história toda, enviou uma mensagem a Bill a dizer que Joana tinha dito que queria falar com ele e que se encontravam no hotel nessa tarde. Também avisou Joana que Bill queria falar com ela e marcou para a mesma altura. Claro que nenhum dos dois tinha conhecimento do verdadeiro plano.
Naquele dia de sol com nuvens, Joana partiu para o hotel sozinha, pensando que Bill ia dizer. Também este tinha descido e já estava há uns minutos à espera, impacientemente. Foi com muita alegria contida que viu Joana chegar.
- Hallo. (Olá.) – disse ele, cumprimentando.
- Hello. (Olá.) – retornou ela.
- I think that’s better if we talk in my room. (Eu acho que é melhor se falarmos no meu quarto) – anunciou Bill.
Concordando instintivamente com ele, subiram os dois e entraram mais uma vez, naquela tão conhecida divisão. O silêncio inundou o quarto, deixando os dois constrangidos. Por se sentir mais à vontade e para quebrar o gelo, Bill disse:
- So, you can start. (Então, podes começar.)
- Start? Start what? (Começar? Começar o quê?) – perguntou ela, estranha.
- Whatever you wanted to say. (O que quer que querias dizer.) – afirmou ele.
- Me? You were the one who said you wanted to talk to me. (Eu? Tu é que disseste que querias falar comigo.) – disse Joana.
- No, I didn’t! Bia told me you had told her that you wanted to talk to me. (Não, não disse! A Bia disse-me que tu lhe disseste que tu querias falar comigo.)
Olhando um para o outro, perceberam o plano de Bia. Perceberam também que ambos queriam falar um com o outro mas que ninguém tinha tido a coragem de dar o primeiro passo. Aproveitando a oportunidade, disseram os dois, ao mesmo tempo:
- But I need to talk to you. (Mas eu preciso de falar contigo.)
Rindo-se do facto de terem falado no mesmo instante, descontraíram e libertaram a tensão. Foi Joana quem começou.
- So, I know I may have overreacted, but I had other reasons. (Então, eu sei que posso ter exagerado um bocado, mas eu tinha outras razões.) – disse ela.
Vendo que era este o momento para dizer tudo o que estava entalado, ele também se redimiu.
- I know I shouldn't have acused you but I was desperate. (Eu sei que não te devia ter acusado mas eu estava desesperado.)
- Yeah, now I know. Let’s put all behind us and refresh? (Pois, eu sei. Vamos por tudo para trás e começar de novo?) – perguntou ela.
- Yes, please. I don’t want to lose a fan. (Sim, por favor. Eu não quero perder uma fã.) – pediu ele.
Esquecendo tudo o que se passou e precisando de começar tudo de novo, Joana estendeu a mão em forma de cumprimento e disse:
- Hello, nice to meet you. I’m Joana. (Olá, prazer em conhecer-te. Eu sou a Joana.)
- Hello, nice to meet you too. I’m Bill. (Olá, prazer em conhecer-te também. Eu sou o Bill.)
E, ignorando a mão estendia à sua frente, Bill abraçou-a.
E naquele dia de sol com nuvens, as nuvens desapareceram.

To be continued...

terça-feira, 1 de abril de 2008

11. A REACÇÃO

De um lado para o outro, Joana lá ia gastando a sola dos sapatos e o tapete do quarto. Fora apanhada de surpresa quando viu o vídeo. Não esperava que Bill fizesse uma declaração pública de pedido de desculpa, ainda por cima, depois de ela ter feito a cena que fez.
Ela não sabia o que fazer; não sabia como o havia de matar. Como é que ele se atrevera a proferir tais palavras descritivas do incidente num vídeo para todo o mundo? Ele queria o quê, que as fãs agora a atacassem com perguntas do tipo: como foi estar com ele? Se havia alguma coisa que Joana neste momento não queria, era ser o centro das atenções.
Tinha passado tanto tempo a pensar naquele assunto que, quando decidiu o que fazer, já era tarde e não podia ligar a Bia. Não teve outro remédio que não esperar pela manhã seguinte.

