quarta-feira, 16 de julho de 2008

54. O BANHO

Luís esperava sentado no muro a pelo menos dez metros da casa dela. Não queria que o visse e acontecesse o mesmo da última vez. Queria apenas certificar-se de que ela bem. E já que ela não lhe falava, era obrigado a vê-las às escondidas.
Já fazia algum tempo que estava lá. Mal Leonor ligara a avisar Bia, ele correra e plantara-se ali. Mas era crucial que ela não o visse. Se Joana ao menos soubesse como ele gostava dela...
Os faróis ao longe começavam a tomar contornos. O carro estava cada vez mais perto e a andar cada vez mais devagar. Luís reconheceu a matrícula do carro de Leonor; aproximou-se o mais que pôde e escondeu-se atrás duma árvore. Apesar do breu da noite, conseguiu distinguir dois vultos dentro do automóvel. Tinha de ser ela. E era. Viu-a sair, com a cabeça baixa. Uma onde de raiva e ódio percorreu o seu corpo: como é que ele a podia deixar duas vezes?
- Jô! Espera! – gritou Leonor de dentro do carro.
Joana já tinha saído e prepara-se para ir para casa.
- Sim? – disse, voltando atrás e fitando a amiga através da janela aberta.
- Ficas bem? – perguntou Leonor preocupada.
- Sim, claro... Vai andando. Já é de noite, tem cuidado. – aconselhou ela.
Leonor despediu-se e foi-se embora. Luís pôde ver Joana à espera que o carro da amiga desse a curva para entrar em casa. Tinha começado a subir os degraus quando se deteve e olhou para o lado. Para o lado e para o preciso lugar onde Luís estava. Ele, mal a tinha visto virar a cara, escondeu-se. Depois de alguns segundos a observar a rua aparentemente deserta, Joana acabou por se conformar que não havia ali ninguém e entrou em casa.
Luís não ousou espreitar antes de ouvir a porta bater. Tinha o coração a cem à hora e tudo o que menos queria era piorar as coisas com ela. Acalmou-se durante cinco minutos e depois foi-se embora.

- Bom dia. A Joana está? – perguntou Bia, quando a mãe dela lhe abriu a porta.
- Bom dia, querida. Está sim. Está encafuada no quarto desde ontem. Eu vi na televisão que eles se foram embora. Ela não me disse nada. Beatriz, eu juro que se voltar a acontecer, eu processo aquela banda! – ameaçou a mãe de Joana.
- Tenha calma, eu vou lá falar com ela. Posso? – pediu, antes de entrar.
- Claro, desculpa, entra. Está à vontade.
Bia entrou e agradeceu. Depois de dar as saudações ao pai de Joana, foi ao quarto da amiga. Antes de bater, respirou fundo e preparou-se para o que vinha aí.
- Jô? Posso?
Não obteve resposta. Talvez estivesse a dormir e não a ouvisse. Ia entrar e esperar. Assim fez. Mal abriu a porta, verificou que a amiga não tinha dormido. Tinha as olheiras caídas e a roupa do dia anterior ainda vestida.
- Joana! – suspirou Bia, apressando-se a abraçá-la.
Ela desatou a chorar, embalada pelo abraço de Bia. Era reconfortante estar ali mas ao mesmo tempo era melancólico.
- Tem calma. Olha, vamos tirar essa roupa e tomar banho, ok? – sugeriu Bia, ao ver que tinha entre braços uma boneca, inanimada e sem vida, que precisava de cuidados.
Joana não fez obstruções. Deixou-se guiar por ela. Bia ajudou-a a despir a roupa, ligou a água e enfiou-a na banheira. Como estava a ampará-la, não reparou na tatuagem da barriga. Depois de a mergulhar na espuma da banheira, a tatuagem ficou oculta, sem ainda se dar a conhecer. Deixou-a estar naquela água quente durante uns minutos.
- Vá toma. – disse estendendo uma esponja com gel de banho.
Mas Joana não a ouviu; Bia duvidou até que a tivesse visto. Com o olhar fixo e distante, Joana estava absorta pelos pensamentos. Ele tinha-se ido embora.
Ao ver que ela não reagia, Bia não teve outro remédio que ajudá-la a tomar banho.
- Vá, levanta-te. – ordenou.
O subconsciente da outra parecia responder-lhe porque ela assim fez.
- Isso, agora vira-te de frente. – pediu.
Preparava-se para lhe esfregar os braços quando reparou. Deixou cair a esponja no chão e soltou um breve guincho. Como boa fã que era, reconheceu imediatamente o desenho igual ao de Bill e percebeu que era isso que ela escondia.
- Tu fizeste uma... tatuagem igual à dele? – perguntou, ainda chocada, sentado-se no tampo da sanita.
Mas Joana desta vez já a ouvia. Tinha despertado no momento em que ela lhe pediu para se virar. Sabia que não podia esconder mais a tatuagem e assumiu-a. Mas, quando ela lhe fez aquela pergunta, não foi capaz de responder e mergulhou novamente no abismo. Apenas lágrimas caíam dos seus olhos inchados.
Bia reagiu imediatamente. Não teve tempo para pensar e levantou-se para a agarrar. Segurou-a firmemente enquanto dizia:
- Está tudo bem.
Mas ela sabia que não estava. Uma tatuagem? Ela tinha feito uma tatuagem igual à dele! Estavam sempre ligados, agora. Retomou o seu trabalho de lavá-la mas evitou veemente a zona do desenho preto e branco.
Depois de saírem da casa de banho, embrulhou-a no lençol e sentou-a na cama. Joana obedecia a tudo. Escolheu uma roupa da gaveta do guarda-roupa e vestiu-lha. Apesar de ser de manhã e do dia ainda estar a começar, deitou-a na cama e foi fechar a janela. Quando regressou para junto dela, tacteando as coisas para não cair, ouviu, pela primeira vez naquele dia, as palavras sumidas na voz de Joana.
- Fica aqui comigo. – pediu.
Bia deitou-se na cama ao seu lado, colocando um braço nos ombros dela, reconfortando-a. E ficou ali, com ela.

To be continued...

4 comentários:

Elisabete disse...

Caras leitoras,

Caso estejam interessadas em ler imediatamente os capítulos após saírem, deixem o vosso e-mail que o Blog enviar-vos-á uma mensagem a avisar quando eu publicar.

(Descobri isto agora.)

Obrigada,
Elisabete.

Elisabete disse...

Margarida: Adicionada
Filipa: Adicionada

Anónimo disse...

Isto esta completamente Genial

Anónimo disse...

Eu estou totalmente interessada O.O «3
Sabes que AMO mesmo a Fic .
Seja qual for o desenlace não me irei desiludir , posso é não esperar :s
Beijinho *
Fantástica