quarta-feira, 2 de julho de 2008

43. A DISCUSSÃO

Sentada nos degraus da escada de sua casa, Joana pensava. Nenhum deles tinha mostrado um pequeno rasto de que nutria sentimentos por ela e agora, de repente, os dois tinham decidido tomar posições no mesmo dia, um a seguir ao outro?
Foi quando a mãe foi pôr o lixo à rua e a viu, que ela entrou para casa. Como desculpa de estar ali sentada, disse que tinha acabado de chegar e estava cansada e se tinha sentado para repousar. A verdade é que ela até estava cansada mas não era fisicamente; Joana estava cansada psicologicamente.
- Vai tomar banho que daqui a pouco o jantar está pronto. – ordenou a mãe.
Como se o seu corpo se mexesse sozinho, colocou um pé à frente do outro e lá foi andando. Mergulhou o corpo em água quente e, pela primeira vez naquele dia, sentiu-se reconfortada. Fechou os olhos e deslizou para debaixo de água. Apeteceu-lhe ficar ali; não apenas naquele momento, mas sempre, com a água a aquecer-lhe o corpo. Quando já não tinha fôlego, regressou. Continuava sem saber o que fazer em relação ao que se tinha passado.

- Was ist los? (Que se passa?) – perguntou Tom ao ver o irmão cabisbaixo.
Georg e Gustav desviaram a atenção da PlayStation e fitaram-no também. Agora que reparavam, Bill estava muito calado. Não muito calado para uma pessoa normal mas estava muito calado para ele.
- Nichts... (Nada...) – respondeu ele.
Não estava com muita paciência para perguntas por isso decidiu cortar o mal pela raiz e recolher ao seu quarto. Levantou-se e passou por cima dos cabos dos comandos para poder sair. Tom não o seguiu mas percebeu que alguma coisa não estava bem.
- Ich gewann! (Eu ganhei!) – gritou Gustav.
- Nein! Ich suchte in Bill. (Não! Eu estava a olhar para o Bill.) – protestou Georg.
- Bekümmert. Jetzt wissen wir, ist die beste. (Desculpa. Agora sabemos quem é o melhor.) – vangloriou-se Gustav, rindo-se.
Bill fechou a porta e não ouviu mais a conversa. Percorreu melancolicamente a distância que separava a sala comum do seu quarto, sempre olhando para o chão. Rodou a maçaneta e abriu a porta. Fechou-a atrás de si e começou a despir-se. Foi à casa de banho, já em tronco nu e ligou a água da banheira. A descoberto estava meia estrela, sendo a outra metade tapada pelas calças que ele agora despia. Meteu um pé de cada vez dentro de água e segurou-se ao chuveiro para não cair. Sentou-se e ficou ali, pensando que aquela água era mais quente que a da piscina e que a companhia dos azulejos da parede era mais fria que a de Joana.
Bill sabia o quão complicado era; o quão difícil e praticamente impossível era envolver-se emocionalmente com alguém. Uma relação era dispendiosa e queria atenção e manutenção. Ele não sabia até que ponto estava disposto a ir, mas sabia que com Joana se sentia bem.

O dia seguinte chegou, tímido para um dia de Primavera. Joana tinha adormecido tarde pois os seus pensamentos não lhe haviam abandonado a cabeça a ponto de a deixar dormir. Arranjava-se agora para ir para a escola mas tentava demorar o máximo de tempo em tudo. A mãe teve inclusive de a vir apressar pois iria chegar tarde. Lá saiu de casa, caminhando vagarosamente; decidiu ir a pé para demorar mais um pouco mas quando chegou à escola ainda não tinha tocado. Naquele dia, não foi ao café. Sabia quem lá estava e não queria encarar os factos. Porém tinha-se enganado. Naquele preciso dia, Luís não tinha ido ao café e estava sentado no muro da escola. Por isso, quando Joana pôde reparar nele, já era tarde de mais: ele já tinha reparado nela. Tentou evitá-lo mas ele correu para ela.
- Bom dia. – disse ele, sem deixar a voz tremer. Estava decidido.
- Bom dia. A Bia? – perguntou ela, desvalorizando aquilo que ela não queria valorizar.
- Acho que está com o Nuno. Temos de falar. – informou Luís.
- Eu preferia que deixássemos as coisas assim. – respondeu-lhe.
- Assim? Porra Joana, não vais começar tudo outra vez. Tu já sabes o que aconteceu da última vez, ele não mudou. Ele pode ter pintado o cabelo, mudado a cor das unhas, crescido alguns centímetros, mas continua a ser a pessoa pela qual tu quase morreste. – atirou ele, friamente.
Joana fez menção de se ir embora mas ele agarrou-a pelo braço.
- Custa-te a ouvir as verdades? – perguntou Luís.
- Que verdades? Tu achas que sabes tudo mas não sabes nada. Não foste tu que tiveste lá. Não sabes o que ele mudou. Tu não sabes o que se passa! – gritou ela.
Naquele momento, qualquer transeunte ou aluno que por ali passasse, teria de se concentrar para não ouvir a conversa.
- Não sei? Achas que não sei que tens mentido a tudo e a todos nestes últimos dias para estares com ele? Achas sinceramente que eu não sei? Pareço assim tão estúpido? Achas que eu não sei de onde é que tu vieste ontem?
Joana não encarou Luís desta vez. Sabia que ele agora tinha razão, mas só agora, pensava ela.
- E depois? Que é que tu tens a ver com a minha vida? – disse ela, ausente de sentimentos.
- Eu? Eu fui apenas a pessoa que te ajudou enquanto te ias matando. Eu fui a pessoa que estive ao teu lado.
- Isso não te dá nenhum direito.
Dito isto, Joana virou as costas e faltou às aulas. Sabia que Bia iria tomar o partido de Luís e não lhe apetecia ouvir mais uma vez aquele sermão.
Primeiro, caminhou sem rumo, depois percebeu que só havia um sítio onde queria estar. Correu até à paragem. Sabia que devia estar a passar um autocarro agora.

To be continued...

3 comentários:

Anónimo disse...

omg...fiquei sem palavras...

continua rápidooooo

Anónimo disse...

Aleluia!
Pensei q as escritoras tinham morrido ou ido para outro país e tivessem mais q fzr -_-'
Nem acredito q o Luis foi baixo ao ponto de lhe atirar aqilo à cara :@
nunca pensei q fosse capaz, não acreditei qnd li
continuem beijinho*

Anónimo disse...

Nao tenho palavras


adrei este capituloo




Beijinhos < 33