Ainda o despertador não tinha tocado e Joana já estava a pé. Desta vez, não foi preciso esperar pelos primeiros raios de sol para se levantar; já estava acordada desde cedo pois a raiva consumira-lhe o sono. Pegando furiosamente nas suas coisas, saiu de casa e foi para o café habitual.
Chegada lá, constatou que aquela era uma das raras vezes que chegava antes da amiga. Bia, por sua vez, chegou alguns minutos mais tarde, espantada por ser esperada e não ficar à espera.
- Tão cedo por aqui? – perguntou ela.
- Eu preciso, melhor, eu quero o número do Bill. – atirou-lhe Joana, de repente.
Bia achou estranho e então lembrou-se do vídeo da véspera.
- Gostaste do vídeo? Eu sabia! Ele foi tão simpático e querido até. Fogo, foi preciso ter coragem para dizer aquilo. Vais agradecer-lhe? – perguntou Bia, sem antes perceber com que humor estava Joana.
- Agradecer? Eu? Ele disse para o mundo todo aquilo que disse e agora tu esperas que eu lhe vá agradecer? É suposto eu chegar ao pé dele e dizer obrigada por ter dito a todas as pessoas que sabem que fui eu a acusada que estive com ele, para elas me encherem e bombardearem de perguntas?
Joana havia dito isto tão de seguida e com sarcasmo que Bia não apanhou tudo.
- Espera, mas tu estas chateada?
- Chateada? Não! Estou pior que estragada. Ele não devia ter feito aquilo!
- Tu é que disseste aquilo de ele não ser o que tu esperavas e ele mesmo assim voltou a pedir desculpas, desta vez publicamente. Explica lá como é que tu acabas chateada com ele? Não devias ser tu a estar a pedir-lhe desculpa por teres dito o que disseste?
Um pensamento, que ainda não se tinha abatido sobre a mente de Joana, invadiu-a. Mas como é que ela ainda não pensara nisto! Aquilo era tudo um esquema de Bill para ela lhe ir pedir desculpa! Ele queria que ela estivesse na sua mão!
A fúria que se apoderava de Joana era visível à distância. Bia, que não sabia o que fazer, viu com grande entusiasmo que estava na hora de entrarem.
- Está na hora. Vamos?
- Dá-me o número dele. – disse Joana, imperativamente.
- Para quê? – perguntou, com medo, Bia.
- Para falar com ele. Dás-me ou não? – ultimou a amiga.
Tirando o telemóvel do bolso, Bia deu o número a Joana, com algumas renitências.
- Vê lá o que fazes. Lembra-te que eu também estava contigo quando fomos acusadas, por isso o pedido de desculpa também foi para mim e eu não estou a fazer o drama que tu estás.
Apesar de não parecer, Joana ouvira o aviso e dera-lhe bastante importância.
As aulas foram lentas e passaram lentamente. Por isso, foi com grande êxtase que Joana viu chegar a hora de saída. Num acto único da sua vida estudantil, fora ela que avisara o professor que estava na hora. Não deu tempo a Bia de dizer mais nada; pegou na mochila e apanhou o autocarro. Naquele dia, os curtos minutos que esperou pelo veículo pareceram-lhe largos.
Chegada ao hotel, tirou o telemóvel e escreveu uma mensagem.
We need to talk. I’m down here, tell the receptionist to let me up. (Precisamos de falar. Estou cá em baixo, diz ao recepcionista para me deixar subir.)
Minutos depois, quando achou que já tinha tido tempo de avisar, entrou. Pediu para falar com o “Sr. Kaulitz” e subiu.
Bill esperava-a, desta vez de t-shirt, sentado na cama. Joana entrou, com cara de poucos amigos. No entanto, apesar da raiva, foi Bill quem falou.
- What’s up? (Que se passa?)
- What’s up? I’ll tell you what’s up. You told the whole world about the passport story (O que se passa? Eu digo-te o que se passa. Tu contaste ao mundo inteiro a história do passaporte.). – disse ela.
- Yeah, I need whoever stole it from me to give it back. (Eu preciso que quem quer que mo tenha roubado mo devolva.)
- Oh you need? But you didn’t need to apologize in public! (Oh precisas? Mas não tinhas de pedir desculpa em público!) – voltou Joana a investir.
- Well, I guess that there’s nothing I do that’s fine for you, is it? (Bem, eu acho que não há nada que eu faça que esteja certo para ti, pois não?) – perguntou Bill.

To be continued...